domingo, 25 de setembro de 2011

A horta do seu Alcindo

Nasci na Vila Progresso, aqui mesmo em Jundiaí e foi ali, que passei minha infância, adolescência e juventude. Mas a casa, o terreno, a rua, estão vivos em minha memória, mesmo nã sei quantas décadas depois, apesar de tudo aquilo ter se transformado num galpão não sei de quê. Foi ali que eu via, todo dia, seu Alcindo cuidando de sua horta, de seus canteiros, de seu pomar e até do jardim, sem contar do vinho de laranja que ele preparava com carinho num barracão que a gente chamava de rancho, no quintal. E na horta de seu Alcindo tinha de tudo que se possa imaginar: almeirão de primeiro corte, alface lisa, alface crespa, couve, cebolinha, salsinha, cenoura, rabanete e até morango. E todos os dias, depois que chegava do trabalho, seu Alcindo trocava de roupa e lá ia para o quintal cuidar da horta, aguar as plantas e conferir, um a um, todos os canteiros. Sempre que tinha um novo canteiro, seu Alcindo se preocupava com os pássaros que podiam vir comer as sementes ou as folhas. Por isso, cercava o canteiro com linha, cruzava por cima das sementes, aguava tudo com carinho e depois sentava junto à porta da cozinha para fumar seu cigarro, saborear um gole de cachaça e apreciar as folhas verdes das verduras ou sentir, mesmo que com os olhos, a delícia da goiaba, do mamão, do caqui, da pêra, da ameixa, das laranjas e até mesmo do abacate.
Era difícil ver seu Alcindo doente, por isso, todo dia lá estava ele, tirando os matinhos que faziam questão de aparecer no meio das verduras. Mas não era difícil ver seu Alcindo bravo ou... fazendo de conta que estava... Basta lembrar que sua grande irritação com os filhos estava no canteiro de cenoura. E não era com um dos filhos. Era com todos! Todos os seis!!!
Este era nosso canteiro preferido. Gostávamos de saborear folhas de couve. Tirávamos do pé, passávamos na água e saíamos comendo, enquanto brincávamos. Mas cenoura era especial. Víamos o tamanho das folhas e, por elas, imaginávamos o tamanho da raiz. E pronto! Colhíamos e comíamos satisfeitos, mas... Ah brincadeira inocente de criança traquina!!! Depois de saborearmos a cenoura, pegávamos as folhas e recolocávamos no canteiro, exatamente no lugar onde tínhamos tirado. E no dia seguinte, quando seu Alcindo ia colher algumas cenouras para que dona Angelina fizesse a sopa para o jantar, ele se deparava com a surpresa: a cenoura tinha desaparecido. Só haviam as folhas.
A bronca era geral, ninguém assumia a culpa pela traquinagem. Mas a gente ficava feliz, não por ter tentado enganar seu Alcindo, mas por ver, no rosto e nos olhos dele um olhar de satisfação por gostarmos daquilo que ele cuidava com tanto carinho. Bronca ele dava mesmo quando colhíamos a cenoura e recolocávamos no chão, pois ainda eram pequenas para serem saboreadas. Aí, ela morria e a bronca era por não fazer direito. “Comam, comam sim, mas antes de colher, verifiquem o tamanho da raiz”. E lá ia ele, pacientemente, retirar a terra de volta das folhas até aparecer a cenoura. Meu pai mostrava parte da raiz e sugeria quantos dias faltavam para saborearmos a mesma. Mas depois vinha outra orientação: “deixem para dona Angelina fazer a sopa, senão terei que comprar cenoura na feira...”
Olhar tudo isso com saudade é deixar estes olhos umedecidos, lentes dos óculos embaçadas e uma vontade louca de inventar uma máquina do tempo só para voltar atrás e viver tudo novamente. Com as mesmas traquinagens, com as mesmas brincadeiras, mas principalmente com as mesmas broncas carinhosas deste homem que viu todos os filhos formados. Mesmo que não tenha visto Toninho virar doutor, mas satisfeito por ouvir suas homilias na missa, tanto que foi com ele que trocou as últimas palavras antes de partir...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lição para pilotar vidas e fogões

O cheiro do bolo assando na cozinha e se espalhando por toda a casa denunciava o dia da semana: sábado! Era uma das certezas em casa: toda semana, Dona Angelina recolhia os ovos no galinheiro, verificava se havia alguma galinha “no ponto” e pedia a seu Alcindo para ir ao açougue, fazer a encomenda para o almoço do domingo. Afinal, dona Angelina e seu Alcindo criaram seis filhos. Era, realmente, comida para um batalhão!
Enquanto seu Alcindo descia ao açougue, dona Angelina quebrava os ovos, separando a gema da clara e lá ia, feliz da vida, preparar uma nova receita de bolo. Não havia domingo ou aniversário em casa sem bolo. Todos preparados pelas mãos de dona Angelina. E a gente percebia a satisfação dela ao ver todos consumindo sua obra de arte!
Bolo de chocolate, bolo xadrez, bolo de fubá, e bolo, bolo e mais bolo. Bolo para todos os gostos, mas que todos saboreavam! Menos Ana Maria, que só comia bolo de fubá. Mas quando dona Angelina fazia, todos comiam. E mão para fazer doces era com dona Angelina: pudins, sonhos, negrinho de alma branca, pão alemão...
Hummm!!! Mas ver dona Angelina preparando a macarronada era de dar água na boca... E isso acontecia também no sábado: massa rolando na mesa, um pau de macarrão para esticar a massa, o corte na medida, a massa secando, o preparo do molho. E a expectativa do prato pronto no dia seguinte. Era assim o cardápio dominical: salada (com verduras do quintal), macarronada, frango assado, ao molho ou a passarinho. Frutas de sobremesa e o bolo no meio da tarde! Mas no inverno, lá ia dona Angelina preparar sua feijoada.
Enquanto o bolo assava no forno, ela ia ao quintal, passava pelo galinheiro, verificava qual das aves estava “no ponto” para ser consumida e a levava para o “matadouro”.
Minha mãe então limpava a ave e nesse meio tempo o bolo estava pronto. Seu Alcindo já tinha voltado do açougue e era hora de pôr os filhos no banho. Era esperada a correria naquela hora pois – e até hoje não entendi bem o porquê – aos sábados a falta de água se tornava comum. Sábado, dia de tomar banho! Faltando água! Quando não havia água, lá íamos nós tomar banho na bacia. Um banho diferente e difícil... e, no fim, o prazer de levantar a bacia, ainda com água, e derramar tudo em cima da gente.
Dona Angelina era assim, sempre prestativa. Pequena, olhos azuis e grandes, escondidos pelos óculos e cabelos brancos. Sempre vi minha mãe de cabelos brancos. Ela fazia questão de dizer que desde os 17 anos, quando faleceu minha avó e, por ser a filha mais velha, passou a criar irmãos menores, por isso os cabelos brancos surgiram tão cedo.
Era dentro desta pureza que eu via dona Angelina. Levantando todos os domingos às cinco da manhã, para pegar a missa meia hora depois, passar pela feira, comprando novidades (pois frutas e verduras tínhamos no quintal), chegar em casa, preparar o almoço e, ao meio-dia, colocar tudo na mesa para a família se deliciar. Sempre!
Ela não parava nunca! Durante a semana, levantando de madrugada para preparar o almoço de seu Alcindo ou acordar Ademir – que precisava tomar o trem para trabalhar em São Paulo. E, depois da janta, ela fazia questão de chamar a todos para rezar o terço na sala. Todos reunidos, com o terço na mão, às vezes reclamando a novela perdida na tevê, mas rezando juntos. Todos!
Numa noite, um derrame cerebral mudou a rotina. Mas ela não desistiu: voltou a aprender a falar, pois ficara com metade do corpo paralisado, língua travada. A gente via nela a vontade de viver! Tanto que ela voltou a falar, parecia uma estrangeira, mas não desistiu: com uma bengala, caminhava pela casa, depois de muita fisioterapia. Cozinhar, não podia mais, mas não desistiu. Ficava dando as orientações para seu Alcindo que assumiu o comando do fogão!
No final, enxugava a louça. Por ter movimento em apenas uma das mãos, era com esta que pegava a louça, colocava sobre a mesa, enxugava de um lado, virava do outro, para completar o serviço e colocar no armário.
Depois de ver todos os filhos formados (um deles foi ordenado padre), ela se sentiu mal numa manhã de março, mas continuou mostrando sempre sua preocupação com os filhos: “não estou com medo de nada, apenas diz para o Albertinho não deixar de comer.” Foi a última vez que ela saiu pela porta de casa, na avenida São Paulo, deixando em todos uma marca de saudade e a certeza de que vale a pena viver. Principalmente para quem conheceu o jeito de ser de dona Angelina...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Rua de baixo contra rua de cima

Gostava de ver meu irmão jogando bola e ele sabia que era bom! Tocava a bola com tranqüilidade, corria, chutava e vibrava com os gols que fazia. Assim era Ademir. Tinha quatro anos a mais do que eu, mas me protegia nas partidas. Na verdade, eu era péssimo jogando bola. Mas ele garantia o jogo sempre que entrávamos em campo. Em campo não, pois naquele tempo jogávamos futebol no meio da rua.
As partidas eram perto de casa, mais precisamente em frente! Vila Progresso, final da década de 50, avenida São Paulo. Rua de terra, com as partidas sendo interrompidas apenas quando passava uma carroça ou algumas bicicletas. E lá vinham os jogadores: a turma do Iotti, o craque Cipó e o pessoal da rua da Várzea, a rua de baixo. Isso, quando o jogo era no nosso “campo”. Se fosse na casa do adversário era num terreno baldio, defronte às casas da Agrícola, na rua da Várzea.
Tinha jogo sem a menor graça: meu irmão e Cipó davam show com a bola e o adversário nem conseguia jogar. A vitória era sempre nossa: do time da rua de cima...
Me lembro que, por perderem quase todas, o pessoal da rua de baixo não aparecia todos os dias para jogar. Então, Ademir contava os jogadores: oito ao todo, olhava para mim, sorrindo e já tomava conta da partida: “eu, meu irmão e o Cipócontra o resto." Eu ficava no gol, mais para não atrapalhar o jogo e isso me deixava satisfeito. Ademir e Cipó tocavam a bola, davam show e marcavam os gols quando queriam. Eu, na posição em que estava, era um privilegiado espectador. Meu irmão fazia os gols, olhava para mim, sorrindo, e já saía roubando a bola e tocando para Cipó fazer mais um...
Uma vez Cipó não apareceu para jogar e lá estavam eu e ele apenas. Como as traves dos gols eram feitas com duas pedras, meu irmão resolveu fazer um desafio. Contou os adversários: seis e já foi ditando as regras do jogo: “eu e meu irmão contra o resto, a saída é nossa, mas nosso gol terá meio metro e o de vocês um metro e meio, mas não tem goleiro, ok?”
Me chamou num canto, deu as instruções e o jogo começou: toquei a bola para ele e, do meio-campo chutou: um a zero! Passou a mão na minha cabeça, fechamos o meio-campo, enquanto eles davam a saída. Um toque e meu irmão já roubou a bola. “Corre”, gritou ele, e lá fui pra perto do gol. Ele driblou dois e tocou no meio da perna de outro para mim. Errei o chute, mas a bola entrou no gol. “Gol dele, gol do Nelson”, gritou ele, correndo em minha direção.
Me carregou no colo – eu não tinha mais do que seis anos, enquanto a maioria já tinha onze, doze. “eu errei o chute”, falei para ele. Mas ele não quis saber. Bola no meio de campo, nova saída e ele me mandou correr. Saí como um jato em direção ao gol. Ele parou a bola, deu um toque por baixo e ela caiu na minha frente. Enchi o pé. Não teve jeito: três a zero. Meu pai vinha chegando do serviço naquela hora e já me chamou para dentro. “Goleada, goleada”, gritava Ademir, gargalhando e realizado. E lá fui eu comemorar com meu pai a conquista e a marcação do meu primeiro gol na vida. Pulei no seu colo, satisfeito e ele fez ginástica para me segurar, pois carregava sua marmita, junto com uma blusa de frio.
Dentro de casa, ele repetia para meu pai e minha mãe a vitória sobre seis adversários. Eu ficava olhando pra ele, admirado, sem palavras, imaginando, sonhando. Talvez pensando na frase “quando crescer quero ser igual a ele...” Mas ele era único. Era não, é! Vivo, firme e forte. Mas foi o único dos seis irmãos que puxou minha mãe no tamanho: não tem mais do que um metro e sessenta e cinco de altura. Eu, como os outros, puxamos meu pai, e tenho um metro e setenta e oito.
Muito tempo depois, quando vi a propaganda de um sutiã na tevê, entendi porque a coisa que fazemos pela primeira vez dificilmente esquecemos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O dia da despesa

Dia da despesa do mês era inesquecível. Sabíamos que isso acontecia quando meu pai recebia o pagamento. No dia seguinte, lá ia minha mãe até o Empório Bizarro, em frente à igreja da Vila Arens, fazer a despesa do mês. Ao lado do empório tinha um fotógrafo e, descendo, a Radio Lux e, mais para baixo, a Vidraçaria São Jorge, da família Massagardi. Claro que alguns dos filhos acompanhavam as compras. Vez ou outra lá estava eu, junto com dona Angelina. Tudo isso, no final da década de 1950, início da de 1960.
Na verdade, era um privilegiado: eu podia ir mais vezes com minha mãe fazer as compras e a justificativa era forte: meu padrinho era quem atendia dona Angelina nas compras, então eu tinha a oportunidade de ganhar uma ou outra bala ou, quem sabe, um doce e ainda, quem sabe, dividir com os irmãos.
Tio João, do outro lado do balcão, abria o talão de notas com os nomes dos produtos, tirava a caneta de trás da orelha (e eu achava isso interessante, tanto que, chegando em casa, corria para fazer o mesmo, mas orelha de garoto de sete anos não conseguia segurar caneta alguma!) e ia anotando os pedidos de minha mãe: 12 quilos de arroz, cinco de feijão, um quilo de pó de café moído na hora e aí seguia a lista.
Calvo, alto, tio João lembrava muito meu avô José, de quem eu ouvia histórias maravilhosas na rua Marrocos, no Bonfiglioli. Por ser meu padrinho, tio João me concedia privilégios: um pacote de bala de mel - e eu gostava de morder a bala, para sentir o gosto do mel escorrendo dentro da boca - ou uma paçoquinha. Acompanhava toda a conversa de dona Angelina com seu irmão João. Enquanto ela escolhia os produtos, surgiam sempre perguntas das famílias. Cada um falando de seus filhos e sobre os irmãos Geraldo, Valdemar, Antonio e Teresa. O que mais gostava de tio João era sua bicicleta que tinha um banquinho no cano entre o selim e o guidão. Era ali que eu gostava de passear, aproveitando alguns momentos com meu padrinho. Gostava também de jogar damas e nisso meu padrinho era um campeão. Aprendi este jogo com ele e me divertia ao ver a seriedade com que jogava. Como qualquer criança, o que eu queria mesmo era movimentar as peças, sem me preocupar com a consequencia e ele, pacientemente, explicava os lances corretos do jogo.
Terminada a lista de compras, dona Angelina pagava a conta e lá íamos para casa, esperar a chegada dos produtos. Isso só acontecia no dia seguinte: O caminhão parava em frente de casa e dele desciam duas ou três caixas de madeira carregadas de gêneros alimentícios. Caixas no chão, produtos rapidamente colocados sobre a mesa pelos funcionários do empório. Após a retirada dos produtos das caixas, os dois conferiam tudo. A lista era entregue para dona Angelina e lá íamos guardar tudo. Coisa de cinco minutos e os produtos estavam no "guarda-comida".
No cotidiano de nossas vidas acabamos perdendo contato com pessoas, nos afastando às vezes sem motivo e sem entender o porquê. Nosso último papo – tio João e eu - tinha acontecido no velório de meu tio Chico, na metade da década de 90. Há alguns anos, quando, me lembro de quando o vi, pela última vez, caminhando pelas ruas. Agora com passos lentos, uma boina na cabeça, para se proteger do vento frio, mas feliz por estar completando 80 anos. "Bem vividos, muito bem vividos", diz ele se despedindo e apressado para ir trabalhar. "Trabalhando ainda tio? Não aposenta não?" "Que é isso? Aposentar prá quê? Se Deus nos deu saúde, vamos trabalhando, vamos vivendo..."
Um forte aperto de mão e um "até breve, apareça lá em casa", mexeram com minha memória, me fizeram voltar mais de 40 anos e ver que a vida é bela, com momentos inesquecíveis! E tio João se foi, sem mais nenhuma despedida. Mas só de imaginar o tabuleiro de dama armado na mesa da sala, enfeitando o ambiente, já me faz sentir criança outra vez...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Café com leite

Brincadeira de infância nem sempre tem o gostinho que a gente gostaria  que tivesse. Brincar de “queimada”, “mãe da rua”, “pega-pega”, “pega- esconde”, “batatinha frita” é uma coisa que requeria, nos meus tempos de infância, uma atenção especial, principalmente para quem não tinha ainda idade para participar das mesmas, mas queria, porque queria se envolver com os mais velhos.  E era só o pessoal se encontrar no meio da rua que lá ia eu, protegido  por meu irmão mais velho. E eu sentia que, discretamente, cochichava alguma coisa para os outros participantes da brincadeira. Nas primeiras  vezes não entendia direito o significado de “café com leite”, mas depois  fui me acostumando com o termo. Tanto que, quando começava uma brincadeira, eu percebia que ninguém vinha em minha direção. Se fosse “mãe da rua”, lá ia eu, com um pé só, atravessando sossegado. Às vezes até provocava o “pegador”, mas ele fazia de conta que não me via.
E lá ia reclamar para minha mãe, que ninguém queria que eu participasse normalmente da brincadeira. A reclamação era rapidamente repassada para Ademir, o irmão mais velho, e voltava eu para a rua, tentando ver o que  acontecia. E não acontecia nada!!! “Café com leite” era uma coisa que eu odiava. E com razão: sabia que tinha condições de brincar “de igual para igual” com os mais velhos. E os mais velhos tinham 11, 12, 13 anos e lá estava eu com meus seis, sete anos. Brincando como gente grande!!!
Até que um dia cansei de reclamar, de pedir, de implorar para não ser mais “café com leite”. Era hora de eles arrumarem outro para este papel! E me dei por feliz:, lá estava ele: Fernando, com pouco mais de quatro anos, querendo brincar junto com seu irmão Adilson.
Com um novo “café com leite” na brincadeira me dei por muito feliz. Era hora de mostrar que era capaz de brincar direito. E era dia de “pega-esconde”! Como Adilson foi o último a chegar, já que Fernando era “café com leite”, saí como louco, em busca de meu esconderijo favorito. A brincadeira era assim: por ser rua de terra, haviam muitos barrancos e mato alto, já que só bicicletas ou carroças passavam por ali nos finais dos anos da década de 1950. Por ser pequeno e não gostar de ficar parado num local só, me movimentava bastante. Começava escondido atrás de um poste, corria para um matagal e, em seguida, voava para o pique. “Salvo um, dois, três”. Pronto! Ficava lá, sentado no chão, esperando até o último ser encontrado.
Quando outro virava “pegador”, olhava para meu irmão e percebia um sorriso de orgulho no rosto dele. Só não gostava de brincar de “mãe da rua”, por ser pequeno e sem muita força. Era só alguém tocar, de leve, que lá ia para o chão. E pronto: lá estava eu correndo atrás de alguém para fazê-lo colocar os dois pés no chão. Empurrão, puxão ou qualquer outro “ão” não resolvia, pois meu corpo franzino não me ajudava nesta hora. Mas o que me irritava e me dava forças para reagir era só ouvir alguém gritar “põe ele de café com leite”. Pronto! Eu me transformava.
Primeiro ficava vermelho como um pimentão e, em seguida, escolhia uma “vítima”, corria em sua direção e dava um leve toque no pé que estava no chão. Era fácil fazer a pessoa perder o controle e bater o outro pé na rua. E lá ia eu vibrando para a calçada.
Mas infância é isso: um tempo que passa depressa, pois a gente não vê hora de crescer e quando cresce... ah, quando cresce! Bate forte a saudade, bate forte uma vontade louca de ser criança outra vez. Nem que fosse prá brincar tudo de novo. Nem que fosse prá ser “café com leite” outra vez!...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Anjo de carne!

Sabe aquela pessoa que você conhece e que vê que, tudo é feito com amor e carinho e que jamais pede algo em troca? Sabe aquela pessoa que está sempre com um sorriso nos lábios e que não demonstra, em momento algum, cansaço e desgaste emocional? Sabe aquela pessoa que se desdobra, que se transforma, que faz um milhão de coisas prá deixar todo mundo satisfeito e feliz? Ah! Vocês devem estar pensando que esta pessoa não existe, que é coisa do outro mundo, que ninguém é capaz de fazer tanta coisa pelos outros, etc e tal.
Mas, posso dizer, do fundo do coração que conheço, que sei quem é e que hoje, dia 1º de setembro vive um dia especial, pois é seu aniversário. Se não é um anjo de asas para proteger todo mundo, é um anjo de carne que faz, nesta terra, as vezes de um anjo de asas... Só prá fazer este mundo melhor. Parabéns Márcia! Deus te abençoe e proteja e... obrigado por você existir!
(Especial para minha cunhada Márcia, que aniversaria hoje, 1º de setembro)