quarta-feira, 26 de março de 2014

As viagens de sonhos de Maria Josefina (No meu tempo de criança – XXVI)

Passeio de Jundiaí a Piracicaba, no trem da Sorocabana, era algo inesquecível. Principalmente porque o objetivo era visitar a avó de Maria Josefina. Ela se sentia uma privilegiada com relação às irmãs, pois nascera lá, enquanto estes eram naturais de Jundiaí e aqui não tinha aquele rio que ela achava maravilhoso e enorme, com queda d’água e o engenho de cana de açúcar ao lado. Por tudo isso, Maria, que era Josefina, poias as irmãs também eram Maria - a de Lourdes e a Teresa - considerava Piracicaba a cidade mais linda do mundo. Na noite anterior ela quase não dormia de tanta ansiedade. Maria Josefina se lembra de sua mãe, insistindo para tomar café antes de saírem para pegar o trem, mas nem ela, nem as irmãs queriam se alimentar. O desejo era pegar o trem. E dentro do trem, a família abria as cestas com lanches – pão com mortadela – e tudo era devorado. Da estação de trem até a casa de sua avó, a família ia de bonde – “coisa que Jundiaí não tinha”, lembra Maria Josefina – achando esta nova etapa da viagem uma maravilha! De dentro do trem, de dentro do bonde, ela ia vendo tudo, apreciando as paisagens! Na casa de sua avó tinha uma cadeira de balanço e era uma boa disputa ver quem conseguia cumprimentar todos os parentes, o mais rápido possível, e correr para a cadeira. E as lembranças na casa da avó são muitas: a mesa enorme e cheia de balas de noiva – feitas pela tia para vender. E o rosto de Maria, agora brilha, lembrando: “Tinha ainda o abacateiro... e o açúcar cristal! Tudo na casa de minha avó era uma grande festa”. Seus olhos brilham com as lembranças, seus lábios sorriem, sua mente voa! É Por isso que hoje o que Maria Josefina mais gosta de fazer é viajar... (Uma história de Maria Josefina Rodrigues Gaspar. Texto: Nelson Manzatto)

quinta-feira, 20 de março de 2014

O grande coração do pequeno Adenilson (No meu tempo de criança XXV)

Por morar na rua Emile Pilon, o pequeno Adenilson muitas vezes fazia pequenas compras para sua mãe no Russi da Vila Arens. E o caminho de ida e o de volta eram um lazer para o garoto que não tinha mais que 12 anos. E é comum, na hora de preparar o almoço, a dona de casa perceber que faltou algum ingrediente... E Adenilson, sempre prestativo, jamais negou esta ajuda à sua mãe. E na manhã de um lindo dia de sol, lá vai o garoto para mais uma compra para o almoço. E é na fila do caixa que a história se faz e se torna inesquecível. Enquanto espera para passar seus produtos, o garoto percebe que a mulher – “muito simples”, como ele diz – que está na sua frente devolve um pacote de feijão, porque o dinheiro que tinha não era suficiente para pagá-lo. E os olhos do garoto brilham! Colocou a mão no bolso, conferiu o que tinha e se propôs a pagar o feijão da senhora. Claro que ela agradeceu, claro também que prometeu lhe pagar, mesmo ele tendo dito que não precisava, que estava tudo certo. O garoto passou seus produtos e... ufa! O dinheiro que lhe sobrou no bolso foi exatamente igual ao valor da compra. Não tinha troco! Mas Adenilson voltou para casa feliz por ter ajudado alguém. Claro que ele contou em casa o que ocorrera, claro que a mãe não deixou de lhe dar uma bronca, mas... Nada iria estragar, naquele dia, a alegria do menino. E se o mundo dá muitas voltas, numa delas, num belo dia, a campainha da casa da família Perboni toca e o pequeno Adenilson vai atender. Por feliz coincidência, ao abrir a porta, ele se depara com aquela senhora que descobriu – e ele não sabe como – seu endereço. Disse que estava ali para agradecer mais uma vez a ajuda de dias passados e lhe devolveu o dinheiro. Os olhos dos dois brilharam de satisfação, os lábios sorriram, as mãos agradeceram. Um não perguntou o nome do outro, mas a lembrança deste fato marcou profundamente a vida de Adenilson. (Uma história de Adenilson Perboni. Texto: Nelson Manzatto)

sábado, 15 de março de 2014

Ana Maria comanda a bicicletinha verde! (No meu tempo de criança! XXIV)

Nem sempre dores e doenças podem ser motivos para tristeza eterna. Principalmente quando se é criança. E esta é a infância de Ana Maria Panzoldo, hoje Imperato. Terceira e última filha do casal, ela lembra que, ainda na barriga de sua mãe, seu pai ficou tetraplégico, prenúncio de dificuldades. Mas Ana Maria garante que teve uma infância muito feliz. Seu avô tinha um sitio em Cabreúva e ali havia um alambique e, por conta disso, ele estava toda semana fazendo entregas de pinga em Jundiaí. E a alegria de Ana Maria subia no caminhão e seguia para o sitio para curtir momentos de criança feliz. A convivência com primos que moravam naquela cidade e de alguns amigos era grande, pois toda semana ela estava ali. As brincadeiras entre todos envolviam, além da inocência de criança alegre, envolvia cantar, dançar, correr pelas terras do sítio e isso enchia a pequena menina de felicidade. Foi no campo de futebol que havia ali que Ana Maria viveu a maior realização de qualquer criança. Claro que não foi jogar futebol, que na década de 1960 não era coisa de mulher ainda, mas foi ali, no campo, que Auro Malvezi, seu amigo, lhe proporcionou um momento inusitado: Ele tinha uma bicicletinha verde e colocou a pequena Ana Maria no comando da mesma. Ela se sentiu segura com as mãos de Auro a apoiando e, de repente, por alguns metros a soltou e ela pedalou sozinha, com o vento batendo em seu rosto. No início, uma reação de medo, mas depois!. Ah! Depois... uma sensação de alegria, de paz, de liberdade, de vitória! E hoje, a lembrança da bicicletinha verde é comum em sua memória e Ana Maria sente um carinho enorme pelo amigo que lhe mostrou o caminho da alegria... (Uma história de Ana Maria Panzoldo Imperato. Texto: Nelson Manzatto)

segunda-feira, 10 de março de 2014

E Angélica sonhava ser bailarina...(No meu tempo de criança – XXIII)

Criança comum é criança comum. Igual a tantas outras, com brincadeiras, sonhos, sonhos e, claro, muitos sonhos! Angélica era assim: uma menina como as outras, brincava de bonecas, de casinha, frequentava a escola... Mas seu interior era cheio de sonhos. Sonhos grandiosos... Sonhos de dança, de ser uma grande bailarina! As aulas de balé não eram simplesmente aulas: eram para ela verdadeiros espetáculos! A menina que sonhava, imaginava-se num grande palco, voando em seus passos e piruetas... Pisava em nuvens quando estava na ponta dos pés, se sentia leve, flutuava... A sala de aula se transformava, o cenário se formava e a menina se sentia como se estivesse no céu, bailando e brilhando. Voando em sua imaginação. Passos leves, pontinhas dos pés... mãos sobre a cabeça... como que... como que tentando voar, bater asas! Tocar o céu com as mãos. E hoje tudo se transformou... O sonho da doce menina de bailar, ficou guardado na memória, na lembrança. Angélica, hoje, deixou o bailar na lembrança. A vida mudou, se transformou. O sonho de menina deixou de existir e sua vida, hoje, é a dedicação ao trabalho, ao cuidar dos enfermos em hospitais... E quando o dia passa e a noite chega, a memória de Angélica, hoje, viaja para o passado, para os tempos de criança e lhe surge o sentimento de felicidade e sua mente brinca e sonha e o traje do bailado lhe vem à memória, o sorriso de criança surge em seu rosto, e o palco se enche de luzes, a plateia silencia, a orquestra inicia os acordes e a menina baila, flutua, busca o céu com as mãos no doce passo, no caminhar seguro para a felicidade. E a menina que sonhava ser bailarina esquece o dia, o trabalho e sorri segura de que o bailado em sua mente é a certeza de um tempo que não volta mais, mas permanece doce e suave em sua memória!(Uma história de Angélica Barboza. Texto: Nelson Manzatto)

terça-feira, 4 de março de 2014

Uma infância nunca perdida (No meu tempo de criança – XXII)

Nasci numa cidade do interior do estado de São Paulo, onde todo mundo conhecia todo mundo, e também havia comadres e compadres em todas as esquinas a manterem as vidas uns dos outros sempre atualizadas. As casas não eram tão juntas umas das outras, não existiam prédios com seus andares intermináveis, mas a proximidade das pessoas não se media: éramos como uma grande família sempre disposta a cuidar dos filhos pequenos da vizinha numa qualquer necessidade. Toda mulher mais jovem era chamada, pelos pequenos, de "tia" e todas as senhoras idosas eram eternas "avós" de toda aquela prole de famílias que não se preocupavam com o número de filhos. Lembro-me, até hoje, acordávamos cedinho com o som do radinho de pilhas do meu avô que não perdia um programa do "Zé Bétio", e pela casa exalava aquele cheirinho de café moído na hora pela minha avó que sovava pão um dia sim outro não, com a própria força dos punhos para que pudéssemos tomar o café da manhã antes de começar a brincadeira, que por sinal nunca era dentro de casa que era eternamente limpa. Tínhamos um quintal que não era murado, mas o perigo aparentemente não existia, todos cuidavam das crianças. Sempre à tarde aparecia uma comadre, muitas vezes com uma tigela de doce de abóbora quentinho ainda. Era um comércio sem renda nenhuma: minha avó fazia pão e mandava embrulhado em pano de prato alvejado para a vizinha, a mesma que aparecia com o doce. Era um costume que não se perdia, pois eram muito comuns essas visitas que com o tempo se repetia na casa de meus pais. Essas lembranças se reavivam em minha memória, toda vez que sinto o cheirinho de pão caseiro ou vejo um delicioso doce de abóbora que muitas vezes eram saboreados juntos. Nossas brincadeiras, aquelas que as crianças de hoje desconhecem, eram na maioria das vezes realizadas sem brinquedo nenhum. Tinha muita correria! Subir em árvores era minha preferida, os meninos faziam bolas com meias velhas e as meninas brincavam de serem mães como se treinassem para um futuro próximo. As brincadeiras de roda, quase sempre, eram compartilhadas por alguma mocinha da família, que ainda era tratada como criança, mas já tinha suas responsabilidades domésticas. A saudade daquela época é iminente, mas tenho plena certeza de que vivi em tempo que enquanto se brincava criava lembranças inesquecíveis. Lembranças essas que poderão ser reativadas a qualquer momento. Basta ouvir o som do "Zé Bétio". (Uma história de Vânia Regina Correia. Texto: Vânia Regina Correia)