terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PERSONAGENS (3) Dona Leonor e a Cruzada

Pastas contendo partituras e textos de peças teatrais e, na outra mão, sua bolsa pessoal. Sempre, todo dia, toda hora, em qualquer lugar que fosse: era assim que dona Leonor percorria sua casa, localizada nas proximidades da Rua das Pitangueiras e que já não existe mais, até a Igreja de Vila Arens. Claro que domingo de manhã isso era sagrado! Mas tardes de sábado e as de domingo também faziam parte de seu calendário. E ela participava destas missas onde era a responsável pelo grupo de cantores. Casada com Aureo Cardoso, que aprendera música de ouvido e não sabia ler partituras, dona Leonor cuidava do pequeno coral de crianças da Cruzada Eucarística Infantil de Vila Arens e era uma das poucas pessoas que subia até o órgão de tubos instalado na parte superior da nave principal da igreja, bem lá no fundo. Me lembro que apenas ela e dona Florisa se aventuravam a tocar naquele órgão que hoje, imagino, esteja esquecido.
E dona Leonor era quase sempre a primeira pessoa a chegar para a missa: ajeitar as partituras de acordo com o domingo litúrgico, verificar a afinação do equipamento, orientar as crianças e fazer com que tudo corresse perfeito. E era assim que acontecia! Dona Leonor não era muito de ir à frente durante as reuniões para dar uma aula de catequese ou explicar o evangelho. Entrava e se diria ao fundo da sala, sempre esperando ser convocada a falar. E quando isso acontecia, era perfeita no que fazia e dizia.
Mas dona Leonor gostava mesmo era de ensaiar com as crianças. Um dia para ensaios de cânticos – e geralmente levava as crianças até o coro junto ao grande órgão para que todos pudessem apreciar a beleza da igreja que hoje não tem mais a pintura inicial. Outro dia o ensaio era para festas de aniversários dos padres: e os ensaios eram de peças teatrais – pequenas, é verdade! – mas ela exigia o máximo de todos: E o espetáculo acontecia no salão paroquial de Vila Arens, que depois virou Cine Vila Arens e que desapareceu quando os cinemas sucumbiram ao aparecimento dos shoppings...

Geralmente o salão ficava lotado, com discursos, apresentações de todas as pastorais e as crianças da Cruzada faziam sucesso. Primeiro porque eram crianças e segundo porque dona Leonor havia exigido o máximo nos ensaios. E ainda ficava escondida atrás da cortina para “soprar” palavras que as crianças esqueciam. As crianças ficavam com o sucesso, mas dona Leonor ficava com os abraços, os agradecimentos, o carinho dos “atores”. Simples assim: porque dona Leonor era a segurança e o alicerce de todos!

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