segunda-feira, 14 de setembro de 2015

PERSONAGENS (23) A paz de Ida Lehner

Conheci Ida Lehner de Almeida Ramos em setembro de 2002, quando tomamos posse na Academia Jundiaiense de Letras. Na ocasião, tive só a oportunidade de cumprimentá-la, pois já a conhecia de nome: era colaboradora do caderno Estilo do Jornal de Jundiaí, onde eu era editor-chefe. Também já me conhecia do mesmo jeito – de nome – pois acompanhava minhas crônicas que eram publicadas no mesmo jornal, aos domingos, mesmo dia que seus textos saíam no caderno Estilo. Nesta apresentação, acabamos tendo a oportunidade de conhecer alguém que só imaginávamos pelas letras, pelos textos. Senti em Ida uma paz incrível, apesar de sua dificuldade de andar.
Foi exatamente por conta desta sua dificuldade, que poucas vezes esteve presente nas reuniões da Academia, mas sempre nos comunicávamos, por conta dos textos que publicávamos no mesmo jornal. Apesar desta “comunicação” eram poucas as vezes que nos falávamos ao telefone: ela enviava o texto e confirmava o recebimento com a editora do caderno, Luciana Alves, que sentava ao meu lado na redação. E Luciana acaba sendo, na maioria das vezes, a intermediária entre nós dois: ou Ida por estar com pressa ou eu por estar iniciando processo de fechamento da edição do dia. Mas Luciana dizia uma palavra a mim, que repetia a Ida o meu recado. E este recado era sempre um elogio ao texto publicado. Ou meu ou o dela. E a resposta era sempre um agradecimento.
Quando falávamos ao telefone – e foi no máximo duas vezes – sempre senti uma paz incrível nesta mulher. Apesar de seus textos serem publicados apenas uma vez por mês no jornal, parecia, a mim, que eram constantes, tal a calma de suas palavras, a leveza de seus poemas ou crônicas.

Como disse, foram poucos os contatos que tivemos. Deixei o jornal e só soube de sua partida no dia seguinte, quando fui dizer adeus a um amigo que também se fora. E no cemitério, percorri as ruas em busca de onde Ida Lehner estava sepultada. Vi ainda as flores sobre seu túmulo, mas senti, ao parar diante do mesmo, a paz que ela sempre me transmitiu todas as vezes que nos falamos, quer pessoalmente, quer por telefone. Uma paz tão grande que não consigo medir!

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