sábado, 26 de julho de 2014

Brincadeiras de infância no sítio dos tios de Antonio Geraldo (No meu tempo de criança XXXVI)

Quando janeiro chegava e trazia em sua bagagem as férias sonhadas, a alegria e a felicidade tomavam conta de Antonio Geraldo. Afinal, era hora de transformar em realidade os momentos sonhados durante o ano todo e seguir para o sítio dos tios Nino e Isaura, no Caxambu, bairro da Roseira, em Jundiaí. Era ali que se podia brincar à vontade com o primo Nei que sempre estava ansioso esperando pela chegada de Antonio e desfrutar dos longos caminhos entre o pasto com os bois, no paiol, para debulhar milho ou se esconder entre as palhas secas e quebradiças do local. A cada dia que Antonio permanecia no sítio, surgiam novas brincadeiras, uma mais surpreendente que a outra e os animais ali existentes sempre fizeram parte de sua vida. Durante as tardes cheias de sol, os primos corriam pelo campo, junto com os cães viralata dos vizinhos e apostavam corrida com eles. Claro que a vitória era sempre do marronzinho Joli, mas era uma alegria brincar assim... sem compromissos! E ao final do dia, na hora do sol se por, eles chegavam na casa do sitio, completamente amarronzados, com capim espalhado pelo corpo e suados de tanto correr e brincar. Mas nada de broncas dos tios, afinal, as crianças chegavam felizes à casa do sítio e tia Izaura e tio Nino esperavam a todos com um pão caseiro fresquinho, feito no forno à lenha, e mortadela que perfumava a casa toda. Se não bastasse isso, lá vinha também o leite que acabara de ser tirado da vaca, com café coado na hora. O hummmmmmmmm que percorria os ares da casa, num eco de aprovação por tudo o que acontecia naquela hora! Não havia nada mais agradável para Antonio do que estas férias cheias de paz, alegria e muita, muita brincadeira: um primo Nei, muitas aventuras pelo sítio, tios inesquecíveis, uma produção de uva que perdura até hoje e uma saudade de tomar a máquina do tempo, marcar novamente os anos de 1970 e voar para o Caxambu. Só pra ser criança outra vez!!! (Uma história de Antonio Geraldo Marquesim. Texto: Nelson Manzatto)

sábado, 19 de julho de 2014

Junho transpira saudade na vida de Paulo Roberto (No meu tempo de criança XXXV)

Quando mês de junho chegava, os moradores da Vila Mecânica já sabiam que era tempo de festa. Principalmente quando era São João. Já de manhãzinha, a garotada se agitava. Era uma verdadeira maratona para arrumar lenha para a fogueira. Paulo Roberto Poli não esquece estas emoções! Ele se lembra que os maiores saiam à caça de tocos que manteriam a fogueira acesa por mais tempo. As mulheres se agitavam na cozinha, preparando guloseimas: eram doces, bolos, sucos e quentão. Vinho quente ainda não era tradição, lá pela metade da década de 1960, início da de 1970. Tudo isso era preparado ali, onde hoje tem a Sifco e o Sesi, onde os garotos jogavam bola e, nesta data ocorria a festa. E lá vem a noite caindo, lá vem o pessoal chegando, com sorriso nos lábios, prontos para as emoções que iriam acontecer em breve. A primeira ação era rezar diante das bandeiras dos santos. Paulo se lembra que era aquela, em forma de triângulo, com as figuras de Santo Antonio, São Pedro e São João. Tudo muito bem enfeitado, com flores e cipó de São João. Depois da reza, as bandeiras eram levantadas no mastro, debaixo de muitos fogos e aquela festa da criançada. Fogueira acesa! E começava a festança ao som dos Long Plays (saudade deles...) de Mário Zan e sua sanfona. E o garoto Paulo apreciava a noite fria caindo e a busca pelo aquecimento ao redor da fogueira, comendo amendoins, pipocas, arroz doce, canjica, pinhão e bolo de fubá. E Paulo se diverte ao se lembrar disso tudo, pois, como ele mesmo diz, “parece que não se faz mais frio como antigamente, pois a gente nem chega a bater o queixo...” E tinha agente que se arriscava a assar batatas na fogueira. Paulo diz que sente o sabor das batatas ate hoje e as queimadas na boca também... E dá-lhe fogos! Um verdadeiro show, um espetáculo, com fósforos coloridos, busca-pés, vulcões e bombinhas. Ah! Claro! Balões, muitos balões. Naquela época haviam muitos bolões no céu! E não eram pequenos. Chapéu de Padre, Nossa Senhora, Mexerica, Charuto, Zeppelin, Caixa, Estrela, tomavam conta do céu! Verdadeiras obras de arte. E todo mundo ajudando a segurar os balões, esperando até ficarem bem cheinhos de ar quente e aí... aí soltar e ver o balão subindo, subindo e passeando pelo céu. Era lindo ver aquela imagem majestosa e colorida, iluminado pela “tocha” de fogo. Tocha feita de estopa e tudo mais que era inflamável, como breu, parafina, cera e, por último o querosene... E depois que o balão subia, acompanhávamos até virar um pontinho luminoso no céu... E sempre que junho se diz presente no calendário, Paulo sonha, viaja. Sua mente flutua no espaço como os balões! E lhe vem a lembrança das alegrias de criança, de sentir o frio, o cheiro da lenha queimada, o gosto dos doces, o som das músicas e a devoção das rezas daquelas noites de junho... (Uma história de Paulo Roberto Poli. Texto: Nelson Manzatto)

sábado, 12 de julho de 2014

A benção do padre Donizete

Existem situações que se tornam marcantes em nossas vidas. E estas situações começam a fazer parte de nossas vidas quando se tornam constantes. E, religiosamente falando, isso começou a acontecer, lá pelas décadas de 1950/1960: quando o relógio marcava 18 horas, lá em casa,o rádio estava sintonizado na rádio Nacional, hoje Globo. Objetivo era acompanhar a palavra de Pedro Geraldo Costa e terminar com a benção do Padre Donizetti que trabalhava na igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Tambaú, interior de São Paulo. Pedro Geraldo Costa fazia orações para Nossa Senhora, comentava fatos do cotidiano, graças recebidas e milagres feitos por padre Donizetti Tavares de Lima, ainda em vida. Ao final do programa, que não tinha mais do que dez minutos de duração, o apresentador abria espaço para, por telefone, ouvir as palavras de padre Donizetti. E o programa encerrava com sua benção: “Benedicat vos omnipotens Deus: Pater, et Filius, et Spiritus Sanctus.” E Pedro Geraldo Costa respondia “Amém!” Quando o padre faleceu, em 1961, a benção continuou sendo dada. Pedro Geraldo Costa colocava no ar a gravação da benção, pedia para as pessoas colocarem um copo com água ao lado do rádio e soltava a voz do padre. Romarias aconteciam e ainda acontecem a Tambaú, Pedro Geraldo Costa já faleceu em 1990, mas as lembranças de sua presença no rádio quando eu e meus irmãos eram ainda pequenos perduram até hoje. Claro que a noite não se resumia apenas ao programa “Hora da Ave Maria”, mas para as crianças, o que valia mesmo, depois da benção do padre Donizetti era mudar de estação, sintonizar a rádio Piratininga e ouvir o seriado “Juvêncio, o justiceiro do sertão”. Mas minha mãe já tinha passado o copo de água abençoada pelo padre Donizetti para que cada filho tomasse um gole.