sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PERSONAGENS (4) Guilherme Enfeldt e a AJPAE

Dizer AJPAE hoje parece estranho! Ninguém mais diz deste jeito, mas todos dizem APAE de Jundiaí. Mas quem conheceu Guilherme Enfeldt como eu, jamais estranharia isso: era AJPAE para dizer que era de Jundiaí. E como este homem era jornalista, imagino que a ideia de AJPAE representava a facilidade para se fazer o título da notícia. Difícil era ver Guilherme na redação desacompanhado de Ignez. O casal sempre este junto em todas as ações ligadas à entidade que hoje tem um prédio enorme na Vila Arens e recebe crianças portadoras de deficiência de toda a cidade e, imagino, da região.
Toda semana este homem passava pela redação. Isso no início dos anos de 1970 quando eu começava na profissão e engatinhava como repórter. Ele chegava, cumprimentava a todos, olhava para cada um e procurava aquele que, na sua visão, estava menos ocupado para falar sobre a entidade que fundara em 1957 ao lado da esposa. Conversava, contava a história da entidade e pedia divulgação para algum evento que estava organizando para ajudar a AJPAE crescer. Terminada a entrevista, sua última fala era sempre a de lembrar que o nome tinha que ser este. “Com o ‘J’ porque significa Jundiaí. Sem esta letra pode ser de qualquer cidade”, ensinava o homem que, com um sorriso nos lábios, cumprimentava a todos também na hora de sair.
Coadjuvante nesta história, mas tão protagonista como ele, Ignez sorria ao ver cada passo do marido pela redação, conversando desenvolto com todos. Falando mais baixo, mas com um jeito cativante de ser, ela completava as informações com outros repórteres, imaginando que um auxiliasse o outro na hora de se fazer o texto final. E isto acontecia sempre: quem colhera as informações passava o texto para outro conferir.
No dia seguinte após a publicação, e passando pela redação ou ligando, Guilherme agradecia sensibilizado a publicação. Afinal não tinha como dizer não a um homem tão disponível para atender as necessidades da entidade que ele fazia questão de, toda vez, dizer o nome completo: Associação Jundiaiense de Pais e Amigos dos Excepcionais. Sempre, toda vez, sorrindo e ensinando: não esqueça do J na sigla. Não tinha como não lembrar sua fala: a simpatia e o jeito educado deste homem e do sorriso permanente nos lábios fazia Jundiaí aparecer automaticamente no texto. Era como se o repórter presenciasse este homem escrevendo na lauda o nome da cidade.

E se a APAE de Jundiaí chegou ao que é hoje, Guilherme tem uma porcentagem muito grande neste trabalho. E sem querer fazer frases prontas: se atrás de um grande homem existe uma grande mulher, dona Ignez deve estar sorrindo ao ver lembrada um pouco desta linda história que os dois criaram em Jundiaí.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PERSONAGENS (3) Dona Leonor e a Cruzada

Pastas contendo partituras e textos de peças teatrais e, na outra mão, sua bolsa pessoal. Sempre, todo dia, toda hora, em qualquer lugar que fosse: era assim que dona Leonor percorria sua casa, localizada nas proximidades da Rua das Pitangueiras e que já não existe mais, até a Igreja de Vila Arens. Claro que domingo de manhã isso era sagrado! Mas tardes de sábado e as de domingo também faziam parte de seu calendário. E ela participava destas missas onde era a responsável pelo grupo de cantores. Casada com Aureo Cardoso, que aprendera música de ouvido e não sabia ler partituras, dona Leonor cuidava do pequeno coral de crianças da Cruzada Eucarística Infantil de Vila Arens e era uma das poucas pessoas que subia até o órgão de tubos instalado na parte superior da nave principal da igreja, bem lá no fundo. Me lembro que apenas ela e dona Florisa se aventuravam a tocar naquele órgão que hoje, imagino, esteja esquecido.
E dona Leonor era quase sempre a primeira pessoa a chegar para a missa: ajeitar as partituras de acordo com o domingo litúrgico, verificar a afinação do equipamento, orientar as crianças e fazer com que tudo corresse perfeito. E era assim que acontecia! Dona Leonor não era muito de ir à frente durante as reuniões para dar uma aula de catequese ou explicar o evangelho. Entrava e se diria ao fundo da sala, sempre esperando ser convocada a falar. E quando isso acontecia, era perfeita no que fazia e dizia.
Mas dona Leonor gostava mesmo era de ensaiar com as crianças. Um dia para ensaios de cânticos – e geralmente levava as crianças até o coro junto ao grande órgão para que todos pudessem apreciar a beleza da igreja que hoje não tem mais a pintura inicial. Outro dia o ensaio era para festas de aniversários dos padres: e os ensaios eram de peças teatrais – pequenas, é verdade! – mas ela exigia o máximo de todos: E o espetáculo acontecia no salão paroquial de Vila Arens, que depois virou Cine Vila Arens e que desapareceu quando os cinemas sucumbiram ao aparecimento dos shoppings...

Geralmente o salão ficava lotado, com discursos, apresentações de todas as pastorais e as crianças da Cruzada faziam sucesso. Primeiro porque eram crianças e segundo porque dona Leonor havia exigido o máximo nos ensaios. E ainda ficava escondida atrás da cortina para “soprar” palavras que as crianças esqueciam. As crianças ficavam com o sucesso, mas dona Leonor ficava com os abraços, os agradecimentos, o carinho dos “atores”. Simples assim: porque dona Leonor era a segurança e o alicerce de todos!