quarta-feira, 28 de agosto de 2013

As muitas vidas de Puppy

Se é verdade que gatos têm sete vidas, com certeza, Puppy não ficou muito atrás disso e nem era deste gênero animal. Até porque era comum ouvi-lo latindo, o que significava que era um cão... Filhote de perdigueiro com vira-lata ou qualquer cão com raça indefinida, Pyppy chegou em casa com um currículo invejável: tinha sido envenenado duas vezes. Mas estava ali, firme, forte, como se nada tivesse acontecido! Cão de grande porte, branco, com manchas amarelas e marrons pelo corpo, Puppy foi morar com minha família em Campinas, depois da morte de Pituca, uma cachorrinha pequinês que morrera, fazia pouco tempo, envenenada! E Puppy chegou no final dos anos 80, quando a casa de minha família, em Jundiaí, foi vendida e meus irmãos e meu pai foram morar num imóvel menor. E Puppy se adaptou facilmente à nova vida. Dócil, Puppy sempre se sujeitou a coisas que poderiam parecer impossíveis, como por exemplo brincar de cavalinho com meu filho de três, quatro e depois cinco, seis anos... Sua alegria era passear pela casa, mas tinha um problema sério: morria de medo de rojões. Certa vez, um grupo de garotos resolveu infernizar a vida dele, quando não estávamos em casa, jogando bombas no quintal. E Puppy chegou a atravessar uma grade, machucando seus ossos, para fugir desta maldade. E na metade da década de 90, quando voltamos a morar em Jundiaí, Puppy nos acompanhou e, por conta de seu jeito calmo de ser, deixávamos o portão da rua aberto, para que pudesse dar suas voltinhas na rua. Voltava, tomava água, comia sua ração e, quando cismava, lá estava novamente dando suas voltinhas. E foi numa delas que Puppy sumiu! Percorremos ruas, quarteirões, olhamos pelas casas, chamamos por seu nome e não haviam respostas. Mas foi num final de tarde que, lá na esquina, sujo, mancando, machucado, faminto... que Puppy apareceu. Dez dias depois... Nunca nos contou por onde andou, nunca ficamos sabendo, mas o fato é que três dias depois estava refeito das dores e brincando normalmente com todos. Se gostava de passear pela casa, Puppy tinha suas paixões. Um dia, no quintal de casa encontramos Jully, uma cadelinha que morava três quarteirões abaixo de casa. E imaginamos que os dois se conheceram nas idas e vindas de Puppy pelas ruas do bairro. Certa noite, quando Rita, minha esposa, rezava o terço com as vizinhas e explicava a elas o Evangelho, Puppy entrou pela porta da sala, sentou-se no meio dela, e ficou atento à pregação de Rita que fez um enorme esforço para não rir da cena. Mas como nada na vida é eterno, Puppy envelheceu, não conseguia mais enxergar, seus passeios se resumiam ao portão, ignorando a rua. Seu latido desapareceu, a alimentação era dada em sua boca, assim como a água, pois as pernas já não o ajudavam a dar mais do que três ou quatro passos. E no começo de 2000, depois de 12 anos vivendo conosco, Puppy deu sinais de que o fim estava próximo. Não adiantou carregá-lo até o carro e levá-lo ao veterinário. O silêncio dos últimos dias deixou marcas profundas,mas ficou a certeza de que um grande amigo não desaparece quando vai embora porque seu jeito carinhoso de agir se perpetua em nossas memórias e deixa recordações infindáveis!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O “cineminha” do Credi City

Apesar de ter nascido em 1950, a televisão ainda engatinhava no final daquela década e inicio dos anos de 1960. E era fundamental a propaganda como forma de divulgação de lojas e produtos. E Jundiaí teve um grande marqueteiro, focando sua propaganda na melhor maneira possível. Assim, no Centro surgiu o primeiro grande prédio da região, onde foi instalada a loja Credi City. Hoje, no local existe o Magazine Luiza, na rua Barão de Jundiaí, esquina com a rua da Padroeira. O texto poderia parecer mais um comentário jornalístico do que uma simples recordação de um tempo que só existe na memória de alguns. E a minha registra que, nesta época, por volta das 18 horas, quando a noite começava a chegar, a parede do prédio, localizada na direção da Catedral, no alto, à esquerda, tinha início a projeção de slides comerciais. Eram propagandas de lojas da região central, inclusive do próprio Credi City, muitas delas em forma de desenho animado. Mas tudo sem som. Rei das Roupas Feitas, Lojas Magalhães, Cines Marabá e Ipiranga, Cica eram algumas das propagandas exibidas e que a gente, da minha casa, na Vila Progresso, na avenida São Paulo, conseguíamos ver e que chamávamos de “cineminha”. A distância parece estranha, mas víamos sem problemas a exibição. Não haviam prédios nesta época, as árvores nas ruas ou não existiam ou eram pequenas, o que significava que não tinha como não ver o alto prédio do Credi City, bem no centro da cidade, projetando os slides comerciais. O melhor lugar para assistirmos era da janela do quarto de nossos pais. Subíamos, eu e meus irmãos, na cama, para ter uma visão melhor. Para não haver briga – e sempre havia... – uma vez cada um estava sobre a cama. O problema é que isso acontecia, como disse, no início da noite, o que significava que tínhamos que jantar. E meu pai era rigoroso com relação ao horário. E seis e meia era hora de jantar... O curioso é que sabíamos a sequencia dos comerciais... “Agora é da Cica... agora é do Rei...”, gritava um ou outro irmão, tentando adivinhar, mas já sabendo que iria acertar. E quem era mais rápido, vibrava com o acerto. Mas a exibição era rápida. Não passava de uma hora. A gente imaginava que era para chamar atenção de quem estava no Centro, saindo do trabalho ou procurando um dos cinemas para a sessão da noite. O horário de exibição só era prorrogado em dezembro, quando o comércio ficava aberto até mais tarde e o movimento no Centro era grande. Mas não tínhamos como assistir de casa, exatamente por conta do horário da janta. Então, uma vez por semana, pedíamos autorização para nossos pais para darmos uma volta na cidade, com a desculpa de ver vitrines. E chegando perto da Catedral, ao lado da Galeria Bocchino, parávamos para ficar vendo o que chamávamos de “cineminha”. Mas neste local, um grupo grande de crianças fazia a mesma coisa. Os adultos passavam comentando o que a criançada fazia, mas seus olhos passavam pelo alto do prédio do Credi City. Só para ver que comercial estava sendo exibido...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

No meu tempo de criança!

Como participar do livro: A partir de outubro gostaria de publicar no meu blog, história de sua infância, transformada em crônica! Depois do blog esta crônica fará parte do livro “No meu tempo de criança!” (título provisório) e que deverá ser lançado na Bienal do Livro do ano que vem. O dinheiro arrecadado com a venda do livro será revertido para uma entidade assistencial. E você pode ir à Bienal e autografar a página onde está sua história! Para participar basta me encaminhar informações a respeito de um fato marcante de sua infância, como aquele tombo que você quis esconder de sua mãe por medo; ou o tempo em que você ia ao parque de diversões só prá sentar de graça na roda gigante; ou aquele bolo que você teve que comer na casa da vizinha, amiga de sua mãe, e dizer que estava uma delicia... Enfim, um fato marcante de sua infância que ainda hoje faz parte viva de sua memória! Você pode não escrever um livro, mas pode fazer parte dele! Envie detalhes de sua história inesquecível, participe do blog, do livro e esteja presente na Bienal do Livro de 2014. Você tem até o final deste ano para remeter sua história. Já tem gente mandando informações. Não fique de fora. Participe! Obrigado!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Lembranças

Outro dia, ao olhar para o calendário, me deparei que julho, que estamos no Dia dos Pais e já se completaram 23 anos de sua partida. Uma partida sem despedidas, silenciosa, como foram muitos os momentos de sua vida. Silenciosa, mas sempre com ação, com atenção… - Vamos jogar peteca pai? Seu silêncio era… era assim… inexplicável… Sabíamos o que dizia, sem dizer uma palavra. Seu olhar mostrava os passos que tínhamos que seguir. Sua mão, calejada, mostrava que a vida era cheia de caminhos a serem seguidos, de trilhas a serem abertas, de flores a serem semeadas só prá gente colher… Mesmo que fosse uma margarida ou uma palma… prá gente levar ao cemitério em finados… - Olha a peteca pai. Não deixe ela cair… Isso! Rebate… Engraçado… Os terrenos hoje são substituídos por cimentados, garagens, casas, prédios. Não há mais terras para plantarmos margaridas, as batatas de palma apodrecem sem espaço. Mas a passagem pelo cemitério tem motivos especiais. Afinal, pai, é lá que estão seus restos mortais. Bem próximos aos de mamãe que partiu dois anos antes, exatamente do mesmo jeito: silenciosamente! - Opa! Desculpe pai. Deixei a peteca cair! Claro que me lembro de seu sorriso. Mas era também um sorriso silencioso! Como o barulho do encontro de sua mão com a peteca: não se ouvia! E lá corria eu atrás dela, prá ela não cair. E se acertava, fazia um barulho oco, pois a pancada era torta, sem direção. E lá vinha o senhor, sem grande esforço… prá jogar a peteca prá cima. Prá gente se preparar prá rebater e não deixar que ela caísse. - Caiu de novo pai! Derrubei mais uma vez! Nestes mais de 20 anos, pai, muita coisa mudou. Claro que o senhor sabe que a peteca sumiu muito antes deste tempo que o senhor está ausente. Ela foi substituída por videogames, computadores. Não há espaço prá jogar peteca! E eu era um dos primeiros a correr aos canteiros só prá ver o senhor semear rúcula, alface, almeirão. Lembra disso? Nem este espaço existe mais… Sei que se lembra, sei que sabe das petecas desaparecidas. Sei que se lembra das poucas vezes que nossos olhos se cruzaram na subida e descida da peteca e na torcida para que ela não caísse. - Lá vem a peteca pai! Não permita que eu deixe ela cair!!! Saudade!

domingo, 4 de agosto de 2013

Na venda do seu Valentin

Fazer compras fora do dia da despesa do mês já tinha lugar definido: era na venda do seu Valentin, que ficava a menos de um quarteirão de casa e nós, crianças, não tínhamos dificuldades em carregar os produtos para casa. Isso, no final da década de 1950... Se a compra fosse grande, era necessário que dois irmãos fossem ao local das compras. Diferente dos dias de hoje, os produtos eram vendidos a granel. E lá vinha: um quilo de feijão, um quilo de arroz, um quilo de farinha de milho, um quilo de farinha de trigo. Gostoso era pedir um quilo de pó de café: e seu João ligava a máquina para moer o produto na hora e o cheiro se espalhava por toda a venda... E a gente corria para casa para que nossa mãe fizesse um cafezinho novo, prá gente não perder o cheiro transformado agora em sabor... Seu João era um dos vendedores, depois tinha o Jayme e o Bruno que eram irmãos e cunhados do primeiro. Os dois, por serem mais jovens eram jogadores de futebol e disputavam o Campeonato Amador da cidade, pelo Primavera. O Primavera “mandava” seus jogos no campo do Dragão Mecânica que hoje é um espaço a mais da Sifco do Brasil. A entrada principal do campo era em frente à Farmácia do Moacyr, próxima à Padaria União, onde seis horas da manhã eu levantava para comprar pão fresquinho e mandava marcar na caderneta... Mas na venda do seu Valentin não tinha caderneta: era tudo pago com dinheiro vivo! E seu Valentin, ficava sentado num caixote na porta da venda e acompanhava o movimento do local. Gostoso na hora da compra era ser atendido por seu João. Mais brincalhão, pegava o saco de papel, enchia a colher do produto e ia até a balança. Dizia que “o que passasse de um quilo” era de graça. A gente aceitava a brincadeira, mesmo sabendo que o peso seria preciso, pois a experiência na quantidade de produto era uma prática do vendedor. Mas algumas vezes seu João entrava na brincadeira e fazia o feijão ficar cem gramas mais pesado, mas o preço cobrado era o de um quilo. “Só pra agradar o cliente”, dizia ele quando a gente saía da venda todo feliz... Mas quando surgiu o tempo do pegue e pague, com o aparecimento dos mercados e supermercados, com os filhos e genro tendo herdado toda a venda, mas já aposentados, as portas se fecharam, o progresso acabou com os pequenos armazéns, mas as lembranças permaneceram firmes dentro de nós. Principalmente sentindo ainda hoje o cheiro do café moído na hora...