quinta-feira, 21 de julho de 2011

O sempre útil mata-borrão

Coisa de primário e que chamava a atenção dos alunos era escrever com caneta. É, porque tudo era feito a lápis! A gente podia fazer o que queria na hora de escrever, desde que a borracha nos ajudasse a apagar. Mas escrever a tinta... Ihhhh! Isso era um sonho de toda criança no primário. Isso lá pelos idos de 1958, quando eu fazia o primeiro ano primário.
E escrever a tinta significava evoluir na escola. E isso só acontecia no segundo semestre, desde que o aluno cometesse poucos erros, ou seja: usasse menos a borracha. E era dia de comprar o material para começar a escrever a tinta: caneta de pau (um pedaço de madeira, estilo pena, com local na ponta para encaixar a pena), a pena de escrever, um tinteiro e um mata-borrão. E mata-borrão, prá quem não sabe, era uma tira de cartolina mais grossa, usada para absorver o excesso de tinta.
Isso significava aumento no material para se levar à escola: um caderno de caligrafia, um caderno brochura para dever de casa - havia outro que a gente chamava de “caderno de ocupação”, usado em classe -, um estojo, com lápis preto, lápis de cor, borracha, apontador, régua, livro de leitura, além da cartilha. E mais o material recém comprado. Importante era tomar cuidado com a pena, pois a gente tinha de escrever sem forçar, já que o excesso de força poderia fazer a pena “abrir” (separar as pontas) e aí ficaria horrível, pois a escrita sairia sombreada, mais parecendo coisa de fantasma!
O problema maior na hora de escrever era colocar toda aquela parafernália sobre a carteira e cujo espaço tinha que ser dividido com o colega, já que sentávamos em dois. E começava a aventura de escrever: tinteiro aberto, pena no tinteiro, pena no papel, mata-borrão para tirar o excesso de tinta e continuar escrevendo. Difícil era na hora do ditado – e professora sempre gosta de fazer ditado, principalmente quando percebe que os alunos ficam atrapalhados com todo material de trabalho. E dá-lhe palavras: “botão, bala, bolacha, batatinha, cebola, came...”
“Espera professora. Acabou a tinta!” E corre prá escrever, corre prá limpar, corre prá corrigir! E aluno bom não erra! Se errasse não podia borrar: tinha que passar um risco na palavra ou colocar entre parênteses e continuar a escrever. Drama maior era o excesso de tinta na pena que acaba pingando no papel. E folha borrada não tinha desculpa: nota baixa e bilhete para os pais.
Não tinha um dia que alguém na classe não derrubasse o tinteiro: chão manchado, roupa suja de tinta, corpo sujo de tinta e mata-borrão nenhum resolvia o problema!!! Quantas e quantas vezes a gente colocava a pena no tinteiro – e a gente fazia questão que ela fosse até o fundo, não se preocupando apenas em “molhar” a pena – e, na hora de escrever, ver que os dedos ficaram borrados de tinta. Pior que isso é perceber que esqueceu o mata-borrão em casa e o colega de lado não quer emprestar o dele. Descuidadamente, enfia-se a mão no bolso da calça, para limpar o dedo. E o fato só era denunciado quando a mãe ia lavar a calça e percebia que o bolso estava manchado. Para sempre!!!
A vantagem de não ser o primeiro de uma fila de seis irmãos é que os mais velhos já viveram esta experiência e ensinavam – e muito bem – para quem estava começando no aprendizado. Tudo bem que não ser o primeiro tem alguma desvantagem, ou seja a de usar um tinteiro pela metade, uma pena ou a caneta de pau também já gastas. Mas a vantagem é que a gente ia para a escola com algumas “dicas”: o tinteiro é bom não ir cheio, pois se derramar tinta, além de não perder muito, suja menos; não passar o dedo na folha, para não borrar; fechar sempre o tinteiro depois de molhar a pena, mesmo que isso retardasse o trabalho. Ideal era colocar o tinteiro dentro das caixas de pó de arroz, onde ele encaixava direitinho. E usar o mata-borrão sempre que necessário.

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