quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A história de Sofia

Ela era assim... atabalhoada, agitada, preocupada. Sempre! Com uma pequena deficiência mental, Sofia vivia na igreja de Vila Arens. Aos domingos estava em todas as missas. Ora distribuindo folhetos na porta, ora na sacristia, esperando pelo padre. Quando Padre Arlindo foi vigário, na década de 1970, Sofia gostava muito de lhe dar presentes: meias, lenços e pentes, principalmente pentes, mesmo tendo o vigário poucos cabelos. “Ele disse que eu sou boazinha?” perguntava para as pessoas que ela via conversando com ele. Queria saber se gostara do presente, se gostava dela. Durante a semana passava pela Secretaria Paroquial só para recolher os papéis nas lixeiras, só para que o padre lhe dissesse “Bom dia Sofia!” E saia feliz, radiante... “ele falou comigo!” Interessante ver como agem as pessoas humildes, dóceis, prestativas, aquelas que são realmente bem aventuradas. E Sofia foi assim! Quando a missa terminava e o sacristão ia fechar as portas da igreja, lá ia ela, de banco em banco, para ver se não haviam sobrado folhetos de cânticos, deixados por algum fiel. Recolhia todos rapidamente e levava tudo para a sacristia. Deixava a igreja satisfeita com o dever cumprido. Conversava com todo mundo e se surgia o nome de algum padre, seu rosto brilhava de alegria e já queria saber se ele tinha dito algo a respeito dela. E se as pessoas são dóceis e humildes, nem sempre o destino corresponde a isso: um feio dia (porque belo seria se isso não acontecesse!), Sofia decidiu atravessar a rua atrás de um caminhão de concreto que ela imaginou estacionado junto à calçada. Mas ao colocar um dos pés na rua, o motorista engatou a ré e o que era dócil se acabou, se foi... E Sofia nunca mais apareceu na sacristia ou na Secretaria Paroquial. E na missa de sétimo dia, o padre fez questão de dizer a todos que Sofia tinha sido boazinha e que tinha garantido seu lugar no céu...

Nenhum comentário:

Postar um comentário