Chamado carinhosamente de “Nono” por todos, Arlindo Cardoso
circulava pela redação do Jornal da Cidade quando lá estive entre os anos de
1970 e 1976. Mesmo não sendo seu departamento, seu Arlindo passava muitas
vezes, durante o dia, pela redação. Afinal, sua área era a publicidade, uma
sala ao lado. E era ali que mantinha seus contatos, recebia clientes, fazia
suas ligações telefônicas e escrevia. E como escrevia!!! Ferroviário
aposentado, tinha apenas dois dedos numa das mãos, por conta de um acidente de
trabalho, mas isso não o impedia de cumprimentar as pessoas e escrever,
datilografar naquele tempo. E era mais rápido do que muitos que tinham todos os
dedos disponíveis para este trabalho.
Na verdade, no tempo do jornal reencontrei seu Arlindo.
Costumava vê-lo nas manhãs de domingo comentando futebol no campo do Dragão
Mecânica, na Vila Progresso, em Jundiaí, onde hoje a Sifco tomou conta do
lugar. O destaque das décadas de 1950 e 1960 era o Primavera, equipe do bairro
que disputava o amador e, neste campo, recebia seus adversários.
Ele e Paes Neto eram os responsáveis pelas transmissões da
rádio Difusora na época. Paes Neto era o locutor, transmitindo o jogo e “Nono”
fazia os comentários. Eu ficava ao lado da mesa dos dois, olhando um gritar
gols e o outro tecer comentários, contar histórias, fazer piadas. Cardoso era
puro humor. Qualquer coisa, para ele, era motivo para virar piada! E quando o
revi anos mais tarde, me lembrei de seu tempo de rádio e Paes Neto também
estava no jornal, mas acabou saindo logo.
E foi neste tempo de jornal que o “Nono” desenvolveu suas
histórias, criou seus cadernos, desenvolveu seus textos. Uma vez por semana
mantinha uma página, onde divulgava empresas e era ali que tinha uma coluna
chamada “Quintaferina”, exatamente porque este era o dia que divulgava seu
trabalho, faturado arduamente durante muitos dias de pesquisa e negociações.
Nesta coluna ele fazia humor, contava piadas e provocava a reação alegre de
leitores que ligavam para a redação a fim de cumprimentá-lo.
O humor de “Nono” nunca desapareceu. Mesmo quando estava
sério e alguém o provocava para saber o que se passava ele já tinha uma saída
clássica: “estou pesquisando uma nova piada”. Mesmo estando ocupado, quando
alguém passava e o convidava para um café, largava tudo para saborear aquele
produto, sempre acompanhado por um cigarro.
Companheiro inseparável de Paulo Furuta, os dois sempre
mantiveram uma grande carteira de clientes dentro do jornal. E nos espaços
trabalhados por ambos era óbvio vermos textos de Arlindo Cardoso e fotos de
Paulo Furuta. Mas era comum ver textos de um e fotos do outro em reportagens do
dia a dia. Afinal, vagando pela cidade, o “faro” jornalístico de ambos
trabalhava muito e aí chegavam com histórias e fotos de algo que virava
destaque na edição do dia seguinte.
Não o vi partir. Afinal deixei o jornal bem antes disso! Não
sei precisar quando ele deixou este mundo para escrever a história do paraíso
celeste, mas se não foi, imagino que seja numa quinta-feira. Só para lembrar de
suas histórias publicadas no jornal. E ao fazer uma pesquisa na internet para
ver se encontrava algo relevante sobre o “Nono”, apenas descobri que virou nome
de rua, como tantos outros jornalistas que viveram nesta cidade...