segunda-feira, 25 de junho de 2012

E o balão não subiu...

Dia, mês e ano me lembro muito bem. A hora já nem imagino mais qual seria. Afinal, ninguém é perfeito!!! Mas posso dizer que foi no dia 29 de junho de 1958, quando o Brasil venceu a Suécia, por 5 a 2 e conquistou o primeiro título mundial de futebol. A outra certeza que tenho é de que o fato ocorreu após o final do jogo, quando o Brasil já comemorava a conquista. Mas tudo começou na manhã daquele domingo. Ademir, meu irmão mais velho, passou algumas horas trabalhando. E o trabalho era sério: confeccionar um “balão caixa de oito folhas”. Naquele tempo, soltar balão não era proibido. Eram balões pequenos... Só depois veio a orientação sobre os riscos dos balões na rede elétrica... Ademir comprou o papel, dividiu em duas cores: quatro amarelas e quatro verdes. Recortou, colou e montou o balão com carinho. No meio do mesmo escreveu “Brasil” e, em baixo “Suécia”. A idéia era colocar o placar e mandar o balão para o céu, assim que terminasse o jogo. Balão pronto, foi deixado sobre a cama de Ademir, com a orientação de ninguém mexer. Até a hora de o jogo acabar. E rola a bola... Suécia 1 a 0! Meu pai Alcindo levanta da cadeira, apanha um cigarro e dá a primeira tragada. Ademir coça a cabeça, talvez sonhando com o balão não subindo. Brasil 1 a 1. Brasil 2 a 1; Brasil 3 a 1... Brasil 5 a 2! E o jogo termina. Brasil campeão!!! Ademir recorta os números 5 e 2, cola no balão, na frente dos nomes dos países, apanha a tocha, feita com estopa, cera e parafina, embebida no querosene, prende com arame na “boca do balão” e chama todo mundo para ajudar a soltá-lo! Como os irmãos eram todos pequenos – eu tinha 7 anos e Osmar, abaixo de mim, tinha apenas 4. Ana Maria preferia olhar de longe, minha mãe Angelina pedia cuidado, seu Alcindo sorria feliz com a conquista e Ademir corre em busca de amigos na rua, para por o balão no céu. Aparecem rapidamente Adilson, Nê (irmão de Cipó) e Luciano, primo de Adilson. No portão aglomeram-se pessoas para assistir e isso deixa todo mundo concentrado no balão. Cada um segura em duas pontas. Osmar também quer segurar e isso me faz cuidar dele. Como somos pequenos, seguramos duas pontas debaixo, bem perto da boca. Ademir ajoelha-se, risca o fósforo e encosta na tocha. “Tem fogo!”, grita ele. E todo mundo se concentra mais ainda. O balão estufa, um calor enorme toma conta das pontas do balão. E Nê grita do outro lado “tem fogo no papel”. E sai correndo. Luciano solta a outra ponta, dona Angelina grita da porta da sala, Ademir rola pelo chão e se afasta do fogo que consome o balão. Me lembro de ter puxado Osmar pelo braço, que chora, reclamando que a perna estava ardendo. A tocha queima no chão. Sozinha! O balão não existe mais... Um ar de frustração toma conta do local. A solução foi continuar olhando para o céu e contando os balões que brilhavam no alto. Eram balões de muitas espécies: caixa, estrela, cruz, chapéu de padre, peão. Balão com bilhetinho pendurado e lá vou eu contando: 120, 130, 150 balões. E quando a noite já está avançada e é hora de dormir e contabilizo 225 balões durante todo o dia é que me lembro do balão do Ademir que não subiu. Já com a cabeça no travesseiro, olho para Ademir talvez pensando no balão subindo, subindo que faço a mesma coisa: olho para o teto de minha casa e fico vendo o balão verde e amarelo, subindo e indo cair bem longe, bem longe, na Suécia. E Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo comentando a beleza das cores, o resultado do jogo, aparecendo com destaque e imaginando quem teria tido tanta imaginação para fazer um balão tão bem feito... Viro de lado com um sorriso nos lábios e tendo a certeza de que a imaginação de uma criança vai muito mais longe do que um balão verde e amarelo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário