domingo, 9 de junho de 2013

Histórias de Padre Hugo

Alguns dias antes de minha Primeira Comunhão, em outubro de 1959, padre Alberto, o vigário de Vila Arens, chamou as crianças para a frente da Igreja e chamou para conversar com a gente um padre que eu ainda não conhecia e que tinha o nome de Hugo. Com um sorriso nos lábios, padre Hugo deixou a sacristia e apareceu diante do altar mor da igreja, para conversar com as crianças. E seu objetivo era um só: convidar a todos para participar da Cruzada Eucarística Infantil. E a conversa foi tão produtiva, pelo menos para mim, que cheguei em casa anunciando que, feita a Primeira Comunhão, pertenceria à Cruzada. Falei com entusiasmo do padre que acabara de conhecer e da conversa que ouvira dele. E no primeiro domingo depois da Primeira Comunhão, lá estava eu de terno azul marinho, gravatinha borboleta, camisa branca, integrando o grupo de cruzados. Padre Hugo comandava as reuniões dominicais após celebrar a missa das 7h30 que era a das Crianças e que tinha como orientador da celebração, o padre Alberto, já que as missas ainda eram em latim, fazia o mesmo nas tardes de segunda-feira, quando os mais novos se reuniam para aprender mais da Doutrina Cristã e incentivava a vocação sacerdotal. Apesar do grupo de zeladoras – moças com mais tempo de Cruzada e que ajudavam a tomar conta das crianças durante a missa -, padre Hugo mantinha tudo sobre seu comando. Com o passar do tempo, comprou uma sonata, várias coleções de discos com aulas de catequese e fazia as reuniões de domingo. Abria a reunião com orientações básicas da semana, ligava a sonata, colocava o disco, verificando o tempo de duração do mesmo, deixava as zeladoras tomando conta e ia atender confissões. Jamais falhou: cinco minutos antes de terminar o lado A do disco, estava ele de volta à reunião para colocar o outro lado. Mal respirávamos nas cadeiras! Era preciso atenção, pois não sabíamos o que ele iria perguntar ao final do outro lado do disco. Voltava, questionava e dispensava as crianças,sempre com a orientação de que era fundamental obedecer o pai, a mãe, a professora e as catequistas e jamais mentir prá quem quer que fosse. Sabíamos que nas primeiras sextas-feiras de cada mês, ele saia cedo, visitando os doentes da paróquia e levando comunhão a cada um deles. Isso se repetia muitas vezes aos domingos, quando não precisava ir, de bicicleta, até a então capela de Nossa Senhora Aparecida – hoje Santuário de Aparecida – na Vila Rami, para celebrar a missa das 10 horas. Foi nesta visita aos doentes de toda primeira sexta-feira que meu irmão Antonio, que sempre chamamos de Toninho, se encantou com o trabalho e se ordenou padre em 1982. Padre Hugo celebrou a primeira missa junto com ele, depois de muitos anos longe de Jundiaí. Padre Hugo que deixou seu nome de ordenação para retomar seu nome de batismo – José – por orientação da Igreja, tinha ido trabalhar em Machado, interior de Minas, sua terra natal. Antigamente quando os padres se ordenavam, mudavam de nome para mostrar a mudança de vida e a seguir os passos do Cristo. Como acontece até hoje com os papas... E padre Hugo voltou a ser José! Mas no final da década de 1990, um grupo de criminosos o matou, quando atravessava um rio, de barco, em sua cidade natal, onde ia visitar doentes. O confundiram com uma outra pessoa. A surpresa e a tristeza tomaram conta de quem o conhecia... Mas hoje, acabei me emocionando ao me lembrar novamente deste homem e ao fazer uma busca na internet, descobri que sua cidade natal o homenageou, dando seu nome a uma escola municipal. E a escola faz exatamente como ele fazia: ensinava os outros...

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