segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O Reveillon

Vendeu praticamente todos os bens que possuía, juntou o décimo terceiro salário, a economia que fizera durante o ano, tirou passaportes, juntou a família (mulher e dois filhos) e rumou para Paris, a cidade-luz. Iria realizar seu grande sonho: assistir, em Paris, o que ele considerava a maior festa de reveillon do mundo, com todas as luzes da cidade acesas, com as lojas iluminadas e uma grande queima de fogos. Era este seu sonho desde criança, quando viu, pela primeira vez na televisão, a festa dos franceses. E assim foi todo ano: a corrida de São Silvestre, para ele, não tinha a menor importância, o importante era ver a festa de Paris, mesmo que a televisão mostrasse apenas trinta segundos da mesma. Não tinha problema: o importante era ver a festa. E foi assim durante mais de trinta anos. Agora, com 45 anos de idade, filhos crescidos, dinheiro guardado, o sonho seria transformado em realidade. Iria ver, ao vivo, e à cores, diretamente de Paris, a festa que ele considerava a mais linda do mundo. Para ele, Carnaval era nada diante da beleza das luzes de Paris. O vôo até a capital francesa foi tranqüilo. A família estava feliz, realizada, e a chegada à cidade-luz foi um sonho real. Desceram no aeroporto e foram para o hotel. Chegaram dois dias antes da grande festa e poderiam fazer compras, mas preferiram ficar todo o tempo no hotel, “em regime de concentração”, esperando a hora da virada do ano, de ver as luzes se acenderem e ver Paris virar dia à meia-noite! O tempo passou logo e, lá pelas nove da noite do dia 31 de dezembro saíram do hotel e foram às ruas ver a festa. A alegria era grande no rosto de toda a família. Nas ruas, começaram a cruzar com pessoas, pessoas e mais pessoas. Todo mundo indo às ruas para festejar, para comemorar a chegada do ano novo. Primeiro, nosso herói deu uma “trombada” com um velho de bengala que caiu ao chão. Ao invés de socorrê-lo, nosso herói saiu do lugar, xingando. E foi xingando e trombando com outras pessoas que chegaram ao centro da cidade. Muita gente nas ruas. Carros buzinando e a família se aproximando, se aproximando, se aproximando e... recuando. Nosso herói pegou a mulher pelo braço, chamou os dois filhos de lado e reclamou: “tem muita gente aqui”. Os três olharam para ele, assustados com sua reação. Era quase onze horas da noite, a festa começava a “esquentar”, apesar do frio e da neve, mas nosso herói mudou o roteiro. Pegou a família, saiu pisando duro, com cara fechada e xingando “meio mundo”, e voltou ao hotel. Ali, ligou a televisão e viu, mais uma vez, ao vivo e à cores, a festa de reveillon mais linda do mundo: a festa de Paris. Era a mais importante da vida dele. E ele estava lá, em Paris, na cidade que tinha a mais linda festa de reveillon do mundo. Mesmo que ele estivesse assistindo tudo isso do hotel e pela televisão...

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