Blog do Nelson Manzatto
terça-feira, 16 de novembro de 2021
O sorriso inesquecível de Ivete
“O Sol que lute, porque agora a estrela maior chegou no céu!” Foi assim que Raquel Zorzi, a filha de Ivete, anunciou a partida de sua mãe. Diria que esta “estrela maior” está ligada ao doce e constante sorriso de Ivete que conheci no final da década de 1990. Foi neste tempo que nos encontramos na Paróquia São Roque, na Vila Progresso, em Jundiaí, quando iniciamos um trabalho na mesma missa, das 7 horas, como ministros da Eucaristia. Ela, já investida na função há muitos anos e eu e minha mulher, Rita de Cássia, estávamos começando. O sorriso de Ivete denunciava sua chegada. De longe percebíamos sua alegria e seu olhar doce e cheio de ternura perdurava até a despedida com um “feliz domingo!’, acompanhado por seu sorriso. E se chegávamos depois dela, sua alegria já estava ali presente!
Claro que não estávamos todos os domingos como ministros, mas sempre fizemos questão de comungar com ela, porque seu sorriso era um ato de fé: a presença de Cristo na hóstia consagrada. E foram muitos anos de convivência, muitas trocas de gentileza e de sorrisos. Nossa amizade era grande, porque minha esposa, Rita, nasceu exatamente no dia em que Ivete e Pedro estavam se casando. E não havia um ano que uma não se lembrasse da outra...
“Chegou a alegria desta casa!” Era assim que ela anunciava toda vez que retornava da rua e chegava em sua casa. Seus filhos já sabiam que a alegria estava de volta. Ivete jamais deixou de sorrir, mesmo nos momentos de dor e preocupação!
Houve o tempo em que se afastou para cuidar do marido – o Pedrão – mas ele se recuperou e o sorriso de Ivete voltou. Até o dia em que Ivete começou a sentir que seu corpo não correspondia mais ao sorriso de seu rosto. Mas se ela não ia mais à Igreja, eu ia até sua casa, levar a ela o Corpo de Cristo. E quando tocava a campainha era ela que aparecia para me receber. Diria que seu sorriso chegava primeiro que ela!
Foi assim até ela ir passar temporadas nas casas dos filhos: um pouco com cada um. Mas surgiu a pandemia e Ivete voltou para sua casa e já me ligou. Primeiro para saber como estávamos e quando poderíamos nos ver novamente. Mas havia a necessidade de afastamento, por orientação da Igreja e da própria medicina. Depois deste dia não vi nem mais falei com Ivete. Seu sorriso foi ficando para um segundo plano e os cuidados médicos aumentando. E numa manhã de outubro Raquel me ligou para dizer que o sorriso de Ivete estava chegando ao céu.
“O Sol que lute, porque agora a estrela maior chegou no céu!” E foi com esta frase que ela anunciou, nas redes sociais, que sua mãe não estava mais entre nós. E a despedida se alongou: “Te amo mama! Fica tranquila que por aqui tudo está como a senhora sempre quis e preservou: estamos juntos e com amor! Inté, minha rainha! Obrigada por cada segundo ao seu lado!”
Aquele 7 de outubro marcou a despedida de Ivete. Mas seu sorriso permaneceu! Toda vez que passo diante de sua casa, parece que a vejo abrindo a porta da sala e me convidando para entrar e apreciar seu sorriso doce! E fico imaginando a alegria que ela transmite diariamente aos anjos, com seu sorriso que se eternizou no céu...
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
No dia do irmão, a lembrança de quem partiu!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
O primeiro genro de dona Graciosa

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Pagando a compra com caderneta
Fazer compras hoje em dia pode ser difícil porque o dinheiro está curto, mas temos muitas opções de pagamento: talão de cheque, dinheiro, cartão de débito ou cartão de crédito. Comprar fiado, hoje em dia, é muito complicado. Afinal, quem garante que vai receber? Digo isso porque na minha infância, no final da década de 1950 e início de 1960, havia muita compra que era paga somente no final do mês. E eram poucas as garantias: apenas uma caderneta! Isso acontecia na mercearia, no açougue, na padaria e até no armazém. Alguns desses comerciantes tinham o controle das compras, mas quem marcava na caderneta corria o risco de nunca mais ver a cor do dinheiro. Mas tinha o comércio onde havia uma placa afixada com as palavras: “Fiado só amanhã!” ou ainda: “Não vendemos fiado!” e ambas eram completadas por “Favor não insistir!”
E as compras, lá em casa, eram sempre feitas com dinheiro vivo! Despesa do mês era feita do Empório Bizarro, em frente à Igreja da Vila Arens, mas no dia a dia, minha mãe mantinha uma pequena caneca no armário da cozinha onde ficavam alguns trocados, para compras de última hora, principalmente no armazém do seu Valentin que ficava na rua da Várzea, bem em frente ao campinho das casas da Vila Agrícola, na Vila Progresso. Mas além do Bizarro, onde a conta era alta e paga à vista, tinha também a feita diariamente na Padaria União, na avenida São Paulo, bem em frente ao Campo do Dragão Mecânica. Pão e leite eram comprados toda manhã e, na hora de pagar, entregava-se a caderneta para a moça do balcão que ali marcava a compra e o valor. E assim passava-se o mês.
Todos nós gostávamos de pegar a caderneta e comprar o pão ou o leite ou, às vezes, os frios para um lanchinho de final de tarde. Mas lanchinho para seis irmãos virava uma refeição cara! E tudo isso era marcado na caderneta. Meu pai não usava a caderneta no dia a dia, apenas na hora de somar os valores para fazer o pagamento e era ele e meu irmão mais velho, Ademir, que faziam a conta. Sabíamos que era hora de pagar quando víamos os dois somando os valores. Valor calculado, dinheiro colocado no meio da caderneta, era hora de pagar. E quem mais gostava de fazer isso era eu! Gostava de pegar a caderneta com o dinheiro, chegar no balcão da padaria e entregar no caixa. Tinha a impressão de que os outros fregueses ficavam olhando uma criança de 8 ou 9 anos pagando as compras do mês.
Valor somado na calculadora do balcão, dinheiro entregue, caderneta paga e rasgada. Voltava para casa com outra caderneta novinha. E feliz porque tinha feito o pagamento da conta. Mais feliz ainda porque o dono da padaria dava meia dúzia de balas de mel. Uma espécie de “incentivo” pela conta paga. E a alegria se completava quando chegava em casa e dividia as balas ganhas entre os irmãos. E como meu irmão mais novo só nasceu em 1963, sobrava sempre uma bala a mais para mim. Ademir, Ana, Toninho e Osmar se contentavam em ficar com uma bala. Mas muitas vezes eu fazia questão de dar uma para minha mãe. E esperar mais um mês passar, só pra pagar a conta no balcão da padaria mais uma vez...
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Nos tempos do sorvete azul da Cremilk
A década é de 1960 e sorvete, naquela época, era vendido em carrinhos, na rua, em frente às escolas e, principalmente nas esquinas na região central da cidade. Como sempre, o mais popular – e único na verdade – era o sorvete Kibon. No centro, os carrinhos estavam em toda região. Na rua Barão de Jundiaí, três ou quatro carrinhos, o mesmo acontecendo na rua do Rosário. A quantidade maior estava na praça Ruy Barbosa onde, naquele tempo, era o ponto final das principais linhas de ônibus. Tinha também no largo São José, Largo São Bento, em frente ao hospital São Vicente. E todos da Kibon. Nos bairros, algumas vezes apareciam carrinhos de sorvete sem marca, com preços mais baratos, mas quem quisesse sorvete tinha que ir ao bar mais próximo e sempre com produção caseira!
Kibon era líder do mercado até que um dia, na região da Vila Arens, na rua Emile Pilon, esquina com a rua Frei Caneca, surge o sorvete Cremilk, diferente do outro, mais macio e mais gostoso de saborear e o curioso: o sabor principal, e que tinha o nome da empresa, era azul. Sorvete de creme com um corante azulado fazia a diferença. Havia ainda sabor de milho verde e de creme apenas, mas o azul era o preferido por todos: todo mundo querendo sorvete azul. E isto o transformou no líder do mercado. Os carrinhos, principalmente na região da Vila Arens, estavam em quase todos os lugares, principalmente em frente ao Ginásio Divino Salvador, nas saídas da missa da Igreja da Vila Arens, em frente ao cine República e também do cine Vila Arens. Virou epidemia o sorvete azul!
Certo dia, saindo do Divino lá fui eu saborear um sorvete de creme azul. E o vendedor estava apavorado: o sorvete estava acabando e ele não podia descer a rua e pegar mais, porque o movimento era grande. Perguntei se me entregariam caixas de sorvete se fosse até lá. Ele sorriu, me entregou sua identidade e lá fui eu ajudar o vendedor. Não houve problema em pegar duas caixas de sorvete azul e subir a rua. Entreguei para ele e acabei ganhando um. Naquele dia minha alegria foi maior: além de ajudar o vendedor, saboreei um sorvete de graça.
Mas nem tudo o que é bom dura pra sempre. Um belo dia o local onde o sorvete era produzido amanheceu fechado. Imediatamente correu boatos na cidade de que a Kibon tinha comprado o concorrente. Uma semana depois, as placas da Cremilk desapareceram do prédio e em mais uma semana, surgiu o nome da Kibon pintado nas paredes. Jundiaí ficava sem o sorvete azul que de repente senti vontade de saborear, mesmo no inverno. E curiosamente não é no inverno que se vende menos sorvete. E a cidade ficou, mais uma vez, completamente tomada de carrinhos de sorvete da Kibon. E o Cremilk nunca mais apareceu...
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Bala de mel tinha sabor de felicidade!
Final da década de 1950, início da de 1960, receber visita de tios em casa era uma festa. Isso porque eles sempre chegavam com um saquinho cheio de balas que distribuíamos entre nós, irmãos. Tia Teresa, tio Geraldo, tio Antonio, tia Eulinda entravam pelo portão já com o pacote de balas que era entregue para o filho mais novo de seu Alcindo e dona Angelina. Como eu não era nem o mais velho nem o mais novo ficava na expectativa de como as balas chegariam às minhas mãos.
Geralmente as balas chegavam às mãos de Osmar ou de Antonio, porque Alberto só nasceu quase na metade da segunda década citada acima. E se Ademir estava em casa, o pacotinho ia até suas mãos ou até mesmo de Ana Maria. E as balas eram espalhadas sobre a mesa da cozinha e a divisão era feita de forma igual: balas de mel para todos! Às vezes vinham balas de hortelã, mas eu não gostava e trocava as minhas por mais balas de mel com o irmão que gostava mais do outro sabor.
E chupar a balinha de mel tinha um sabor especial. Acho que é porque nossos tios preferiam menos sabores para evitar divisões ou falta de uma ou outra na hora de se colocar as balas sobre a mesa e cada um pegar a mesma quantidade. Só sei – e isso me lembro até hoje – que muitas vezes duas ou três balas de mel passeavam por minha boca. Uma eu mastigava para sentir o líquido saindo de dentro dela enquanto as outras passeavam pelo céu da boca.
E não tinha outra alegria maior do que saborear estas balas de mel. A gente sentia que a alegria de nossos tios era ver a gente satisfeito e eu percebia que o gosto da bala tinha sempre um sabor de felicidade. Muitas vezes guardava uma ou outra para mais tarde. Quando todo mundo já tinha ficado satisfeito com suas balas, lá ia eu saborear mais uma de mel. E deixava ela desmanchar todinha na boca para sentir, durante mais tempo, o sabor de quero mais!!! Mesmo que não tinha mais! O importante era o sabor que ficava na boca: um sabor de alegria, um sabor de “mãe dá dinheiro pra comprar bala de mel no bar da esquina?” E, com um trocado na mão chegava no bar e dizia: “me dá tudo isso de bala de mel!” E lá vinha sorrindo para casa! Só pra dividir entre os irmãos mais balas de mel e sentir o sabor de felicidade!
segunda-feira, 10 de abril de 2017
Quando a bomba de Flit colocava a família fora de casa
Final da década de 1950 e início da de 1960, quando a televisão ainda não aprisionava as pessoas dentro de casa e quando o verão fazia os pernilongos e mosquitos invadirem os lares, só tinha uma solução: a bomba de Flit, mas que dentro dela também se podia usar o Detefon. Claro que os pernilongos daquela época não tinham pedigree como hoje e que são conhecidos por Aedes Aegypt e que, a cada ano inovam, trazendo uma nova doença.
Mas nas décadas acima mencionadas o pernilongo fazia morada dentro das casas e era necessário o uso da conhecida bomba de Flit – um produto produzido pela Esso – e que era mortal para este bichinho. Colocava-se o produto dentro da bomba e esguichava o mesmo por toda a casa. Em cada cômodo onde se espalhava o produto, trancava-se a porta até deixar o imóvel completamente fechado. Cheiro forte, tanto do Flit como do Detefon – dependendo da preferência do consumidor – era necessário abandonar o recinto pois era insuportável ficar ali.
E lá ia a família para a calçada...
Jantar era por volta das 18 ou no máximo 19 horas, ainda com sol aquecendo toda a cidade, louça lavada e guardada e o “mata pernilongo” espalhado por toda a casa. Neste instante, famílias inteiras na calçada, com ruas sem movimento e a criançada brincando sem se preocupar com atropelamento. O máximo que aconteceria era passar uma bicicleta. E as brincadeiras variavam: pega-pega, pega-esconde, lenço atrás, “mãe da rua”, passa anel, lenço atrás, queimada, e não haviam brigas!
O efeito da bombinha de inseticidas demorava 20 minutos a meia hora. Depois disso, alguém abria a casa para o cheiro ir embora e, quando o sol desaparecia e a lua já marcava presença, era hora de acabar a brincadeira. Mais uma rodada, para não perder o costume e eu já via meu pai entrando rapidamente para ouvir o “Repórter Esso” na rádio e ir dormir. Afinal, no dia seguinte quatro e meia da madrugada ele já pegava a marmita e seguia para a estrada de ferro, onde passava parte do dia e onde trabalhou durante 35 anos.
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