Os primeiros versos me foram entregues por Nelson Cardin, um
amigo de ambos. “Xará publica que é muito bonito”. Me disse ele. Depois de ler,
perguntei se o poema era dele, mas com um sorriso disse que não, mas que eram
do presidente. “Do doutor?” perguntei. E o sorriso do Xará confirmou minha
suspeita. Li novamente os versos e no domingo lá estavam eles estampados na
página do jornal. E na segunda de manhã atendi o telefonema do dentista poeta e
presidente do Clube Jundiaiense, Romão de Souza. “Ei, quero agradecer isso aí,
mas não fui eu quem enviei os versos, nem sabia que tinham sido roubados de
minha mesa”, me disse ele às gargalhadas! O fato é que este foi nosso primeiro
contato e a partir daí nossa amizade foi se consolidando. Tanto que meses depois
lá estava eu em seu consultório discutindo a criação do Jornal do Clube
Jundiaiense. Isso lá atrás, em 1976.
A partir da aprovação da criação do jornal e do início das
publicações, as reuniões foram mais constantes, apesar de muitas delas serem
por telefone, graças ao pouco tempo que o presidente dentista e poeta dispunha
para deliberar sobre publicações. “Façam aí, o Cardin sabe do que gosto,
então... podem publicar tudo. Só não falem mal de mim!” completava ele sempre
às gargalhadas!
A alegria do dentista e sua disponibilidade eram constantes.
Certa vez, numa manhã de sábado, mesmo estando ele no Clube e eu necessitando
de seu serviço dentário, correu ao consultório para me atender. “Afinal – dizia
ele – jornalista não pode ter dor de tente em dia de trabalho!” Claro que o
sorriso voltou aos seus lábios mais uma vez, mas me lembro que na saída, depois
que perguntei o preço dos serviços, ele colocou um papel dobrado em meu bolso e
simplesmente disse: “se achar interessante, publique!” Agradeci, deixei o
consultório, a gargalhada não se fez presente, mas no outro final de semana, lá
estava estampado no jornal mais um poema do amigo.
Nunca o vi na redação. Afinal, como já disse acima, seu
tempo era pouco. Mas sempre achava um jeito de fazer a notícia chegar ao
jornal. Quer através de amigos, quer através de um telefonema.
Passou o tempo, deixei Jundiaí, Romão chegou à Academia
Jundiaiense de Letras, mas um acidente o tirou do convívio. Fiquei sabendo de
sua partida quando voltei a Jundiaí, depois de 15 anos em Campinas. Outro dia,
folheando uma coletânea da Academia Jundiaiense de Letras encontrei um poema do
dr. Romão. “Vi uma nuvem passando, pedi carona, ganhei e voei com ela por um
tempo infinito!” dizia o primeiro verso. Me lembrei da gargalhada, do
agradecimento. Coincidência ou não eram estes versos que anos atrás foram
publicados no jornal onde trabalhava. Os mesmos que foram “roubados” de sua
mesa de trabalho. E me veio à mente este homem forte, inteligente, responsável.
Que fazia as coisas acontecerem. E sempre com aquele olhar bonachão e o sorriso
nos lábios!
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