quinta-feira, 26 de junho de 2014

Quando junho emocionava as crianças

Mês de junho, no início dos anos de 1960, participar da Cruzada Eucarística Infantil, na igreja de Vila Arens, era algo inesquecível. Tão inesquecível, que estou aqui para relembrar fatos deste tempo. Neste mês, toda sexta-feira, tinha Adoração ao Santíssimo e troca de espinhos do Sagrado Coração de Jesus. As crianças entrevam uniformizadas, seguindo a bandeira da comunidade. As meninas usavam vestidos brancos com boinas da mesma cor, enquanto os meninos usavam terno azul marinho – com calças curtas – e gravatinha borboleta. Fitas amarelas completavam o uniforme. Troca de espinhos emocionava os fiéis que participavam da celebração. Os espinhos estavam numa coroa fixada numa espécie de almofada em formato de coração. Uma das crianças da Cruzada tirava um dos espinhos e colocava uma rosa no lugar. Feitas de pano, as rosas tinham o poder de durar o mês todo. No último dia, não havia mais espinhos na coroa e o coração estava cheio de rosas brancas, “aliviando o sofrimento do Cristo”. Após o ato de troca de espinhos e da Adoração ao Santíssimo ocorria a procissão dentro da Igreja, terminando com a benção do Santíssimo. As crianças seguiam na frente da procissão, seguidas pelas senhoras do Apostolado da Oração, associação formada por senhoras que usavam como uniforme vestido preto e uma fita vermelha. Em seguida, vinha o padre com o Santíssimo Sacramento nas mãos e todos cantavam: “Cantemos ao amor dos amores, cantemos ao Senhor... Deus está aqui! Ó vinde adoradores, Adoremos a Cristo Redentor”. E aí as crianças elevavam a voz o máximo para cantar o refrão: “Glória a Cristo Jesus, Céus e Terra, bemdizei ao Senhor. Louvor e Glória a ti, ó Rei da Glória”... Encerrada a procissão, as crianças se colocavam de joelhos ao redor do altar, esperando a entrada do Santíssimo, nas mãos do padre. E o canto mudava... “Eu quisera Jesus adorado, teu sacrário de amor rodear, de almas puras, florinhas mimosas, perfumando o teu santo altar...!” A organista mudava as notas e as crianças já sabiam o tom e cantavam, de novo a todo pulmão: “Tantum ergo sacramentum, Veneremur ceernui, Et antiquum documentum Novo cedat ritui...” Mesmo sem saber a tradução, o cântico em latim também emocionava, tanto que terminada a cerimônia, as crianças se olhavam sorrindo, mas todas com lágrimas nos olhos. Era hora de deixar a Igreja e voltar para casa. Cheios de emoção e comentando a cerimônia, as crianças já contavam os dias que faltavam para outra celebração igual. Mesmo que ela fosse ocorrer apenas no mês de junho do ano seguinte.

terça-feira, 3 de junho de 2014

No meu tempo de criança!

No meu tempo de criança cozinhavam-se ovos numa lata de banha enquanto pescava na lagoa; havia ainda pescaria noturna no rio Jaguari, e os inesquecíveis passeios de trem de Jundiaí até Piracicaba. Até bonde fazia parte desta viagem! No meu tempo de criança aprendia a andar de bicicleta, sem ajuda de ninguém. E se a bicicleta fosse verdinha tinha um sabor especial! Tinha passeios de bicicleta ao redor do campo do Paulista, enquanto os jogadores treinavam. E, claro, ainda tinha tombos maravilhosos quando quatro amigos inseparáveis dividiam a mesma bicicleta. No meu tempo de criança cantava no coro da igreja da Vila Arens com os integrantes da Cruzada Eucarística Infantil, decorava o catecismo para fazer a primeira comunhão, tinha também coroinha graduado em turíbulo, só para ver a fumaça subir aos céus... No meu tempo de criança cantava no auditório da Rádio Santos Dumont, ouvia programa do Zé Bétio, trocava gibis na porta do cinema, quando um valia pelo preço de dois, ou curtia a tarde de domingo com as amigas. No meu tempo de criança tinha competição para ver quem comia mais pitangas. Ah! Claro! Tinha brincadeira de Mãe da Rua na escola, e acabava rasgando a blusa da amiga e tendo como castiço consertar... E na rua, ainda, brincava de Tarzan e Jane, mesmo que isso fosse em Belém do Pará.. No meu tempo de criança sonhava em cavar um buraco para tentar chegar ao Japão ou saía pelo mundo à procura da verdadeira família e descobrindo que já vivia com ela. E nesta história de família, nada mais doce do que dividir dois ovos de galinha em quatro irmãos. No meu tempo de criança fazia experiências pare recarregar pilhas, corria ao pronto socorro para tirar cisco do olho e ainda trabalhava de contrapeso na roda gigante do parque de diversões, sem esquecer do cuco que era o encanto da família. No meu tempo de criança ajudava o avô a caçar gamburrinos, e nas noites contemplava as estrelinha lá no céu, mas nada mais divertido do que reunir os 47 filhos de italianos que moravam no mesmo quarteirão e jogar pingue pongue. No meu tempo de criança a viagem de férias era de Salvador para Jundiaí, para visitar os parentes e amigos ou fazia a viagem de Jundiaí a Praia Grande e reencontrar o bicho preguiça, sem contar a realização do sonho de participar de um rodízio de pizza. No meu tempo de criança dava nome e batizava bonecas, pagava os alimentos da mulher, na fila do supermercado, já que ela não tinha dinheiro, mas precisava comer, e tinha também o doce sonho da menina que queria ser bailarina... No meu tempo de criança tinha festa junina inesquecível, com fogueira, balão de todos os tipos e até batata doce assada na fogueira e tinha ainda, nas férias de janeiro, passeio no sítio dos tios Nino e Isaura. No meu tempo de criança teve o porquinho que não morreu no Natal e nada mais lindo do que descobrir a identidade do Papai Noel. Afinal, ser criança é um sonho eterno de todos os humanos e crescer era tentar fazer o tempo voltar.