segunda-feira, 24 de julho de 2017

Nos tempos do sorvete azul da Cremilk

A década é de 1960 e sorvete, naquela época, era vendido em carrinhos, na rua, em frente às escolas e, principalmente nas esquinas na região central da cidade. Como sempre, o mais popular – e único na verdade – era o sorvete Kibon. No centro, os carrinhos estavam em toda região. Na rua Barão de Jundiaí, três ou quatro carrinhos, o mesmo acontecendo na rua do Rosário. A quantidade maior estava na praça Ruy Barbosa onde, naquele tempo, era o ponto final das principais linhas de ônibus. Tinha também no largo São José, Largo São Bento, em frente ao hospital São Vicente. E todos da Kibon. Nos bairros, algumas vezes apareciam carrinhos de sorvete sem marca, com preços mais baratos, mas quem quisesse sorvete tinha que ir ao bar mais próximo e sempre com produção caseira! Kibon era líder do mercado até que um dia, na região da Vila Arens, na rua Emile Pilon, esquina com a rua Frei Caneca, surge o sorvete Cremilk, diferente do outro, mais macio e mais gostoso de saborear e o curioso: o sabor principal, e que tinha o nome da empresa, era azul. Sorvete de creme com um corante azulado fazia a diferença. Havia ainda sabor de milho verde e de creme apenas, mas o azul era o preferido por todos: todo mundo querendo sorvete azul. E isto o transformou no líder do mercado. Os carrinhos, principalmente na região da Vila Arens, estavam em quase todos os lugares, principalmente em frente ao Ginásio Divino Salvador, nas saídas da missa da Igreja da Vila Arens, em frente ao cine República e também do cine Vila Arens. Virou epidemia o sorvete azul! Certo dia, saindo do Divino lá fui eu saborear um sorvete de creme azul. E o vendedor estava apavorado: o sorvete estava acabando e ele não podia descer a rua e pegar mais, porque o movimento era grande. Perguntei se me entregariam caixas de sorvete se fosse até lá. Ele sorriu, me entregou sua identidade e lá fui eu ajudar o vendedor. Não houve problema em pegar duas caixas de sorvete azul e subir a rua. Entreguei para ele e acabei ganhando um. Naquele dia minha alegria foi maior: além de ajudar o vendedor, saboreei um sorvete de graça. Mas nem tudo o que é bom dura pra sempre. Um belo dia o local onde o sorvete era produzido amanheceu fechado. Imediatamente correu boatos na cidade de que a Kibon tinha comprado o concorrente. Uma semana depois, as placas da Cremilk desapareceram do prédio e em mais uma semana, surgiu o nome da Kibon pintado nas paredes. Jundiaí ficava sem o sorvete azul que de repente senti vontade de saborear, mesmo no inverno. E curiosamente não é no inverno que se vende menos sorvete. E a cidade ficou, mais uma vez, completamente tomada de carrinhos de sorvete da Kibon. E o Cremilk nunca mais apareceu...

Um comentário:

  1. Manzato, hora de contar sobre a greve no JC que nos colocou na rua. Serve para dar força a muitos amigos que estão sem emprego e entrando em desespero.
    Pensa e ajude a dar cor a nossa vida de repórter.

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