sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Lembranças

Outro dia, ao olhar para o calendário, me deparei que julho, que estamos no Dia dos Pais e já se completaram 23 anos de sua partida. Uma partida sem despedidas, silenciosa, como foram muitos os momentos de sua vida. Silenciosa, mas sempre com ação, com atenção… - Vamos jogar peteca pai? Seu silêncio era… era assim… inexplicável… Sabíamos o que dizia, sem dizer uma palavra. Seu olhar mostrava os passos que tínhamos que seguir. Sua mão, calejada, mostrava que a vida era cheia de caminhos a serem seguidos, de trilhas a serem abertas, de flores a serem semeadas só prá gente colher… Mesmo que fosse uma margarida ou uma palma… prá gente levar ao cemitério em finados… - Olha a peteca pai. Não deixe ela cair… Isso! Rebate… Engraçado… Os terrenos hoje são substituídos por cimentados, garagens, casas, prédios. Não há mais terras para plantarmos margaridas, as batatas de palma apodrecem sem espaço. Mas a passagem pelo cemitério tem motivos especiais. Afinal, pai, é lá que estão seus restos mortais. Bem próximos aos de mamãe que partiu dois anos antes, exatamente do mesmo jeito: silenciosamente! - Opa! Desculpe pai. Deixei a peteca cair! Claro que me lembro de seu sorriso. Mas era também um sorriso silencioso! Como o barulho do encontro de sua mão com a peteca: não se ouvia! E lá corria eu atrás dela, prá ela não cair. E se acertava, fazia um barulho oco, pois a pancada era torta, sem direção. E lá vinha o senhor, sem grande esforço… prá jogar a peteca prá cima. Prá gente se preparar prá rebater e não deixar que ela caísse. - Caiu de novo pai! Derrubei mais uma vez! Nestes mais de 20 anos, pai, muita coisa mudou. Claro que o senhor sabe que a peteca sumiu muito antes deste tempo que o senhor está ausente. Ela foi substituída por videogames, computadores. Não há espaço prá jogar peteca! E eu era um dos primeiros a correr aos canteiros só prá ver o senhor semear rúcula, alface, almeirão. Lembra disso? Nem este espaço existe mais… Sei que se lembra, sei que sabe das petecas desaparecidas. Sei que se lembra das poucas vezes que nossos olhos se cruzaram na subida e descida da peteca e na torcida para que ela não caísse. - Lá vem a peteca pai! Não permita que eu deixe ela cair!!! Saudade!

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