segunda-feira, 27 de maio de 2013

Fim dos Dias Santos

Período anterior à revolução política no Brasil era cheio de feriados e dias santos. O ano já começava assim, com a festa dos Reis, no dia 6 de janeiro. Mesmo não sendo período escolar, as crianças curtiam a data com a missa logo pela manhã e a chegada dos reis magos até o menino Jesus e comendo as últimas frutas natalinas, que hoje não dá para comprar... Castanhas, nozes, avelãs faziam a festa da garotada. Falei em revolução pois foi com ela que os Dias Santos se acabaram no calendário. Depois da Páscoa, a Ascensão de Jesus também era Dia Santo e o trabalho e aula era suspenso. Missa com homilia apropriada e diversão o resto do dia. Mas bom mesmo era mês de junho, com muita quadrilha, festa junina e feriados escolares. Dia 13, Santo Antonio, dia 24, São João e 29, São Pedro. Na véspera de cada um desses dias vizinhos se reuniam para dançar quadrilha, pular fogueira, tomar quentão, comer batata doce, pinhão, bolo de fubá e se divertir contando balões no céu. E o gostoso é que no outro dia não tinha escola. Depois de junho porém, os feriados diminuíam, quase desapareciam. Tinha apenas os de hoje: 7 de setembro, em outubro não tinha, pois o Governo instituiu após a visita do Papa ao Brasil, em novembro o feriado era nos dois dias: 1º e dia 2: Todos os Santos e Finados. Nestes dias, todas as linhas de ônibus iam até o cemitério, mas a passagem ficava mais cara. Foram criados outros feriados agora, por conta dos governos do Estado, do Município e do Federal. O Estado criou o 9 de julho, o Municipal criou o 15 de agosto e o Federal, o 20 de novembro. A outra vantagem de hoje em dia é que as escolas não têm aulas aos sábados, como acontecia nas décadas de 1950 e 1960. Mas os feriados, hoje, emendam-se com os finais de semana. Em alguns locais – e isso já aconteceu por aqui – o feriado do dia 15 de novembro caindo de quinta e o do dia 20, caindo na terça, era comum ver pessoas saindo do trabalho numa quarta e só voltando na quarta seguinte. Tudo para se curtir datas comemorativas!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

As velhas propagandas

Ver televisão no início dos anos de 1960 era algo especial. Primeiro, porque nem todo mundo tinha televisão e segundo porque tinha propaganda que definia o que deveria acontecer em casa. Eu e meus irmãos nos dirigíamos à casa de seu Antonio, nosso vizinho, para assistir o que ele queria e o silêncio tinha que ser absoluto na sala. Mas as propagandas eram marcantes. Hoje, por conta do controle remoto, muda-se de canal nesta hora e volta ao de origem, quando terminarem os comerciais. Mas nos tempos do televizinho, principalmente para meus irmãos era diferente: a mudança de canal só acontecia junto ao aparelho e girava-se o seletor do 2 ao 13 – os canais da chamada TV aberta – para buscar algo diferente. Mas quem mudava de canal no nosso vizinho era dona Ana, portadora de paralisia infantil e que a obrigava a se levantar, girar o botão segundo as ordens de seu pai Antonio e retornar rapidamente onde acontecia o programa preferido daquela noite. Assistíamos, me lembro os nomes, “A marca do Zorro”, “Rin Tin Tin”, “Vigilante Rodoviário”, “Legionários Toddy” (por conta do patrocinador), “Alô Doçura”, “Moacyr Franco Show”, “Programa Luiz Vieira” e a novela “2-5499 Ocupado”, que tinha Tarcísio Meira, Glória Menezes e Lolita Rodrigues no elenco. Por falar em Lolita, assistíamos também “Clube dos Artistas”, apresentado por ele e pelo marido Ayrton Rodrigues. Mas como dizia no início, as propagandas marcara época e sabíamos o momento de dizer “boa noite” e ir embora. Bastava entrar no ar a propaganda dos “Cobertores Parayba”, pois sabíamos da hora de irmos para casa. “Já é hora de ir dormir, não espere mamãe mandar...” começa a propaganda e saíamos, comentando algum momento interessante dos programas assistidos. Tinha ainda o programa “Bola do dia”, com um minuto de duração e era mais um momento de humor, patrocinado pela Estrela. E lá dizia “Estrela Pim Pam Pum Estrela...” Mas as propagandas não tinha a tecnologia de hoje. Algumas eram simplesmente feitas por desenhos fotografados e postados na tela. “Xarope São João” era uma delas. E o “Como vai a senhora dona tosse? Aqui quem fala...” e seguia o comercial com “é o Xarope São João.. Alô, pronto, fugiu hem?” Ríamos do comercial e comprávamos o xarope... “Ducal” era outra propaganda constante na televisão e ficávamos felizes em saber que tinha esta loja na cidade. “Quem bate?” “É o frio....” e lá vinha propaganda das Casas Pernambucanas. A Cica, com fábrica em Jundiaí, tinha propaganda do extrato de tomate, com o Elefante imitando o “bem me quer, mal me quer”, separando o produto com “Você vai, você fica...” e me lembro, ainda do “É hora do lanche que hora tão feliz... queremos biscoito São Luiz” Mas hoje em dia são tantas propagandas na televisão e, com certeza, uma melhor do que a outra que não me lembro do comercial que vi ontem à noite. Aliás, assistia um filme no DVD...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Celebrações de maio

Já relatei aqui fatos ocorridos no mês de maio nos meus tempos de criança. Dona Ana, minha vizinha, percorria as casas próximas e, com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, rezava o terço, a ladainha e, em procissão íamos em busca de outro morador para a reza do dia seguinte. Mas outro fato não era único: na Igreja da Vila Arens a cena era parecida: todas as noites de maio havia procissão de entrada com entrega de flores a Nossa Senhora. A procissão tinha à frente as moças que faziam parte das “Filhas de Maria”, um grupo de mulheres solteiras e, vestidas de branco, com véu da mesma cor sobre a cabeça, uma fita azul no pescoço e outra na cintura e entregam pela nave central da Igreja. À frente seguia a bandeira das “Filhas”, seguidas pelas moças e depois por todos os fiéis que depositavam as flores nas cestas colocadas junto ao altar e retornavam aos bancos, cantando hinos a Maria. Estas flores, no dia seguinte, estavam nos vasos ao redor da imagem de Nossa Senhora que estava em destaque no altar. Encerrada a procissão, era hora da reza do terço e os fiéis acompanhavam tudo isso ajoelhados, num símbolo de fé a Maria! Quando a cerimônia terminava, contavam-se os dias que faltavam para terminar o mês. Nesta data havia a coroação da imagem de Maria e sempre uma criança era a escolhida para fazer isso. E como havia apenas o grupo de crianças da Cruzada Eucarística, todos os dias lá estávamos rezando o terço. Uma semana antes de terminar o mês, a coordenadora das Filhas de Maria procurava a coordenadora da Cruzada para a escolha da criança que faria a coroação. Eram necessárias cinco crianças: uma para segurar a coroa, outras três para segurar flores e uma outra para fazer a coroação. A que estava com a coroa passava para a outra coroar Maria. E sempre a menor de todas fazia a coroação. Mas claro que as meninas tinham preferência, principalmente porque estavam vestidas de branco, também com véu sobre a cabeça. A diferença era a cor da fita: amarela. Mas um dia, a falta de segurança nas ruas, o crescimento da venda de televisão acabou tornando estas datas como simples recordação de todos nós! E as noites de maio ficaram marcadas em nossas memórias como algo que não volta mais...

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O primeiro presente!

Quando meu filho Tiago Alexandre chegou em casa na sexta-feira, me chamou num canto e, na sua ingenuidade dos quatro ou cinco anos, me disse que tinha um presente para o Dia das Mães e que eu não precisaria comprar nada naquele ano. Tomei-o no colo e fomos até seu quarto para mexer na bolsa e ver o que havia ali. No meio do caderno, lá estava um cartão! Abri com cuidado, enquanto ele procurava explicar o que fizera: a professora entregou o cartão com a flor desenhada para as crianças colorirem. Usado os lápis coloridos, os alunos escreviam uma frase: “Eu te amo!” Quando li o conteúdo do cartão, acabei me emocionando, imaginando o que aconteceria no domingo de manhã, data que o comércio criou o “Dia das Mães”! Como o sábado era dia de escolinha de futebol, lá fomos nós curtir uma curta caminhada: dois quarteirões de casa, lá estava a escolinha de futebol de salão onde o professor Waldir passava as instruções para a garotada. Manhã terminada, aula curtida e Tiago não via a hora de o dia seguinte chegar para entregar seu primeiro presente para sua mãe. E o dia finalmente chegou. Acordamos Tiago, por volta das 8h30 para que ele acompanhasse a gente na missa das 9 horas. Pronto para o ato religioso, minha esposa, Rita de Cássia, foi, finalmente se arrumar para sairmos. Faltavam 15 minutos para a celebração, mas a igreja era praticamente do lado de casa: em frente à escolinha de futebol de salão. Tiago me olhou, como pedindo ajuda, e lá fomos para seu quarto pegar o “presente”. Com o cartão na mão, escondido nas costas, entrou no quarto onde a mãe acabava de calçar os sapatos. Não disse uma palavra: estendeu a mão e entregou para ela! Um sorriso brotou nos lábios dela, abaixou-se para apanhar o cartão e receber o abraço. O conteúdo do cartão, ele disse prá ela: “Te amo!” Uma troca de beijos e um abraço mais apertado, transformou o momento em lágrimas que borraram a pouca maquiagem que Rita costumava e costuma usar. Cartão aberto, frase lida em voz alta e, como uma surpresa, Tiago apanha de minhas mãos uma rosa que eu mantinha escondida e entrega a ela. “Tudo do cartão aqui”, disse ele. Mais emoção, mais lágrimas, mas um momento de pura e doce alegria de todos. Claro que a missa já tinha começado quando chegamos à igreja, mas Deus entendeu o verdadeiro espírito do amor entre mãe e filho!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Velhos tempos

Quando decidimos colocar à venda o imóvel onde moramos depois do falecimento de meu sogro, não esperávamos ver um número tão grande de pessoas procurando ver o mesmo. Mas dia desses me chamou a atenção uma visita diferente: um casal que mora em outra cidade, procurando imóvel, pois pretendia voltar a morar em Jundiaí. Durante a visita a conversa surgiu em torno de família e o homem, após saber meu sobrenome, me questionou se era parente de Ademir. Quando confirmei, me perguntou se eu era Nelson. E pronto: a cabeça começou a voltar no tempo... Como não o reconheci, perguntei por seu nome e ao se identificar como Afonso Maria Pastro, transferi minha memória para cinquenta anos atrás, pelo menos. Em poucas palavras, pois o casal tinha pressa, recordamos os tempos da Cruzada Eucarística, na Vila Arens, onde atuamos juntos. E ele relembrou os tempos dos Marianinhos – chamados pelos jovens rapazes que participavam deste movimento, comandado pelo hoje padre José Brombal e pelo já falecido José Bigardi. Falamos dos Pastros que frequentaram a Cruzada e Afonso se foi à procura de outro imóvel, já que minha casa foi considerada grande de mais para ele e a esposa. Quando o carro deixou o espaço diante de minha casa e desapareceu de minha vista na primeira esquina, busquei na memória a figura do garoto que agora, já com mais de 60 anos, recordara rapidamente pouco tempo de convivência que tivemos no passado. Busquei na minha mente outros rapazes da época – Max Geringher, Roberto Luiz Batista, Roberto Bertolano Domingues, Francisco Zorzi, João Cardoso – e uma infinidade de outros com nomes que já não conseguem mais serem relembrados e garotas como Maria Aparecida Zorzi, Maria Josefina Gaspar, Maria de Lourdes Gaspar, Maria Tereza Gaspar e outras que o tempo apagou seus nomes de minha lembrança. E não esquecendo de Padre Hugo de Souza Ribeiro que comandava rigorosamente as ações de cada cruzado. Alguns sei que já deixaram este mundo, outros que, como Afonso Maria Pastro devem cruzar comigo nas ruas e não nos reconhecermos, mas fica a eterna lembrança de tempos que não voltam, mas que ficam gravados na memória e ressurgem em surpreendentes ações deste mundo de Deus. E como a vida é algo passageiro, a lembrança nos faz viajar e reviver um tempo que não volta mais...