quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Colecionando figurinhas!!!

Colecionar figurinhas não era coisa fácil! Principalmente quando os álbuns a serem preenchidos eram de jogadores e times de futebol. Final dos anos 1950 e início dos anos seguintes, figurinha carimbada e assinada eram coisas difíceis de encontrar. Por isso até hoje se ouve dizer que “fulano é figurinha carimbada...”Apesar de, agora, ter significado diferente, ou seja: parecido com “arroz de festa”, que está em todas... Mas colecionar figurinhas era realmente interessante, empolgante. Mas em casa, quem fazia isso era meu irmão mais velho, o Ademir. Eu ficava na cola... Tentando descobrir quem tinha uma que faltava para preencher uma página ou até tentando ganhar. É que “bater bafo” era algo especial, diferente!!! Não era bom nisso, mas conhecia as “manhas” da brincadeira... Difícil é explicar prá quem não sabe o que era “bater bafo”, mas amontoava-se as figurinhas apostadas, com os personagens de rosto escondido. Com a palma da mão batia-se no monte e as figurinhas que virassem do outro lado, seriam ganhas pelo batedor. Álbuns de jogadores tinham prêmios ou quando se enchia a página ou quando de conseguia uma figurinha carimbada ou assinada. E a gente sabia quais eram estas figurinhas... Numa roda de trocas, buscava-se as mais difíceis. Era comum trocar uma figurinha difícil, por dez, vinte, cinquenta das fáceis. Mas me lembro que nunca conseguimos preencher um desses álbuns de jogadores e times de futebol. Haviam figurinhas que faziam história. E foi nesta época que foram lançadas as figurinhas sobre o filme “Ben Hur” e “Os dez mandamentos”. Estes filmes foram grandes sucessos nesta época. Tinham mais de quatro horas de duração! Por conta do tempo, os cinemas proporcionavam dez minutos de intervalo durante a exibição, para proporcionar descanso ao público. Nem estes álbuns conseguimos preencher. Nos dois, me lembro, ficaram faltando uma figurinha cada. Percorremos bancas da cidade, escrevemos para a empresa responsável pela distribuição. Não conseguimos completar tais álbuns... Mas era divertido colecionar figurinhas, principalmente se eram carimbadas. Assinadas então... Era motivo de festa!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pena de ouro!

Passava pela adolescência quando o Brasil viveu a revolução de 1964 e, parecia, tudo ia melhorar... Dizia-se que tínhamos que ser patriotas e ajudar o país a sair da situação difícil em que se encontrava. Via-se soldados de prontidão nos quartéis ou com seus veículos oficiais circulando pelas cidades. Dizia-se que a democracia vinha para ficar. Jango deposto, Castelo Branco assumindo e o país mudando de cara... Para quem nunca tinha ouvido falar em política ou discutido o assunto, parecia tudo novidade, mas a intenção, então, era se inteirar do que estava acontecendo. Claro que o país passou pelo que passou, convivemos durante mais de 20 anos de ditadura militar, a democracia, enfim, retomou seu lugar, mas me lembro de um fato que marcou o ano em que a revolução começou. Rádio, jornal e a televisão, que ainda não tinha tomado conta do país, começaram a abordar o assunto: era fundamental salvar o Brasil! A imprensa dizia que a dívida externa tinha deixado o Brasil à beira da falência e que, como patriotas, tínhamos que mudar esta situação! E veio a campanha “Dê ouro para o bem do Brasil!” E a população saiu às ruas disposta a colaborar. Casais doavam suas alianças de casamento para ajudar, moças doavam pulseiras e correntes, enfim qualquer pedaço de ouro ajudava a salvar o Brasil. Quem participava, ganhava um anel de metal, onde estava grafada a frase “Dei ouro para o bem do Brasil”. Revirei minhas coisas para ver se tinha algo de ouro para participar da campanha. Também queria ajudar meu país. E na minha busca, encontrei uma pena de ouro que tinha sido usada nos primeiros anos do primário, depois de usar caneta de pau. Para quem não sabe, escrevíamos apenas a lápis e não podia haver erros: apagávamos com as borrachas até “pegar prática” de escrever, e depois começávamos a usar caneta de pau. Levávamos tinteiro à escola e sempre fazíamos a maior sujeira, mas existia o mata borrão que ajudava a limpar a tinta que sujava os cadernos. Mas não tinha mata borrão que salvasse quando o tinteiro caía e derramava tinta no uniforme... E depois da caneta de pau, começamos a usar caneta tinteiro e este não podia ir à escola. Exatamente para evitar a sujeira... Caneta saía de casa com a carga cheia e problema resolvido. Mas as penas não eram eternas e, na hora de escrever, de forçar no papel, era comum elas estourarem a ponta e não tinha mais como escrever, pois a letra ganhava dupla imagem, parecendo ao leitor que estava com a vista embaçada. E o destino da pena era o lixo. Não me lembro a origem desta pena de ouro, talvez tenha sido usada por meus irmãos mais velhos, ante de chegar às minhas mãos e fui responsável por seu fim de vida. Mas ela estava lá, guardadinha: a pena de ouro que tinha sido usada na caneta Parker. E a levei ao ponto de recolhimento das peças de ouro: no Solar do Barão, no Centro da cidade. Uma enorme balança registrava o peso de cada peça de ouro colocada no cofre. Claro que a pena de ouro não fez o ponteiro da balança se mexer, mas o anel de metal, colocado em meu dedo foi motivo de minha satisfação de ter ajudado o Brasil naquela ocasião. Claro que o total arrecadado nunca foi corretamente divulgado. Claro também que as doações não foram suficientes para reduzir a dívida do Brasil, pois ela crescia para todo mundo ver. Não tenho ideia, hoje, de onde aquele anel foi parar, nem sei se alguém ainda tem um parecido, guardado pela benfeitoria feita, mas sinto saudade da pena de ouro, cujo destino poderia ter sido outro...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O grande envelope de Ademir Fernandes

Conheci Ademir Fernandes no início da década de 1970. Enquanto eu era revisor no Jornal da Cidade, Ademir era o responsável pela área esportiva, praticamente cuidando de tudo sozinho. “Mosaico Esportivo”, um dos espaços mais lidos do jornal, era sua principal coluna e publicada todos os dias. Foi nesta mesma década que ele começou a viajar para São Paulo, trabalhando, inicialmente nos domingos no Jornal da Tarde. Uma legião de jornalistas de Jundiaí fazia viagem a São Paulo. Alguns trabalhando diariamente, outros acompanhando Ademir nos finais de semana. Brincalhão, alegre, Ademir fazia piada com tudo, até mesmo com seu grande Palmeiras e tinha um coração maior que seus quase dois metros de altura: ensinava os outros, orientava os principiantes e se divertia com o bom time de seu coração naquela época e com o Paulista de Jundiaí. As viagens viraram diárias, com o passar do tempo e ele deixou o Jornal da Cidade. Nossas conversas se resumiam a um ou outro telefonema e quando me mudei para Campinas, viraram saudade. Mas como o mundo não para de girar, voltei para Jundiaí e reencontrei Ademir que agora fazia o papel inverso: trabalhava todo dia em São Paulo e passava algumas horas no Jornal de Jundiaí. Uma das grandes histórias de humor de Ademir, ele me contou no mesmo dia em que relatou uma reportagem que fizera sobre um jogo do Palmeiras e colocou uma entrevista comigo, como torcedor, depois de uma vitória de nosso time. Claro que a entrevista nunca aconteceu, mas rimos muito desta passagem. E ele completou, relatando seu dia a dia em São Paulo. Conta ele que todo dia viajava com um grande envelope amarelo debaixo do braço, sempre com papéis de trabalho. Ou que trazia para resolver por aqui ou que levava pronto para lá. E numa sexta-feira, como precisava retonar a São Paulo no dia seguinte, o envelope ficou numa de suas gavetas e lá foi ele para a Marginal do rio Tietê, esperar pelo Cometa passar. Por conta do horário, o motorista, diz ele, praticamente era o mesmo todas as noites. O que, imaginava ele, fosse conhecido. Até porque, entrar, pagar passagem, esperar troco, trocar algumas palavras com o motorista, imaginava Ademir que tinha uma amizade grande com o condutor do veículo. Mas nesta sexta-feira, Ademir quase fez um escândalo na Marginal. O ônibus não parou para ele, apesar dos acenos com as duas mãos e quase entrar na avenida. Foi alguém, dentro do ônibus que alertou o motorista para o passageiro desesperado. Quando entrou no ônibus, o motorista se desculpou, alegando que não viu o envelope amarelo debaixo do braço. Ademir sorriu, pagou a passagem, encontrou um lugar para sentar, e comentou com o passageiro do lado: “Pensei que o motorista me conhecesse, nestes anos todos, mas ele conhecia o envelope, não a mim...” A vida porém nos prega peças tristes e terríveis. E Ademir foi embora mais cedo do que todos esperavam, vencido por um câncer. Mas deixou em todos uma saudade muito grande. Até quem não torcia para o seu Palmeiras, aprendeu a gostar do time. Exatamente por causa do jeito de ser deste grande Ademir!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O bar último gole

Já comentei aqui sobre os bares da vida. Parece que, falando assim, sou frequentador dos mesmos. Mas preciso ser sincero: frequentei sim, muitos bares! Principalmente na infância e depois na juventude. Mas tem um bar que sempre ouvi falar, nunca frequentei, nunca soube exatamente onde era e nem sei se ainda existe, mas a verdade é que seu nome sempre me chamou a atenção! Já comentei aqui do bar do Bizuca, perto da Sifco, do bar do Engholm, em frente ao antigo campo, em frente às casas da Vila Agrícola, onde ocorriam muitos dos jogos Rua de Baixo contra rua de Cima. Falei também do bar do Japonês, em frente à Sifco, onde saboreava o melhor sorvete de coco queimado e outros bares de nomes desconhecidos. Mas como disse, este bar tinha um nome sugestivo, tudo a ver com sua localização: Bar Último Gole! Sei que existem alguns bares com este nome por ai, mas nenhum tão antigo como o que ouvi dizer, já que teria hoje mais de 50 anos. Sei também que o nome deve ser tão sugestivo quando o de Jundiaí, por ser o último! Não haver nenhum depois dele naquela região, rua ou cidade. E meu irmão mais velho, Ademir, foi quem me explicou um dia sobre ele: ficava na Estrada Velha de São Paulo, no Castanho, na divisa da cidade. “É o último bar da cidade, então, quem passa por ele não tem mais, aqui, onde beber, então toma, ali, o último gole”. Explicação clara, lógica, sem ter como contestar. Hoje, sem motivo algum, principalmente por não ser frequentador deste ambiente, mas sem discriminação aos usuários, me lembrei do “Último gole”. Pensei em percorrer a estrada, em busca do mesmo, mas não teria certeza de encontrar o mesmo, principalmente, como já disse, por não saber sua localização exata. Mas confesso que acabei rindo sozinho da inteligência do ser humano e ter a certeza de que o marketing já era grande há 50 anos.