domingo, 4 de agosto de 2013

Na venda do seu Valentin

Fazer compras fora do dia da despesa do mês já tinha lugar definido: era na venda do seu Valentin, que ficava a menos de um quarteirão de casa e nós, crianças, não tínhamos dificuldades em carregar os produtos para casa. Isso, no final da década de 1950... Se a compra fosse grande, era necessário que dois irmãos fossem ao local das compras. Diferente dos dias de hoje, os produtos eram vendidos a granel. E lá vinha: um quilo de feijão, um quilo de arroz, um quilo de farinha de milho, um quilo de farinha de trigo. Gostoso era pedir um quilo de pó de café: e seu João ligava a máquina para moer o produto na hora e o cheiro se espalhava por toda a venda... E a gente corria para casa para que nossa mãe fizesse um cafezinho novo, prá gente não perder o cheiro transformado agora em sabor... Seu João era um dos vendedores, depois tinha o Jayme e o Bruno que eram irmãos e cunhados do primeiro. Os dois, por serem mais jovens eram jogadores de futebol e disputavam o Campeonato Amador da cidade, pelo Primavera. O Primavera “mandava” seus jogos no campo do Dragão Mecânica que hoje é um espaço a mais da Sifco do Brasil. A entrada principal do campo era em frente à Farmácia do Moacyr, próxima à Padaria União, onde seis horas da manhã eu levantava para comprar pão fresquinho e mandava marcar na caderneta... Mas na venda do seu Valentin não tinha caderneta: era tudo pago com dinheiro vivo! E seu Valentin, ficava sentado num caixote na porta da venda e acompanhava o movimento do local. Gostoso na hora da compra era ser atendido por seu João. Mais brincalhão, pegava o saco de papel, enchia a colher do produto e ia até a balança. Dizia que “o que passasse de um quilo” era de graça. A gente aceitava a brincadeira, mesmo sabendo que o peso seria preciso, pois a experiência na quantidade de produto era uma prática do vendedor. Mas algumas vezes seu João entrava na brincadeira e fazia o feijão ficar cem gramas mais pesado, mas o preço cobrado era o de um quilo. “Só pra agradar o cliente”, dizia ele quando a gente saía da venda todo feliz... Mas quando surgiu o tempo do pegue e pague, com o aparecimento dos mercados e supermercados, com os filhos e genro tendo herdado toda a venda, mas já aposentados, as portas se fecharam, o progresso acabou com os pequenos armazéns, mas as lembranças permaneceram firmes dentro de nós. Principalmente sentindo ainda hoje o cheiro do café moído na hora...

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