quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Novo caminho

Tem coisas na vida da gente que marcam profundamente nossa existência. Surgem pessoas que passam por nosso caminho e não são esquecidas facilmente. Alguém já deve ter ouvido falar da “Maria dos Pacotes”, que foi alvo de reportagem na imprensa. Surgiu também o “Miguel fala ó”. Na minha infância o que marcou – e por motivo especial – foi dona Nenê. Toda semana ela passava por minha casa, sempre no período da manhã, quando minha mãe corria prá preparar o almoço. Sentava numa cadeira junto à porta da cozinha, enquanto dona Angelina caminhava pelo local. Dona Nenê não tinha mais do que 40 anos, imaginava eu, nos meus 9 ou 10 anos. E chegava carregada de sacolas velhas, com pacotes dentro. Caminhava com dificuldade por causa do peso que carregava a caminho de sua casa. Às vezes, enquanto eu brincava na rua e via que dona Nenê vinha vindo, saía correndo pra dentro de casa. Não com medo da mulher que vinha vindo, mas porque ela sempre chegava no momento em que eu já deveria estar almoçando para ir à escola. E corria afobado, com medo de perder a hora, mas dona Angelina já tinha providenciado tudo: comida no prato esperando por mim... As histórias de dona Nenê giravam sempre em torno de pessoas que as duas conheciam, algumas delas, parentes da pobre mulher. E dona Angelina, enquanto conversava, não perdia o rumo das coisas que vinha fazendo e de repente aparecia com um prato pronto de comida. E dona Nenê agradecia com um sorriso nos lábios e comia rapidamente, esquecendo um pouco a conversa. Alimentada por minha mãe, dona Nenê dizia que precisava ir embora para ajeitar as coisas em casa. Muitas vezes eu a acompanhava até o portão ela saia segurando as sacolas que, às 10 horas da manhã, já estavam cheias, graças ao coração das pessoas. Claro que as coisas na vida da gente passam e nem sempre nos lembramos de quando tudo mudou. Um dia, quando almoçava para ir à escola, me lembrei de dona Nenê que fazia tempo que não aparecia. Perguntei a minha mãe o que tinha acontecido, se ela estava doente e, afinal, quem ela era. Minha mãe me olhou nos olhos, sorriu um sorriso doce que ela costumava fazer sempre que tinha algo especial a dizer e falou: “Dona Nenê não vem mais aqui, partiu para outra cidade. Seu filho tinha ido trabalhar fora, agora casou e tem como sustentar a mãe que morava num barraco ali perto da vila Esperança.” Terminei a refeição, apanhei o material da escola e, no caminho, fui recordando da história desta mulher que pouco sabia. Pobre, vivia sozinha num barraco à espera de dias melhores. Coincidência ou não, morar na Vila Esperança significava, para ela, sonhar com dias melhores. E foi isto que o destino lhe proporcionou. E sorri ao imaginar que minha mãe tinha ajudado esta mulher durante toda dificuldade que ela passara. O barraco talvez tenha sido ocupado por outra mulher, esperando uma vida melhor!

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