segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O uniforme da cruzadinha

Primeiro domingo ou primeira quinta-feira do mês era sempre assim: meninos de terno azul marinho – calça curta – camisa branca e gravatinha borboleta. Mas tinha que ser gravatinha borboleta! Meninas: vestido branco e boina da mesma cor. Todos de meias três quartos! Isso era vivido no final da década de 1950 e toda década de 1960 na Igreja Matriz de Vila Arens e pelas crianças que pertenciam à Cruzada Eucarística Infantil, comandada pelo Padre Hugo de Souza Ribeiro. No domingo padre Hugo comandava a reunião geral. Participávamos - como de costume - da missa das crianças que era celebrada às 7h30 e terminava exatamente uma hora depois, respondíamos chamada e íamos para casa, tomar café e retornar para a reunião que começava às 10 horas. Nos demais domingos, a missa era no mesmo horário e, em seguida, as reuniões de catequese com catequistas específicas, dependendo da fita usada: simpatizante, aspirante ou cruzado: todas amarelas! Havia ainda o simpatizante – quem não fizera a primeira comunhão – e os apóstolos – fita mais larga, mas que poucos chegavam até a função. Somente um chegou a ter a fita de presidente na minha época: Era o Roberto Luiz Batista: a fita era igual ao do apóstolo, mas tinha o símbolo do papa desenhado nela. As fitas eram transversais, o que fazia as crianças ficarem, a todo instante, puxando a ponta. A reunião geral terminava por volta das 11 horas, com uma série de avisos do mês, leitura de ata, e orientações sempre dadas pelo padre Hugo. Terminada a reunião seguíamos para a igreja onde fazíamos uma hora de adoração ao Santíssimo Sacramento. Cansados, com fome, suando, muitas vezes por causa do calor, mas suportávamos tudo com alegria. Ao final, por volta da meio-dia, saíamos da igreja cantando: “Somos pequenos da Cruzada...” Na porta da igreja éramos dispensados e corríamos para casa almoçar. Isso porque, as 14 horas havia matinê no Cine Vila Arens e o padre Hugo distribuía ingressos para assistirmos ao filme. Era uma alegria só encontrar parte do grupo no cinema: afinal, ganhava o ingresso apenas os mais comportados ou aqueles que não tinham faltas. Na primeira quinta-feira havia apenas a hora santa. Mas ela começava as 19 horas e terminava uma hora depois. Fazíamos este horário juntamente com as senhoras do Apostolado da Oração, senhoras que usavam uma fita vermelha no pescoço! Havia assim um contraste enorme na igreja: estas mulheres, todas vestidas de preto, inclusive com véu da mesma cor, e do outro lado as crianças, sem esquecer que as meninas estava vestidas de branco. Passou o tempo, os uniformes foram substituídos por roupas normal, as celebrações noturnas desapareceram por conta dos riscos de segurança e, por fim, o grupo de crianças, que chegou a mudar de nome no início dos anos 1970 para Juventude Cristã em Marcha, até desaparecer de vez. Ainda hoje vejo na igreja senhoras do Apostolado da Oração e acredito que o que disse agora não desapareceu de vez, pois ficou marcado em minha memória. E toda vez que vejo estas senhoras na igreja, não posso deixar de cantar baixinho, como se a infância nunca tivesse passado: “somos pequenos da Cruzada...!”