sábado, 29 de junho de 2013

Manza? É o Mazza!

Faz exatamente um ano que um amigo em particular se foi. Vivemos alguns anos trabalhando junto na imprensa local, exatamente na década de 1970. Eu era chefe de reportagem e ele, em início de carreira, um simples foca, aprendendo a ser jornalista. Um belo dia, o dono do jornal me chama em sua sala e pede a definição sobre os focas que trabalhavam no jornal: Sidney Mazzoni e um colega deste do colegial. Optei por manter na equipe Mazzoni, alegando ao dono da empresa que este tinha mais características para ser jornalista. Acertei na mosca! Na década seguinte, ele era editor-chefe do jornal e já trabalhava no Jornal da Tarde. Mas o tempo de trabalho junto não foi longo. Ele deixou a empresa para servir o Exército Brasileiro e, quando retornou, eu já não estava mais neste jornal. Mas apesar de não trabalharmos mais juntos, o contato nunca foi perdido. Era comum, onde quer que estivéssemos, um ligar para o outro para conversar. O assunto inicial era sobre o velho Palmeiras, time do coração de ambos, e que tantas tristezas e alegrias proporcionava a cada um. Vencido o assunto futebol, vinha o objetivo da ligação telefônica. Ah! Claro! Esqueci de dizer: quando um atendia o telefone, lá vinha o outro se identificando: “Manza? É o Mazza!” ou ao contrário, se a ligação partia de mim... E Mazza sempre esteve na primeira página de minha agenda telefônica, mesmo não fazendo parte da ordem alfabética. Mas fazia parte da ordem preferencial. Em 1984, quando perdi emprego num jornal em Campinas, foi ele quem me socorreu: “Manza? É o Mazza! Tem vaga prá você aqui quando quiser.” Fiquei feliz com a ligação, agradeci, mas não deu certo trabalhar com ele novamente. Aliás, nunca mais deu certo. Ele se mudou profissionalmente para São Paulo e no final do século passado, retornei a Jundiaí e acabei assumindo o Jornal de Jundiaí, um sonho que ele tinha de comandar. E foi o que fez em 2007, me substituindo no posto. E voltou de vez para Jundiaí e fez muito bem seu trabalho neste jornal. Mas se o mundo dá muitas voltas, tem algumas que a gente não sabe dizer porque foi interrompida. E Mazza não teve tempo de me ligar ou não quis me preocupar, pois no dia 30 de junho de 2012, quinze minutos antes da meia-noite, se desfez das mochilas, abandonou as teclas do computador e se foi depois de uma forte dor no peito! E agora, um ano depois, tem vezes que ouço o telefone tocar e ouvir do outro lado a voz firme e forte do amigo que se foi sem adeus: “Manza? É o Mazza! Saudade dos bons tempos!!!”

domingo, 23 de junho de 2013

Eu era fã da RJ!

O ano, imagino, seja o início de 1970. E foi um padre, com pouco mais de um metro e meio de altura que assumiu uma revolução na Vila Arens, em Jundiaí. E a revolução envolveu um grupo de jovens que seguiu os caminhos da oração e da canção. E nasceu a Revolução Jovem, a RJ, que citei aqui dia desses. Se o mundo vivia suas guerras e revoluções, Jundiaí ganhava a RJ, comandada pelo padre Victor Silva, um apaixonado pela música e pela oração! E estes jovens passaram, então, a comandar a missa das 9h30, chamada de Missa dos Jovens. Com música, muita música e animação. Jovens subindo e descendo as escadarias principais da igreja da Vila Arens, jovens sorrindo ao se cumprimentar, jovens que lotavam os bancos e participavam da celebração. Na maioria das vezes, acompanhados pelos pais. Meu grupo era formado por crianças e adolescentes, que participava da missa das 7h30, seguida de reunião semanal, terminando exatamente no horário em que começava a missa dos jovens. E sabíamos que nossa reunião deveria terminar, quando o primeiro canto, iniciado pelos violões chamava os jovens à celebração: “Sempre encontrando, sempre encontrando, sempre encontrando nosso irmão...” E o silêncio imperava na igreja para ouvir os jovens cantando... Terminando a reunião das crianças, eu subia os degraus da igreja e me postava na porta da mesma para ver e ouvir os jovens cantores: “Se uma boa amizade você tem, louve a Deus pois a amizade é um bem”. Os violões dos jovens e as vozes afinadas tinham, com certeza, a orientação do Padre Victor. E vinham melodias para provoca emoções: “Para mim a chuva no telhado é cantina de ninar...” ou ainda “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas...” e até mesmo “Porta Estandarte”, “Fica mal com Deus” ou ainda “Alô, bom dia!” eram algumas das canções que o coral jovem interpretava e os fiéis acompanhavam. O tempo passa, as pessoas se separam, se afastam umas das outras. Algumas nunca mais cruzam pelos nossos caminhos, mas outras se perpetuam em nossas mentes e corações. E no final da década de 1970 me casei, mudei para Campinas e, por sorte do destino, encontrei Padre Victor, comandando a paróquia Divino Salvador, no Cambuí. E foi ali que tive uma convivência maior com ele e aprendi a conhecer a força espiritual deste padre. E sempre que ele chegava ao altar para a celebração, mesmo sem cantar os perfumes das rosas que ficam nas mãos e sem cantiga de ninar, surgia diante de meus olhos o grupo da RJ tocando e cantando a beleza da vida... Pena que ele se foi tão cedo para poder formar o coro dos anjos no céu!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Na Legião de Maria

Início dos anos 60 meu irmão Ademir entrou na Legião de Maria, uma entidade religiosa que tinha como objetivo realizar ações de apostolado e de caridade. Mas Ademir já trabalhava e estudava e isso lhe dava pouco tempo para se dedicar às reuniões e a cumprir estas ações semanais que deveriam ter, no mínimo, uma hora. Com tantas atividades, Ademir me levou com ele para a primeira reunião e já começamos juntos nossa missão. Não haviam muitos membros na Legião e as reuniões aconteciam numa sala no Colégio Divino Salvador, ao lado da Igreja da Vila Arens. Além das reuniões semanais havia, uma vez por ano, um encontro municipal, com um evento, na tarde de um domingo, nesta mesma igreja ou na do centro da cidade que ainda não era catedral. Estes encontros deixavam a igreja lotada, pois haviam os membros ativos – que participavam das reuniões e realizavam ações de apostolado e de caridade – e os passivos, que apenas faziam as orações da “Catena Legionis”, chamadas de Tessera. Semanalmente, então, Ademir arrumou uma atividade para nós: dar catequese para crianças uma vez por semana! E estava decidido: chamaríamos as crianças que moravam perto de casa e começaríamos a catequizá-las! Na semana seguinte começamos os encontros: meia dúzia de meninos, com idade entre 5 e 9 anos apareceram em casa. Nos empolgamos com a reação, mesmo que pequena, mas o importante não era a quantidade, mas o que conseguiríamos fazer com os garotos. E na reunião semanal da Legião, fazíamos relatório do aprendizado das crianças, dizendo quantos compareceram, qual o assunto tratado e quanto tempo durou o encontro. E não poderia passar de uma hora! O catecismo adotado era o único existente: o da Primeira Comunhão! Explicávamos a lição, pedíamos para estudar em casa e, na semana seguinte, fazíamos perguntas a respeito do assunto. Haviam três irmãos que acabaram ficando mais tempo com a gente, mesmo depois que deixamos de ser membros ativos da Legião. Osni, Pedro e Zezé apenas atravessavam a rua, pois moravam bem em frente à nossa casa, na Vila Progresso. Depois de algum tempo os garotos se mudaram para outro bairro. Algum tempo depois integraram o grupo Revolução Jovem – conhecida mais por “RJ” na Vila Arens, comandada pelo padre Victor, já falecido. Hoje, mais de 50 anos depois do início desta amizade, a gente se cruza nas rede sociais que o mundo cria, não sei se para reaproximar pessoas ou para manter uma de cada lado da tela do computador, mas nunca perguntei a eles se este fato passa por suas memórias. O importante, porém, é saber que nossas ações serviram para dar um caminho à vida das pessoas.

domingo, 9 de junho de 2013

Histórias de Padre Hugo

Alguns dias antes de minha Primeira Comunhão, em outubro de 1959, padre Alberto, o vigário de Vila Arens, chamou as crianças para a frente da Igreja e chamou para conversar com a gente um padre que eu ainda não conhecia e que tinha o nome de Hugo. Com um sorriso nos lábios, padre Hugo deixou a sacristia e apareceu diante do altar mor da igreja, para conversar com as crianças. E seu objetivo era um só: convidar a todos para participar da Cruzada Eucarística Infantil. E a conversa foi tão produtiva, pelo menos para mim, que cheguei em casa anunciando que, feita a Primeira Comunhão, pertenceria à Cruzada. Falei com entusiasmo do padre que acabara de conhecer e da conversa que ouvira dele. E no primeiro domingo depois da Primeira Comunhão, lá estava eu de terno azul marinho, gravatinha borboleta, camisa branca, integrando o grupo de cruzados. Padre Hugo comandava as reuniões dominicais após celebrar a missa das 7h30 que era a das Crianças e que tinha como orientador da celebração, o padre Alberto, já que as missas ainda eram em latim, fazia o mesmo nas tardes de segunda-feira, quando os mais novos se reuniam para aprender mais da Doutrina Cristã e incentivava a vocação sacerdotal. Apesar do grupo de zeladoras – moças com mais tempo de Cruzada e que ajudavam a tomar conta das crianças durante a missa -, padre Hugo mantinha tudo sobre seu comando. Com o passar do tempo, comprou uma sonata, várias coleções de discos com aulas de catequese e fazia as reuniões de domingo. Abria a reunião com orientações básicas da semana, ligava a sonata, colocava o disco, verificando o tempo de duração do mesmo, deixava as zeladoras tomando conta e ia atender confissões. Jamais falhou: cinco minutos antes de terminar o lado A do disco, estava ele de volta à reunião para colocar o outro lado. Mal respirávamos nas cadeiras! Era preciso atenção, pois não sabíamos o que ele iria perguntar ao final do outro lado do disco. Voltava, questionava e dispensava as crianças,sempre com a orientação de que era fundamental obedecer o pai, a mãe, a professora e as catequistas e jamais mentir prá quem quer que fosse. Sabíamos que nas primeiras sextas-feiras de cada mês, ele saia cedo, visitando os doentes da paróquia e levando comunhão a cada um deles. Isso se repetia muitas vezes aos domingos, quando não precisava ir, de bicicleta, até a então capela de Nossa Senhora Aparecida – hoje Santuário de Aparecida – na Vila Rami, para celebrar a missa das 10 horas. Foi nesta visita aos doentes de toda primeira sexta-feira que meu irmão Antonio, que sempre chamamos de Toninho, se encantou com o trabalho e se ordenou padre em 1982. Padre Hugo celebrou a primeira missa junto com ele, depois de muitos anos longe de Jundiaí. Padre Hugo que deixou seu nome de ordenação para retomar seu nome de batismo – José – por orientação da Igreja, tinha ido trabalhar em Machado, interior de Minas, sua terra natal. Antigamente quando os padres se ordenavam, mudavam de nome para mostrar a mudança de vida e a seguir os passos do Cristo. Como acontece até hoje com os papas... E padre Hugo voltou a ser José! Mas no final da década de 1990, um grupo de criminosos o matou, quando atravessava um rio, de barco, em sua cidade natal, onde ia visitar doentes. O confundiram com uma outra pessoa. A surpresa e a tristeza tomaram conta de quem o conhecia... Mas hoje, acabei me emocionando ao me lembrar novamente deste homem e ao fazer uma busca na internet, descobri que sua cidade natal o homenageou, dando seu nome a uma escola municipal. E a escola faz exatamente como ele fazia: ensinava os outros...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tempo de festa junina

Mês de junho, recheado de festas dos santos era motivo de alegria para a garotada e para as famílias da rua de casa. Por termos um quintal muito grande onde até chegávamos a jogar bola, envolvendo dez a doze crianças, era ali que acontecia a festa junina das famílias vizinhas. E o local era realmente especial: por termos fogão à lenha, meu pai era responsável por separar alguns galhos e muitas folhas de árvore, tocos de madeira e juntar tudo, de tal maneira que a fogueira acabava virando atração na redondeza. Amigos de Ademir, meu irmão mais velho, alguns colegas da Cruzada Eucarística – formada por meninos e meninas de 8 a 14 anos e que frequentavam a missa das crianças na igreja da Vila Arens – entre as décadas de 1950 e 1960 e os vizinhos, que eram amigos de meu pai e minha mãe e os filhos que muitas vezes jogavam futebol, principalmente nas conhecidas partidas de “Rua de baixo contra rua de cima”. Além da fogueira armada no quintal, minha mãe era a responsável para fazer o quentão. Pinga, comprada no armazém do seu Valentim, gengibre que tinha sido plantado por meu pai, limão também do nosso quintal e água, muita, água para a criançada não ficar embriagada. Havia, ainda, refrigerante ou Q-suco de morango, pipoca, batata doce, bolo de milho, canjica, amendoim torrado e pé de moleque. Como não tínhamos aparelhos de som, o jeito era cantar as músicas tradicionais, um ajudando o outro. E começávamos com a tradicional “Coma filha de João, Antonio ia se casar...”, depois alguém se lembrava de “Eu pedi numa oração, ao querido São João que me desse um matrimônio. São João disse que não! São João disse que não! Isso é lá com Santo Antonio...” E vinha ainda “Pula a fogueira Iaiá. Pula a fogueira ioiô!” E a noite avançava... Quadrilha a gente não dançava, preferia ir ao “Dragão Mecânica” onde o fato acontecia sempre na noite de São João. O gostoso era que, depois de acender a fogueira, a batata doce era colocada ali para ser assada. E tinha sempre alguém tomando conta da batata. E quando estava pronta, era retirada com cuidado, a casca praticamente se soltava e comíamos a batata quentinha. Como era também do quintal, tinha batata doce para todo mundo... Mas se tinha algo que a gente não conseguia fazer era atravessar a fogueira, pisando nas brasas... Isso nenhuma criança tinha coragem de fazer e os adultos “davam o exemplo” sem praticar este ato. Mas pular a fogueira ahhhhh... isso a gente fazia e fazia com gosto. Vinha correndo e saltava por cima, procurando principalmente onde ainda tinha fogo. E isso tudo, claro, sob os olhares atentos dos pais da criança corajosa... E como nem tudo que é bom dura prá sempre... estas grandes festas juninas sobrevivem em nossas memórias, provocando risos e lágrimas ao mesmo tempo, já que a emoção é sempre forte neste momento.