Sentou-se para jantar e percebeu que os filhos já
tinham ido dormir e chorou sentindo que o tempo estava passando rápido demais e
não conseguia acompanhar o crescimento dos três meninos. Olhou a esposa que
tricotava no sofá, enquanto a televisão mostrava algo que ninguém estava vendo.
O prato esfriava em sua frente, enquanto soava o nariz e procurava conter as
lágrimas que, com certeza, iriam se misturar ao feijão ralo que flutuava no
prato.
Sentiu-se velho, apesar de ter completado 40 anos dez
dias atrás e ouviu um gemido vindo do quarto onde os garotos supostamente
dormiam. Antes mesmo de se mexer na cadeira, percebeu a esposa acendendo a luz
do quarto para ver o que acontecia. Carlinhos, o filho mais novo do casal,
chorava de dor de estômago, por absoluta falta de alimento. O caldo de feijão
gelava do prato e o homem já não tinha mais como comer, não tinha mais como
conter a fome...
A vontade de morrer cresceu em seu coração, mas sentiu
que, se o fizesse, sua família seguiria o mesmo caminho, pois dependia dele
para viver. Sentiu, então, que era hora de mudar de vida. Se catar lixo já não
rendia tanto dinheiro como imaginava, precisava modificar sua ação. Não
adiantava ficar culpando o mundo pela sua falta de sorte na luta para ganhar dinheiro.
E mudou...
Nem bem amanhecera o dia, lá estava ele nas ruas,
batalhando um emprego melhor. Sentiu que se oferecendo para fazer não resolvia,
tinha mesmo era que agir. E o fez...
Enquanto recolhia lixo que seria vendido como
reciclado mais tarde, limpou o jardim de uma casa, cortou galhos de uma árvore
em outra e ganhou por isso. Se sentiu feliz ao chegar com mais dinheiro em casa
naquela tarde e convenceu a mulher de que o tricô também poderia ser um motivo
de melhorar o rendimento da família. O garoto mais velho, apesar de 11 anos,
montou, com restos de madeira, uma caixa de engraxate e, depois da aula, corria
à praça para trazer trocados para os pais.
Uma semana depois percebeu que o sol sorria no céu,
mostrando que o importante era enfrentar as nuvens escuras se quisesse brilhar.
E naquele Natal, quando percebeu que a família rezava
em volta do presépio, montado com peças feitas com material reciclado,
surpreendeu a todos com um presente para cada um, inclusive para a esposa. O
choro, agora, abraçado à família, era de alegria! Um choro de coragem, de
conquista, da certeza de que as dificuldades só são superadas com perseverança
e ação.
Foi seguindo seu exemplo que os filhos cresceram e
ajudaram a transformar o mundo de miséria em fartura. Mesmo que o mundo fosse
apenas aquela pequena família...
Nenhum comentário:
Postar um comentário