Existem pessoas que, não sabemos por que, passam por nossas
vidas e deixam marcas profundas. E Marcelo Zeni é exemplo típico disso. Me
lembro de sua alegria de viver e de sua luta para continuar. Uma luta que
terminou cedo porque ele se foi bem antes dos 40 anos. Conheci Marcelo na
década de 1970 na JCM – Juventude Cristã em Marcha – um grupo de crianças,
jovens e adolescentes que existia na Paróquia de Vila Arens, em Jundiaí, e que
substituiu a Cruzada Eucarística Infantil. Deveria me lembrar dele porque era
mais um membro da família Zeni que passara pelo grupo: me lembro de Maria
Angela, Adalberto, Maria Elídia, Afonso e depois ele, o mais novo da família de
Pedro e Elídia Zeni. Ele, um homem de apenas um braço que perdera o outro num
acidente, e que dirigia o caminhão da Vic Maltema, produto similar ao Toddy e
Nescau.
Mas, disse que deveria lembrar-me dele, por conta da
família, mas o que gravou Marcelo em minha vida foi sua vontade de viver, seu
sorriso constante, seu olhar buscando sempre novos horizontes. Marcelo, quando
o conheci, não tinha mais do que dez anos. Acho que nem chegara neles ainda!
Deixei o grupo quando mudei para Campinas por conta da profissão e ele
desapareceu da minha memória. Mas não foi para sempre!
Reencontrei Marcelo quando voltei a morar em Jundiaí, já na
metade dos anos 1990. E ele era meu parente: casara com a filha de meu primo
Norberto Perboni, mas o contato não passava de simples “olá, tudo bem?”,
“abraços à família”. Até que um dia ele me descobriu no comando da redação do
Jornal de Jundiaí e isso já estávamos neste milênio. Ligou para dizer que estava
enviando uma carta para sair no espaço dos leitores e queria saber se poderia
ser publicada. Me chamou de “tio”, rindo, como nos tempos da JCM, mas fui
obrigado a corrigi-lo, dizendo que agora a gente era primo, muito mais parente
do que o “tio” que ele dissera.
Carta publicada, telefonema de agradecimento e, uma semana
depois, o fato se repete. Foram várias vezes que me enviou carta para publicar.
Discutíamos o assunto, falávamos sobre política, sobre a cidade e sobre
família. De repente, Marcelo sumiu: uma semana, duas sem ligar. E isso me fez
lembrar dele. Foi então que soube que estava doente. Uma doença destas que não
tem cura e que me fez meditar mais sobre o garoto e o agora homem casado e pai,
Marcelo Zeni. E nesta lembrança, ele reaparece numa nova ligação: voz baixa,
sorriso fechado, mas senti, mesmo sem vê-lo que havia uma vontade grande de
viver: “to aqui ‘tio-primo’, to lutando, vencendo batalhas, perdendo outras,
não sei até quando, mas a vida é assim, não é? Segue aí outra carta, veja se dá
para publicar. Estou superando o tratamento, mas acho que vou longe ainda.”
A conversa não foi além, foi a última. A carta saiu no dia
seguinte. Alguns dias depois quando chega a lista de necrologia à redação, meus
olhos visualizam seu nome. Confesso que me emocionei. De novo me lembrei do
garoto, agora jogando bola na quadra do “Dragão Mecânica”, depois o já homem
casado e senti que a vida nos prepara peças incríveis, mas nos dá lições de
pessoas maravilhosas e cheias de alegria e vontade de viver. Como Marcelo Zeni
que já se foi há dez anos imagino eu.
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