quinta-feira, 24 de abril de 2014

O quarteirão da infância de Márcia Maria (No meu tempo de criança XXX)

Imagine numa rua, um quarteirão cheio de crianças das mais variadas idades. Quarenta e sete crianças exatamente. Este número permanece, até hoje, na mente de Márcia Maria. Nascida em Jundiaí, morava na vila de Vecchi, na rua Antonio Melato, região que está até hoje. Ela se lembra que os primeiros moradores desta rua foram imigrantes italianos e, pelo seu sobrenome, Mastrangelo, fica fácil deduzir que ela também era e ainda é, claro! E ela se lembra que o quarteirão era conhecido como “o pedaço onde residiam os italianos”. Como as famílias eram numerosas, dá para imaginar a bagunça (no bom sentido...) no fala fala (também no bom sentido) e um movimento do amanhecer até bem além do anoitecer. E as 47 crianças eram dali, daquele trecho quarteirão e ainda de ruas paralelas e amigos dos amigos. Fácil imaginar todas brincando, mas... naquele tempo meninos só brincavam com meninos e meninas com meninas. Era futebol, taco, bolinha de gude, esconde-esconde do lado dos meninos e casinha, desfiles (em suposta passarela na rua) e até mesmo andar de bicicleta... E como em tudo há um porém... Alguém teve a brilhando ideia de sugerir a compra, em conjunto, de uma mesa de pingue-pongue. Além da compra em sociedade, cada um tinha sua raquete e uma bolinha. E a mesa, em comum acordo, ficaria guardada de um dia para outro na garagem de um dos integrantes do grupo. A decisão foi a maior alegria para todos, principalmente porque meninos e meninas começaram a brincar juntos e isso virou festa. Foram campeonatos e mais campeonatos, quando jogavam apenas as meninas, as jogadas eram delicadas, mas quando chegavam os meninos, era sempre: “cortou, então dormiu!” E quem dormia saía do jogo... Para Márcia, a maior tristeza era levar uma cortada e... “dormir”, saindo do jogo. E agora Márcia se lembra com alegria deste tempo que não volta mais, mas se sente feliz ao ver que teve oportunidade de crescer junto com a maioria destas crianças, descendentes de italianos e se emocionar toda vez que caminha pelas ruas do bairro e cruza com uma daquelas crianças já adulta, como ela. (Uma história de Márcia Maria Mastrangelo, texto: Nelson Manzatto)

sábado, 19 de abril de 2014

Seguindo a procissão do Senhor Morto!

Nesta Sexta-feira Santa, ao sair a procissão de enterro do Cristo Morto, percorrendo as ruas da Vila Arens, me recordei do final da década de 1950 ou início da seguinte, quando, ainda criança e com meus irmãos, seguíamos esta mesma ação religiosa. Naquela época, a procissão saía pela rua Emile Pilon, subia a Fernando Arens, tendo à frente os integrantes da Irmandade do Santíssimo, vestidos com jaleco vermelho, carregando velas, enquanto seu Vicente Rossi, o velho foieiro, pai do futuro cardeal Agnelo Rossi, levava a cruz. As crianças seguiam à frente da procissão, do início até o andor do Senhor Morto, sempre com duas filas, no canto das ruas. À frente do andor, que era carregado também pelos Irmãos do Santíssimo, auxiliados por Congregados Marianos, seguiam três moças vestidas de preto e com véus da mesma cor, cobrindo o rosto e representando Maria, mãe de Jesus, Maria de Cléofas e Maria Madalena. Ao lado, seguia João Evangelista, um rapaz que levava em suas mãos uma pena de escrever e uma tabuleta. Ainda tinha Verônica que, naquela época cantava em latim... “O vos omnes qui transitis per viam... attendite ET videte si est dolor sicut dolor meus”. Nós, crianças, acompanhávamos atentos ao cântico, enquanto ela desenrolava o pano, mostrando o rosto ensanguentado de Jesus e que ficara marcado ali. A procissão seguia pela Fernando Arens, com dois senhores da Congregação Mariana, na frente, interrompendo o trânsito para que pudéssemos seguir em frente. A procissão passava pelas casas do Japi e ia descer a rua senador Bento Pereira Bueno, próximo à minha casa e um quilômetro longe da igreja da Vila Arens. Ali, por conta do horário e do frio que chega a fazer na Semana Santa, deixávamos a procissão, corríamos colocar calça de pijama por baixo da roupa de missa – quando não tínhamos saído de casa com ela – voltamos até a esquina e esperávamos passar o corpo do Senhor Morto e o andor de Nossa Senhora das Dores. Nesta rua, já na esquina com a avenida São Paulo, víamos a Verônica cantar mais uma vez e íamos dormir felizes, apesar da recomendação de nossa mãe que o momento era de tristeza e dor.Mas criança é sempre criança!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A primeira pizza Adriana nunca esquece (No meu tempo de criança – XXIX)

Sendo verídica a propaganda que o primeiro sutiã a mulher nunca esquece, com certeza Adriana Vitor jamais viveu esta situação com a primeira pizza que saboreou! E isso foi lá em 1988, quando começou a fazer parte de um grupo de jovens na Capela de São Cristóvão, no Jardim Pacaembu, em Campinas. O grupo, criado alguns anos antes, era destinado aos jovens, mas crianças e adolescentes lá estavam, engrossando o ambiente. E um dia antes do aniversário de Adriana, após a reunião e a missa no sábado e os cumprimentos, já que o grupo ficou sabendo que seu aniversário era no dia seguinte, todos seguiram para uma pizzaria da cidade, para comemorar a data: 14 anos de idade! Adriana se lembra que ela, Cristina e Alessandra eram as mais jovens, ainda adolescentes e se assustou ao ver que seu pai, José Vitor, permitiu que saísse com o grupo. Afinal, ela sempre percebeu que seu pai não tinha muita paixão pela vida social. Como Sandro e Sueli, que faziam parte do grupo, já namoravam, ela acabou ganhando carona no carro dos dois e o grupo partiu para uma pizzaria no bairro Castelo. Com uma memória fabulosa, Adriana se lembra que estavam ali 18 pessoas... E foi no restaurante, num rodízio de pizza, numa explosão de sabores que ela ouviu, pela primeira vez, o grupo cantando parabéns para ela numa mesa que não fosse a de sua casa. Uma emoção inesquecível! E se este fato foi inesquecível, imagine reunir 14 pessoas, entre jovens e crianças num Fiat 147, ano 1978, branco, e seguir, do Jardim Pacaembu até o clube da Bosch, que ficava a dois ou três quilômetros da capela. O piquenique serviu para divertir a todos e, no retorno, novamente os 14 se amontoam no Fiat e a diversão é ainda maior do que o lanche e as brincadeiras do dia. E agora, cada vez que Adriana se dirige a uma pizzaria com sua família, a festa que viveu há quase 30 anos, volta à sua memória, com uma saudade e uma vontade de comemorar novamente... (Uma história de Adriana Vitor. Texto: Nelson Manzatto)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Maria José canta como anjo de Deus (No meu tempo de criança – XXVIII)

A pequena Maria José, nos seus 9 anos de idade, na década de 1960, chegou a se sentir um anjo de Deus! É doce dizer isso para uma menina que, pela primeira vez, foi convidada a cantar no coral da Cruzada Eucarística Infantil de Vila Arens. Claro que já tinha cantado outras vezes no coral, claro também que não fazia uma estreia naquele dia, mas... era uma estreia: os cantores, naquele dia, iam fazer parte do casamento de uma das dirigentes da comunidade e o grupo estaria no coro da igreja, um local visitado por poucos – como hoje ainda é – pois quase ninguém conseguia tocar no órgão ali instalado. Apenas o casal Aureo e Leonor Cardoso e a professora Florisa Volpe. E Maria José nunca tinha estado ali, nunca tinha subido aquelas escadas, por isso a estreia! A emoção chegou junto com o primeiro degrau da escada que leva ao coro. Um frio na barriga ao pisar num lugar tão especial. Imaginem uma menina de nove anos diante daqueles maravilhosos sons emitidos pelo órgão. E foi ali que Maria José visualizou a igreja toda, de um ângulo diferente e isso a fez sentir um “anjo” pairando nas alturas, num canto cheio de sentimento. E a menina se emocionou ao cantar a Ave Maria, viajou para lugares mágicos que ainda hoje existem em seus sonhos de mulher. Eram vozes infantis, repletas de pureza e sensibilidade... E a emoção foi forte num dia desses. Não faz muito, foi nestes primeiros meses do ano. Morando em Porto Alegre há muito tempo, Maria José voltou a Jundiaí para ajudar a cuidar do pai enfermo e ao passar diante da igreja da Vila Arens, sua mente viajou para anos passados. Entrou na igreja, como que atraída por um som diferente. O mesmo som infantil de 40 anos atrás e a emoção tomou conta de sua mente e coração. E foi como se vivesse novamente o mesmo momento mágico que viveu naquele casamento. Uma emoção que a fez cantarolar baixinho, mais uma vez, a Ave Maria... (Uma história de Maria José Brombal Canova. Texto: Nelson Manzatto)

terça-feira, 1 de abril de 2014

O cisco no olho de Edison que assustou a família (No meu tempo de criança XXVII)

Edison não tinha mais do que oito anos em 1955 e lá estava ele no porão da casa, na avenida São Paulo, em Jundiaí, brincando com um martelo e batendo com ele numa chapa de aço que estava presa numa morsa. Não era água mole, não era pedra dura, tanto que de repente um cisco da chapa quente, por conta à quantidade de marteladas, escapou e foi parar dentro do olho do garoto. Se o menino entrou em desespero, imagine sua mãe que o apanhou pela mão e correu até a farmácia do Moacir, que ficava há uns 200 metros de sua casa. Com uma agulha de injeção, envolvida com algodão ele tentou retirar o cisco, mas o menino entrou em estado de choque, tanto que quatro adultos não conseguiam segurá-lo. Nem a avó do garoto e muito menos sua tia Ana tentavam convencer Edison de que aquele era o melhor remédio. Nada! Em casa, uma nova tentativa, agora por parte do pai de Edison, Pedro Zeni. E o homem que dirigia, com um braço só o caminhão do Vic Maltema, orientado pela avó de Edison, arrumou um imã para ver se este atraía o cisco. A avó de Edison, com muito carinho e cuidado, passeou com o imã pelo rosto de Edison, perto do olho. Nada! Angustiados, cansados, desanimados. Este foi o saldo do dia! A solução foi esperar a manhã seguinte quando todos seguiram até o Instituto Penido Burnier, em Campinas. Um especialista atendeu o pequeno Edison que, depois de anestesiado, dormiu e quando acordou percebeu que havia um tampão em seu olho e não sentia mais a presença do cisco. Depois de três dias o tampão foi retirado e a vida retomou sua rotina, mas Edison jamais esqueceu o fato e suas mãos nunca mais utilizaram um martelo para bater numa chapa de aço. (Uma história de Edison Claudio Zeni. Texto: Nelson Manzatto)