Dizer AJPAE hoje parece estranho! Ninguém mais diz deste
jeito, mas todos dizem APAE de Jundiaí. Mas quem conheceu Guilherme Enfeldt como
eu, jamais estranharia isso: era AJPAE para dizer que era de Jundiaí. E como
este homem era jornalista, imagino que a ideia de AJPAE representava a
facilidade para se fazer o título da notícia. Difícil era ver Guilherme na
redação desacompanhado de Ignez. O casal sempre este junto em todas as ações
ligadas à entidade que hoje tem um prédio enorme na Vila Arens e recebe
crianças portadoras de deficiência de toda a cidade e, imagino, da região.
Toda semana este homem passava pela redação. Isso no início
dos anos de 1970 quando eu começava na profissão e engatinhava como repórter.
Ele chegava, cumprimentava a todos, olhava para cada um e procurava aquele que,
na sua visão, estava menos ocupado para falar sobre a entidade que fundara em
1957 ao lado da esposa. Conversava, contava a história da entidade e pedia
divulgação para algum evento que estava organizando para ajudar a AJPAE
crescer. Terminada a entrevista, sua última fala era sempre a de lembrar que o
nome tinha que ser este. “Com o ‘J’ porque significa Jundiaí. Sem esta letra
pode ser de qualquer cidade”, ensinava o homem que, com um sorriso nos lábios,
cumprimentava a todos também na hora de sair.
Coadjuvante nesta história, mas tão protagonista como ele,
Ignez sorria ao ver cada passo do marido pela redação, conversando desenvolto
com todos. Falando mais baixo, mas com um jeito cativante de ser, ela
completava as informações com outros repórteres, imaginando que um auxiliasse o
outro na hora de se fazer o texto final. E isto acontecia sempre: quem colhera
as informações passava o texto para outro conferir.
No dia seguinte após a publicação, e passando pela redação
ou ligando, Guilherme agradecia sensibilizado a publicação. Afinal não tinha
como dizer não a um homem tão disponível para atender as necessidades da
entidade que ele fazia questão de, toda vez, dizer o nome completo: Associação
Jundiaiense de Pais e Amigos dos Excepcionais. Sempre, toda vez, sorrindo e
ensinando: não esqueça do J na sigla. Não tinha como não lembrar sua fala: a
simpatia e o jeito educado deste homem e do sorriso permanente nos lábios fazia
Jundiaí aparecer automaticamente no texto. Era como se o repórter presenciasse
este homem escrevendo na lauda o nome da cidade.
E se a APAE de Jundiaí chegou ao que é hoje, Guilherme tem
uma porcentagem muito grande neste trabalho. E sem querer fazer frases prontas:
se atrás de um grande homem existe uma grande mulher, dona Ignez deve estar
sorrindo ao ver lembrada um pouco desta linda história que os dois criaram em
Jundiaí.