quarta-feira, 22 de junho de 2016

Voltando ao passado

Passei hoje pela rua Marrocos, no Jardim Bonfiglioli, e voltei no tempo! Claro que do meu jeito, da minha maneira, mas voltei. Consegui! Parei diante da casa onde morou meu avô José Monarolo e analisei as diferenças. Confesso que, quase 60 anos depois, vi poucas mudanças: a fachada da casa é a mesma, apenas construíram uma garagem para acomodar um carro que naquele tempo não era preciso. Não sei quem mora ali, mas vi que o corredor, que levava ao fundo do quintal praticamente nada mudou. Talvez trocaram o piso, mas vi que o acesso à cozinha, que tinha degraus, hoje não existe mais. A pintura, claro, também mudou. Mas percebi que a garagem quebrou a beleza natural. E voltei a olhar o corredor e vi o fundo do quintal onde antes havia uma cerca de bambu dividindo o local com um terreno baldio. E me lembrei do pé de amora onde subíamos para colher fruta e contar histórias um para outro. Minha memória mostrou ali o forno a lenha onde minha tia Teresa fazia pão. E surgiram em minha memória meus primos Araci, Egle, Edson, José Carlos, Sonia, Adilson, e ainda meus irmãos Ademir, Ana e Osmar. Antonio e Alberto, mais novos, pouco curtiram o local... E me lembrei da rua de terra, com buracos infindáveis e o barranco que havia em frente, hoje cheio de residências. E ri das brincadeiras que passaram por minha cabeça naquele instante e, meio sem graça, dei voltas num carro estacionado, como que brincando de pega-pega. Lembrei também do “esconde lenço” do “passa anel”, da “mãe da rua” e do pega-esconde que era minha brincadeira preferida, pois meus esconderijos não permitiam que me encontrassem. E subi correndo, quase sem fôlego, a rua em frente à casa de meu avô que era o barranco onde, também, brincávamos de “mocinho e bandido” e as armas de fogo eram o dedo indicador. E percebi um garoto no portão, olhando para o celular que tinha na mão e cruzou seus olhos com os meus e entrou correndo para casa. Ri, ao imaginar que fosse chamar a mãe para dizer que havia um louco ali em frente, correndo e pulando guias e sarjetas como se fossem os buracos da década de 1950. E desci rapidamente para a rua Marrocos, novamente, e parei antes de ser atropelado por um carro que vinha como louco – talvez mais do que eu – em busca de seu trabalho e do seu dinheiro. E ri da inocência de mais de 50 anos passados quando ter carro não era importante e correr nada mais era do que brincar de pega-pega. E desci até a rua Pirapora e me lembrei que carros não passavam por ali e agora um semáforo registrava um volume de, pelo menos, dez automóveis ali parados. E decidi, pela última vez, subir até onde morara meu avô e que fora o ponto de encontro meu, de meus irmãos e de meus primos num tempo que nunca mais volta. Parei em frente ao portão, recordei meu avô sentado junto à porta da sala, preparando seu cigarro de palha. Lembrei-me de seu chapéu marrom que escondia sua calvície e percebi que duas lágrimas estacionaram em meus olhos, querendo escorrer. Respirei fundo, dei meia volta e quis voltar à realidade. Mas as lágrimas não permitiram e deram as mãos com outras e mais outras e desceram pelo meu rosto, ao tempo em que buscava a outra rua, de outro tempo, de quase 60 anos depois...

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Chega ao fim a alegria de Valter Tozetto Júnior!

Ninguém pode dizer que não era assim: sorriso permanente e uma vontade incrível de viver! Conheci Valter Tozetto Júnior na redação, no laboratório, nos corredores do Jornal de Jundiaí. Sempre brincando com os colegas de trabalho, Valtinho – chamado assim por todos -, estava sempre disponível para o trabalho: máquina fotográfica em punho, mochila com equipamentos no ombro e lá ia ele em busca de notícias. Foram alguns anos de convivência na redação do jornal, até porque aposentei e deixei o emprego, mas me lembro de sua atenção e cuidado na hora da escolha de fotos para a capa. Foi sempre que me indicava a melhor que fizera! Eu argumentava que era difícil escolher a melhor, pois todas eram perfeitas e ele sorria, balbuciava um “obrigado chefe!” e se afastava sorridente, sabendo que a foto que indicara estaria na primeira página do jornal no dia seguinte. Interessante é que sempre vinha agradecer a publicação. E o agradecimento vinha acompanhado do sorriso de quem tinha certeza de que fizera o melhor! Como disse, conheci Valtinho na redação – pois era ali que ele passava em busca de pautas. Disse que o conheci no laboratório, pois era ali que definíamos sua foto para a capa do jornal. Disse que o conheci nos corredores do Jornal de Jundiaí porque era ali que ele passava cantando. E sua música preferida era sempre “Sandra Rosa Madalena”. Foram muitas as vezes em que colocou a mão no meu ombro e me fez cantar com ele o refrão desta melodia. Ríamos juntos, ele seguia para o laboratório e eu voltava para a redação. Depois da separação profissional, nos encontramos algumas vezes em algum evento ou até mesmo em casamento de amigos que ele era o fotógrafo oficial. A última vez que o vi foi em 2012. A doença já deixara marcas em seu rosto. O sorriso constante tinha uma marca de dor, mas ele seguia em frente, sempre espantando o que atrapalhava sua alegria de viver. Não tenho dúvidas de que as chuvas deste final de semana eram as lágrimas de Deus chorando a dor deste jovem fotógrafo e cantor. E como todo bom pai, Deus o tomou em seus braços para lhe dar conforto e aliviar seu sofrimento. Foram muitas as lágrimas de Deus que rolaram e se juntaram às de centenas de amigos que sentiram a grande perda. Valtinho se foi. Partiu! Não disse adeus a cada um dos amigos, pois eram muitos e o tempo de despedida era curto. E o fotógrafo silenciou o clique! E o cantor desligou o microfone para sempre! “Sandra Rosa Madalena” que ainda ecoa no meu ouvido e o sorriso do jovem fotógrafo correndo de lado a outro para registrar a notícia colocam o ponto final na vida de um profissional cheio de vontade de viver, mas que a dor o transportou para a paz eterna!