Pastas contendo partituras e textos de peças teatrais e, na
outra mão, sua bolsa pessoal. Sempre, todo dia, toda hora, em qualquer lugar
que fosse: era assim que dona Leonor percorria sua casa, localizada nas
proximidades da Rua das Pitangueiras e que já não existe mais, até a Igreja de
Vila Arens. Claro que domingo de manhã isso era sagrado! Mas tardes de sábado e
as de domingo também faziam parte de seu calendário. E ela participava destas
missas onde era a responsável pelo grupo de cantores. Casada com Aureo Cardoso,
que aprendera música de ouvido e não sabia ler partituras, dona Leonor cuidava
do pequeno coral de crianças da Cruzada Eucarística Infantil de Vila Arens e
era uma das poucas pessoas que subia até o órgão de tubos instalado na parte superior da
nave principal da igreja, bem lá no fundo. Me lembro que apenas ela e dona
Florisa se aventuravam a tocar naquele órgão que hoje, imagino, esteja esquecido.
E dona Leonor era quase sempre a primeira pessoa a chegar
para a missa: ajeitar as partituras de acordo com o domingo litúrgico,
verificar a afinação do equipamento, orientar as crianças e fazer com que tudo
corresse perfeito. E era assim que acontecia! Dona Leonor não era muito de ir à
frente durante as reuniões para dar uma aula de catequese ou explicar o
evangelho. Entrava e se diria ao fundo da sala, sempre esperando ser convocada
a falar. E quando isso acontecia, era perfeita no que fazia e dizia.
Mas dona Leonor gostava mesmo era de ensaiar com as
crianças. Um dia para ensaios de cânticos – e geralmente levava as crianças até
o coro junto ao grande órgão para que todos pudessem apreciar a beleza da
igreja que hoje não tem mais a pintura inicial. Outro dia o ensaio era para
festas de aniversários dos padres: e os ensaios eram de peças teatrais –
pequenas, é verdade! – mas ela exigia o máximo de todos: E o espetáculo
acontecia no salão paroquial de Vila Arens, que depois virou Cine Vila Arens e
que desapareceu quando os cinemas sucumbiram ao aparecimento dos shoppings...
Geralmente o salão ficava lotado, com discursos,
apresentações de todas as pastorais e as crianças da Cruzada faziam sucesso.
Primeiro porque eram crianças e segundo porque dona Leonor havia exigido o
máximo nos ensaios. E ainda ficava escondida atrás da cortina para “soprar”
palavras que as crianças esqueciam. As crianças ficavam com o sucesso, mas dona
Leonor ficava com os abraços, os agradecimentos, o carinho dos “atores”.
Simples assim: porque dona Leonor era a segurança e o alicerce de todos!
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