segunda-feira, 25 de março de 2013

Olga Mathion

Olga Mathion apareceu em minha vida quando comecei a publicar minhas crônicas. Sempre que um texto meu saia publicado, ela aparecia na portaria do jornal, deixando um envelope, com um recado. E o recado era uma ou duas linhas de textos ou apenas uma pequena frase. Certa vez, quando o texto falava sobre “Bolinha de Gude”, o envelope continha uma, colada num folha de recados em branco. Olga sabia que o recado estava dado. Escritora e integrante da Academia Jundiaiense de Letras, uma bela tarde me ligou para me convidar a fazer parte do grupo. Preocupada, disse que não precisava fazer nada especial, a não ser preparar um currículo e anexar obras publicadas. Ela mesma montou o processo e, dias depois, ligou para me informar a data de minha posse. Agora minha madrinha da Academia, Olga não perdia uma reunião mensal, na maioria das vezes acompanhada por sua irmã. Me lembro que, numa das reuniões, a acadêmica Sonia Cintra comentou sobre minha crônica “O sempre útil mata-borrão”, publicada no domingo anterior e lamentou que tal texto não poderia ser lido, pois não tinha o texto em mãos. Me pareceu que a informação foi a “deixa” para Olga. Ela levantou-se no meio da sala, abriu a bolsa e retirou a página de jornal. “O texto está aqui, trouxe comigo”, disse ela. Seu ato mereceu aplauso de todos os presentes e não vou comentar aqui a leitura feita por Sonia e as opiniões sobre isso. Apenas lembro que, ao final da reunião fui ao encontro de Olga para agradecer todas as gentilezas e o carinho que tinha para comigo. Seu sorriso foi sua resposta! Numa das reuniões me presenteou com um livro onde, em crônicas, o autor fazia referência à sua infância, numa forma parecida comigo de relembrar o passado. “Faça um livro com seus textos”, me disse ela. Foi o que fiz anos mais tarde! Mas como o chamado imortais pelas letras, Olga Mathion partiu deixando um vazio enorme dentro dos escritores da cidade. Com grandes obra publicadas, Olga passa todos os dias pela minha memória. E todo mês, na hora das reuniões dos acadêmicos olho junto à porta da sala Jair Acioli, na primeira fileira e vejo o lugar vazio onde Olga costumava sentar.

terça-feira, 19 de março de 2013

Vinte e cinco anos se passaram

Falar de minha mãe pode ser repetitivo, mas sempre há alguma coisa a mais, alguma coisa nova que ainda não fez parte de nenhum outro texto sobre ela. Mas é curioso lembrar de seu carinho e de sua atenção ao tomar uma atitude ou a resolver algum problema. Cuidar dos seis filhos era sua principal preocupação. E não tinha um que fosse mais privilegiado que o outro. Todos eram iguais. Mesmo que um fosse o mais velho ou o outro mais novo. Mesmo que uma fosse a única mulher ou o outro se tornou padre e dizia isso desde pequeno. Mesmo que outro fosse trabalhar em rádio e jornal e outro mudasse para Louveira ou Praia Grande. Não importa: todos eram especiais. Todos eram seus filhos! Era comum vê-la varrendo a casa com o terço entre os dedos. Também era comum – mas era preciso presta muita atenção – ouvi-la cantando enquanto preparava o almoço. Digo que era preciso prestar muita atenção, pois ela fazia isso baixinho para talvez não atrapalhar aquele filho ainda criança que preparava o dever ou aquele que queria conversar com o outro sobre alguma nova brincadeira. Dona Angelina – este era seu nome, ligado a anjos – era um sorriso constante. Com seus olhos azuis concentrados naquilo que fazia, mas atentos ao que os filhos estavam aprontando, dona Angelina era obrigada a madrugar todos os dias. Num período porque seu Alcindo – meu pai – entrava antes do sol nascer na Estrada de Ferro e em outro porque o filho mais velho precisava viajar para São Paulo e nos anos 60 o trem era o melhor transporte e a viagem começava às 6 horas. E o ato de acordar cedo representava preparar almoço. Afinal, um filho estudava cedo outro no início da tarde, enfim era um dia de intenso movimento. E dona Angelina cantava baixinho, para não atrapalhar ninguém! Assim foram os anos, assim cresceram os filhos, assim se formaram novas famílias e na manhã de 19 de março de 1988, dona Angelina teve complicações na saúde. E na madrugada do dia 20 levou com ela a voz baixa de suas canções. Não há eco ressoando, o silêncio se faz presente no dia a dia da vida de quem ficou. Seu Alcindo partiu dois anos depois, cheio de saudade. No dia a dia ainda percebo a pequena cozinha de casa, com dona Angelina lavando verdura colhida do quintal. O som baixo e suave das canções ainda percorrem os corredores da casa em minha mente, pois ela não existe mais. “Certa manhã destas manhãs cheias de luz, por entre as rosas do jardim eu vi passar gentil borboleta de asas azuis e o seu voo incerto me fez pensar” ou ainda “Maringá, Maringá depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste que eu garrei a imaginar”... algumas frases de canções que, mesmo cantadas para não atrapalhar ninguém ecoam no fundo de meu coração. E como tudo ficou tão triste, e como tudo passa tão depressa, 25 anos depois, ainda percebo dona Angelina sorrindo nos corredores de casa, a varrer, a cantar, a rezar... Do jeito que, tenho certeza, só ela sabia fazer!