Meu primeiro emprego não durou mais que dois meses, mas foi
uma experiência interessante, tanto que não fui procurar, ele apareceu para mim
e nem idade pra isso tinha ainda. Ademir, meu irmão mais velho, no começo de
1964 resolveu, de uma hora para outra, fazer vestibular em Piracicaba.
Trabalhava na oficina mecânica de meu tio e de meu primo: “Perboni &
Marquezim” e, pela decisão repentina, pediu que eu fosse até lá para avisar
que, por três dias não iria trabalhar, por conta do vestibular. E lá fui eu,
nos meus 13 anos, informar os donos da oficina que meu irmão ficaria ausente. O
trabalho dele era simples: atender telefone, anotar nas fichas dos clientes o
serviço executado e peças colocadas ou ir às autopeças comprar o que era
necessário.
Secondo Perboni ou Segundo Perboni era meu tio. Onivaldo
Marquezim, meu primo. Entrei na oficina e informei meu tio do acontecido. Ele
me olhou e simplesmente me disse: “então senta aqui e vai atendendo ao telefone
e o que os mecânicos querem. Me ajude que tenho o que fazer.” No fundo da oficina ouvi meu tio informando
meu primo da minha presença. E meu primeiro emprego acabou sendo na oficina de
meu tio Segundo.
Atender telefone representava ter que gritar da mesa da
recepção até o fundo da oficina, para quem era a ligação e eu morria de
vergonha de fazer isso. Tanto que preferia levantar e ir até a pessoa que
deveria atender ao telefone e avisar da ligação. E muitas vezes o mecânico
estava debaixo do caminhão, cantando ou reclamando do vazamento de óleo ou da
porca que tinha se perdido do parafuso. E eu tinha que gritar para avisar do
telefone.
Mas tio Segundo era rápido em resolver as coisas, em ver as
fichas e conferir o que estava ali anotado. Isso ele fazia todo dia,
controlando entrada e saída de dinheiro e vendo meu trabalho. Mas Ademir voltou
do vestibular e a primeira coisa que fez foi conversar com Segundo sobre o que
fizera, se desculpar pela situação criada e dizer que eu já podia ficar em
casa. Meu tio olhou para mim, sorriu e simplesmente disse: “ele dá conta do
recado, deixa ficar por aí até que a gente tem dinheiro paga pagar”. E fui
ficando um mês, dois meses, três meses. Mas este trabalho me proporcionou o
conhecimento de outras pessoas e a ver como meu tio trabalhava.
Foi pouco o tempo ali trabalhado, mas aprendi a admirar este
homem simples, de macacão sujo de graxa, mas que tinha um cuidado especial em
sempre manter limpas as mãos, porque sempre aparecia um cliente. E ele gostava
de cumprimentar a todos.
Mas 25 anos depois disso, depois de visitas, agora não mais
como patrão e empregado, mas como tio e sobrinho, Segundo Perboni deixou este
mundo, como tudo em sua vida: de um jeito muito simples e rápido, mas que
deixou uma saudade imensa em todo mundo!