segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Doce... Vingança fatal!

Não dá para dizer que aquele diabético estava certo no que fez. Mas... Imagine que ele, por conta de sua doença acabou sendo aposentado bem antes do tempo! Aposentado por invalidez! Teve dois dedos de um dos pés amputados e tinha dificuldade em andar. Sua sorte é que no quarteirão de sua casa havia um condomínio residencial e um dia, por conta do baixo benefício que recebia (alguém recebe um bom benefício do INSS?), se candidatou a uma vaga de porteiro e foi contratado. Tudo bem que eram 12 horas seguidas de trabalho, mas ele tinha 36 de folga depois... mesmo que o trabalho se resumisse a permanecer o tempo todo sentado: abrindo portão para visitantes ou moradores, conversando com pessoas do prédio. Difícil era seu horário: entrava as 18 horas e saía 12 horas depois. Quando o sol, muitas vezes, ainda estava dormindo... Chegava em casa dez minutos depois, curtia a família, ouvia rádio, via televisão, apreciava o movimento na rua até a hora do almoço para, depois, dormir até o início da noite. Uma rotina nos dias que trabalhava até que... até que, num início de tarde surgiu na rua de sua casa o “Dito Mineiro”. Ele vestiu o pijama, puxou o lençol, deitou, pensando em dormir quando seus ouvidos sentiram o som da rua: “Olá dona de casa! Aqui é o Dito Mineiro com doces de Minas Gerais: doce de leite, doce de coco, doce, doce, doce!” Aquilo soou como uma provocação! De onde surgiu este som? Este carro? Quem é Dito Mineiro? Durante cinco, dez minutos, o som permaneceu assim, praticamente em frente à sua casa. Não foi olhar pela janela para ver se tinha gente comprando doce. Afinal, sentiu que sua pressão se alterara e que, com certeza, o açúcar no seu sangue também. O sono não veio naquela tarde. Não tinha como vir. Foi embora com o Dito Mineiro! Aquele som ficou martelando sua cabeça durante alguns dias até esquecer. Mas quando pensou que esquecera... “Olá dona de casa! Aqui é o Dito Mineiro...” Seu corpo tremeu na hora em que deitava na cama. Exatamente na mesma hora do outro dia. E o sono foi embora, de novo, com Dito Mineiro! As coisas começaram a não ir bem no serviço, o sono vinha sempre na hora errada. Em sua cabeça estava Dito Mineiro, o homem que não o deixava dormir! Mas sua mente começou a trabalhar. De uma maneira diferente do que fazia todo dia. Ele pensava, planejava, maquinava uma forma de se livrar de Dito Mineiro e seus doces assassinos! E a ideia se tornou um projeto e o projeto se tornou real: Seu carro seria sua ajuda e sua mulher a cúmplice! Difícil foi convencê-la a participar da ação. Mas a dosagem de açúcar no sangue do marido, a pressão elevada, as tardes mal dormidas e o projeto se tornou real. “Olá dona de casa!...” Pronto! Hora de dar o primeiro passo! Carro sai da garagem e sua mulher segue Dito Mineiro pela cidade até este chegar em casa e guardar o carro na garagem. O primeiro passo não foi difícil. Descoberta a moradia de Dito Mineiro, faltava executar a parte final do plano. E lá vai o casal na noite de folga do porteiro: duas horas da manhã, eles deixam sua casa em direção ao espaço onde Dito Mineiro mora e dorme. Dez minutos depois param em frente à casa do homem dos doces. A rua dorme, os moradores dormem e, com certeza Dito Mineiro também. Hora de colocar o plano final em prática: o porteiro liga o som, olha para a esposa e os dois riem do passo seguinte: “Alô Dito Mineiro! Sou diabético, trabalho à noite e durmo durante o dia e não posso comer doces e preciso dormir. Vim aqui pra te desejar uma boa noite sem sono!” O alto falante do carro ecoou pela rua silenciosa, algumas luzes se acenderam em algumas casas, portas se abriram. Algumas pessoas saíram até o portão para ver o que acontecia. Enfim, a luz se acendeu na casa de Dito Mineiro. A vingança, para o casal, estava completa. O que não se esperava era a reação de Dito Mineiro. De espingarda em punho, abriu o portão e começou a disparar em direção ao carro. A mulher do porteiro mal teve tempo de ligar o motor. Uma bala na testa pôs por terra o plano de vingança daquele diabético!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Saboreando torrões de açúcar!

Na região da Vila Arens, exatamente em frente ao antigo prédio da Banda (Sociedade Musical e Recreativa União Brasileira), localizada na avenida dr. Cavalcanti, estava instalada, entre as décadas de 1950 e 1960, a Refinaria Santa Maria. O prédio ficava ao lado da Bebidas Ferráspari e, ao lado da Banda estava o prédio da Vinhos e Bebidas Caldas. A introdução é mais para falar da refinaria onde meu tio Antenor trabalhou até aposentar por doença na década de 1960 e, imagino, foi quando a refinaria fechou suas portas. Tio Antenor era solteirão, morava na refinaria e passava suas horas de folga jogando baralho na Banda onde fez muitos amigos. No início dos anos 60, ele almoçava em casa todo sábado e domingo até se mudar para lá na metade desta década já que a refinaria fechara o quarto onde ele passava as noites. E quando vinha em casa, trazia um pacote cheio de torrões de açúcar. Esses torrões surgiam porque este açúcar não se refinava e ficavam os pelotes ou bolotas que a empresa descartava. Jogava fora, na verdade. Mas antes deste ato final, tio Antenor recolhia no pacote e trazia para a gente. Estes pelotes eram pouco maiores que bolinhas de gude e que a gente jogava muito com os amigos que moravam na mesma rua, na Vila Progresso. Tio Antenor não tinha preferência por sobrinho. Chegava em casa com o pacote e entregava ao primeiro que encontrava ou simplesmente colocava sobre a mesa da cozinha. E todos os filhos de seu Alcindo e dona Angelina dividiam o conteúdo do pacote. Dona Angelina apenas orientava para não mastigar as bolotas, mas o gostoso mesmo era sentir o açúcar surgindo, dissolvendo o pelote e sentindo a doçura do açúcar. Naquela época o açúcar era vendido em pacotes de cinco quilos apenas. Era de papelão e costurado na ponta. Precisava puxar as pontas da linha para poder abrir o pacote de açúcar. Em Jundiaí havia apenas o Santa Maria e o União. Mas o segundo, imagino, ganhou todo o mercado e a Refinaria Santa Maria fechou as portas. Tio Antenor, com o fechamento da refinaria deixou de trazer – claro – as bolotas de açúcar para saborearmos. Trocou por balas, mas me lembro de que, já nas décadas de 1970 e de 1980 saia cedo de casa, se dirigia à Banda onde passava o dia. E hoje, ao passar pela região da Vila Arens, no início da avenida dr. Cavalcanti me lembrei dos antigos prédios que ali existiam e, confesso, senti saudade dos torrões de açúcar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Carnaval da minha infância

Objetivo do padre Hugo que dirigia a Cruzada Eucarística Infantil, na paróquia de Vila Arens, no final da década de 1950 e todos os anos da década 1960 era divertir as crianças enquanto os salões ficavam cheios de foliões nos dias de Carnaval. E padre Hugo fazia tudo com alegria e isso proporcionava vibração das crianças. A ação criada pelo padre ocorria no domingo e na terça, dias em que as matinês nos clubes chamavam pelas crianças para “pularem” o Carnaval. E no domingo, o padre reunia os cruzados após a missa das 7h30 e criava brincadeiras até por volta das 10 horas. Retornávamos às 14 horas, exatamente no horário que começavam as matines nos clubes e ali ficávamos até as 17 horas. Para ninguém chegar em casa quando a noite já tinha chegado!
Muitos clubes próximos à igreja da Vila Arens proporcionavam carnaval para as crianças no domingo e terça-feira de Carnaval: Ipiranga, Banda, Nacional, além do Primavera, na Vila Progresso, bem perto de onde eu morava. Mas lá íamos brincar nos salões da igreja! Padre Hugo era bem prevenido: tinha uma infinidade de jogos infantis: dominó, tômbola, damas, trilha, ludo. Jogos que não existem mais hoje e uma biblioteca com mais de cem livros, a maioria vida de santos e outros com muitas ilustrações para “chamar a atenção” da criançada. Lanche às 15 horas com muita fruta e Ki suco para dar mais alegria a todos.
Claro que não faltava um pouco de oração e ensinamentos. Mas padre Hugo sabia dosar as coisas e a brincadeira dominava a tarde. Nossa sala principal era em frente ao coreto, na praça da igreja. Mas ela percorria praticamente todo o porão. Nesta sala ocorriam as reuniões gerais, uma porta nos levava até a biblioteca e mais duas salas menores onde ocorriam as aulas de evangelização de acordo com a idade ou tempo de cruzada.
Acho que é por tudo isso que o Carnaval nunca me chamou a atenção. Minha primeira ida a um salão de baile de Carnaval ocorreu quando trabalhava na Rádio Santos Dumont. Domingo de Carnaval chego para trabalhar, na espera de ficar no plantão, no estúdio, quando sou chamado a acompanhar Gilson Lino à matinê no Grêmio. E lá fui eu entrevistar crianças nos intervalos. “Olha a cabeleira do Zezé”, “Cidade Maravilhosa” e “Coração Corintiano” eram as principais atrações. Abrilhantando a festa estava a Orquestra City Swing.