sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um novo Ano Novo!

Para que seu ano novo seja novo, é preciso que você seja novo, que se renove, que mude, que transforme sua vida, seus pensamentos, seus ideais. Para que o ano novo não seja repetitivo é preciso que os pensamentos caminhem para a realização! De que valem os projetos imaginados em 2013 se em 2014 eles ficarem nas gavetas? De que valem os sonhos se não acordar para a realização? Imagino que a vida não seja apenas um calendário, uma mudança de dia, uma rotina que, como ônibus de linha passe a todo o momento pelo mesmo local, apanhando os mesmos passageiros e os deixando um pouco mais à frente, mas sempre nos lugares de costume! Imagino que os projetos para 2014 sejam transformados em realidade. Não como promessas de campanha que se engavetam para serem executadas no último ano de mandato. Claro que não devemos nos robotizar e fazer maquinalmente aquilo que pretendemos. Se o poeta Vinícius de Moraes disse um dia que “a vida vem em ondas, como o mar”, importante é saber que as ondas nunca são iguais, que o movimento do mar se renova a cada momento. E é assim que deveria ser a vida: um renovar de atos e esperança, um renovar de sonhos e atitudes. E a vida é um constante transformar, como diz o poeta Lulu Santos, garantindo que “tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo”. Esta é a transformação desejada, sonhada, esperada! Mudar sempre. Claro que seja sempre para melhor! Não adianta projetar 12 meses diferentes se a partir do Carnaval a rotina se faz presente e a mudança não ocorrer! É neste contexto que Roberto Carlos já disse que “é preciso saber viver” e o viver é mudar, é transformar, é buscar a felicidade. Uma vez li uma história onde um sábio perguntava a um garoto o que ele queria ser quando crescesse. E o menino simplesmente respondeu: “Quando crescer quero ser feliz!” Então que sejamos felizes. E que em 2014 esta felicidade caminhe ao lado de cada um de nós!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Natal de esperança

O sol já tinha desaparecido do outro lado do morro, quando seu corpo pendeu junto à calçada. Cansado de mais um dia de mãos vazias, ele não tinha coragem de chegar em casa sem comida para a esposa e filhos. A garoa fina que caía com o objetivo de amenizar o calor, se misturava em seu rosto com as lágrimas, diminuindo o gosto amargo da tristeza e da dor. A noite já se fazia presente quando sentiu que deveria retomar o rumo de sua casa, mesmo sem nada a oferecer, mas sabia que a família entenderia sua situação e dividiram, mais uma vez, os pedaços de pão ganhos no início da semana. Quando a garoa parou, seus passos ganharam o pé do morro que ele começou a subir, em busca do pequeno barraco em que morava. Foi então que lembrou que era noite de Natal, pois as pessoas percorriam o caminho contrário ao seu, felizes e sorridentes, rumando para a celebração na pequena igreja que ele passara desatento três quarteirões atrás. Interrompeu os passos ao notar sua mulher e seus três filhos menores, descendo o morro. Ficou envergonhado ao ver a alegria de sua família, ao perceber Júnior de camisa nova, Pedrinho calçando um tênis novo e Paulinha com um lindo vestido azul que ele nunca vira em casa. Sua mulher também estava de roupa nova e ele não precisou dizer uma palavra, ao perceber que sua roupa rasgada destoava diante de tanta beleza. Foi a esposa que explicou as doações ocorridas nos barracos durante o dia. E as novas roupas dele estavam em casa e ele precisava se trocar depressa, pois já estava atrasado para a cerimônia de Natal na igreja. Beijou a família e subiu o morro em busca de um banho e uma roupa nova. Não demorou a chegar à igreja. A missa já começara, mas a alegria era tanta que esqueceu a fome batendo em seu estômago. Foi então que o padre falou em partilha, na importância de todos serem irmãos e ele segurou as mãos da esposa, ao saber que, terminada a missa, um grande banquete seria servido na igreja. Para que todos tivessem um Natal cheio de felicidade. E foi então que se lembrou de agradecer o menino Deus que nascia naquela noite, só para mostrar ao mundo que a partilha é o melhor caminho para um mundo cheio de paz e felicidade. E aquele Natal transformou suas vidas e começou a mudar o mundo! (FELIZ NATAL A TODOS!)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A arte de montar presépios

Antes do Natal no meu tempo de adolescência, era assim: eu e Fernando, meu vizinho amigo, saíamos no início da noite, aproveitando a abertura do comércio, para ver presépios na cidade. O objetivo era ver o que havia mudado de um ano para outro ou analisar a criatividade de cada um dos “montadores”. Seguia com Fernando, pois ele acompanhava a montagem do presépio de seu pai, Antonio, com monjolo, moinho e muita água percorrendo seu espaço. As luzes piscando, na década de 1960, estavam muito à frente dos tempos de hoje, graças à criatividade de seu Antonio. O roteiro começava pela igreja de Vila Arens, seguíamos para a Cica, depois a igreja Nossa Senhora do Desterro que ainda não tinha denominação de Catedral, descíamos o “escadão” para nos surpreendermos – sempre – com o presépio da Argos. Montado na praça logo na entrada da fábrica, entravamos correndo, atraídos como ímã pelo tamanho das imagens. Por ser o último lugar a ser visitado, era na Argos que começávamos a comparar os presépios. “O da Vila Arens tinha mais água no ano passado. Na Cica, este ano, esqueceram a iluminação. A casinha do menino Jesus, no centro estava muito escura, mas aqui na Argos... veja a água caindo do monjolo... Veja aquele Pastor, não tinha aquela imagem no ano passado!!!”. “É verdade”, concordava o outro. Encerradas as visitas, voltávamos para casa fazendo os últimos comentários. Quando Fernando me perguntava quando meu presépio ia ter um monjolo, eu dizia que o espaço era pequeno, as imagens também, mas com o aparecimento do papel pedra eu procurava criar mais algumas novidades, sempre com orientação de minha mãe. Mas o presépio que eu mais gostava de ver era do pai do Fernando. Único problema é que esta visita não fazia parte do roteiro descrito acima: seu Antonio liberava o presépio para visitação, apenas no dia de Natal. E foi num dia depois de Reis, quando eu já desmontava meu presépio, que seu Antonio bateu palmas no portão. Foi minha mãe que o recebeu, foi com ela que ele entrou, acompanhado de Fernando. E foi das mãos de seu Antonio que ganhei, de presente, um monjolo que ele acabara de retirar de seu presépio. “Já estou fazendo outro para o ano que vem, mas não deixe de colocar este monjolo no seu presépio, vou vir aqui ver no ano que vem”, me alertou seu Antonio. Não vou comentar que fiquei sem palavras e com os olhos cheios de lágrimas. Fernando sorria olhando minha felicidade, mas a vida nos surpreende de maneiras incríveis: entre aquele Reis e o Natal do ano seguinte, seu Antonio partiu repentinamente, sem deixar bilhetes. E ao montar meu presépio, perto do Natal, não me esqueci do monjolo e chamei Fernando para ver. Agora, as lágrimas saíram dos olhos dele...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Em busca de um sonho

Quando o padre Alberto abençoou a gruta de Nossa Senhora de Lourdes procurei por Fernando na multidão que estava instalada na escadaria da igreja da Vila Arens, mas não o vi. A água descendo por entre as imagens e deitando no pequeno lago ao pé da gruta, me dava a inspiração de fazer algo parecido em casa, claro que num tamanho muito menor. Hoje, a gruta não existe mais, foi retirada do local com a informação de que a água estava minando dentro da igreja. Imaginei que a exclusão da água poderia ser uma solução, mas as imagens e volume de pedras que formavam o ambiente sagrado desapareceram. Não encontrei Fernando, pois ele não estava presente e decidi pela surpresa: busquei nas ruas do bairro pedras para iniciar meu projeto arquitetônico, mas encontrei apenas pedaços de tijolos. E foi com eles que iniciei a construção de minha gruta. O local escolhido foi ao lado de um pé de pêssego e os tijolos foram se formando. Talvez como na música que Chico Buarque faria anos depois: “tijolo por tijolo, num desenho mágico”. Difícil, prá mim, fora criar o lago, pois não imaginava a arte de cimentar o local. Pronta a gruta e colocada a imagem, chamei por Fernando para apreciar minha “arte”. O lago existia, mas a água, no contato com a terra, secava rapidamente, mas a engenhoca funcionava: eliminei o fundo de uma garrafa e a coloquei, com a boca para baixo atrás da gruta. Instalada, eu colocava com o regador que meu pai aguava a horta, a água na gar rafa. Esta descia, vinha pelo fundo da gruta, atravessava as pedras e caía no pequeno lago. Fernando olhou, se divertiu com a obra e foi embora pensativo. Senti isso, no silêncio dele. E o amigo vizinho retribuiu a surpresa: dias depois me chamou ao seu quintal e lá estava sua gruta, também feita com pedaços de tijolos, toda cimentada e a água estacionada no pequeno riacho. Antonio Fratezi, o homem que fazia presépios todo Natal, me segredou que fora ele quem fizera o lago. Curiosa a reação de uma criança: não fiquei satisfeito com isso, até porque, ele não colocara a garrafa sem fundo atrás da gruta e a água entrava lateralmente na gruta. Imaginei, também, que cada um faz aquilo que lhe é possível e decidi mudar tudo: cheguei em casa e destruí a gruta que fizera. Recebi orientações de meu pai, arrumei um pouco de cimento e areia e parti para a obra, mas em outro local: agora ao lado de casa, próximo a uma torneira: “tijolo por tijolo, num desenho lógico” e a gruta ficou pronta. Garrafa sem o fundo colocada no local, o pequeno lago cimentado e, no meio dele, um pedaço de cano, com uma tampa com alguns furos. A engenhoca era ligada a uma mangueira e, quando chegava alguma visita, eu corria para abrir a torneira, enchia a garrafa atrás da gruta e as pessoas ficavam maravilhadas com tudo isso. Mas era preciso mais: chamei por Fernando, descemos a rua José Maria Marin, ao lado das casas da Vila Agrícola, chegamos ao córrego ao lado da estrada de ferro e ali encontramos vitória regia. Duas eram suficientes: uma para a minha gruta e outra para a de Fernando e, para completar, imaginamos que os pequenos guarus do córrego sobreviveriam na gruta. Ao constatar que não, abandonamos a ideia, mas a vitória regia crescia, florescia, se multiplicava, sem riscos de dengue, uma doença do futuro... Fernando se foi repentinamente, me casei, fui embora para Campinas, mas nunca deixei de ver a gruta quando visitava meus pais. Quando o imóvel foi vendido, recolhi a imagem, mas nunca desisti do sonho: refiz a gruta depois de adulto, agora com pedaços de pedra. Com o risco da dengue, o lago não existe mais, mas uma pequena lâmpada ilumina a obra de arte no jardim de minha casa e é comum verificar pessoas passando e se benzendo diante da imagem de Nossa Senhora de Lourdes. E toda noite quando vou ao jardim rezar uma Ave Maria para a santa, retorno saudoso dos tempos, mas realizado por perseguir um sonho!