sexta-feira, 11 de outubro de 2013

“No meu tempo de criança” (I) As conquistas de Alcides

Quem ouvia Alcides contar histórias, sabia que tudo era verdade, pois ele fazia questão de dar detalhes, de explicar a rua, as pessoas envolvidas, até as roupas que usava. E olha que as histórias não aconteceram ontem ou anteontem. Claro que Alcides se foi, não está mais aqui, mas foram quase 94 anos de muitas histórias, muitas delas recheadas de humor! Estudar teve pouca oportunidade, tanto que só fez o primário. “Estudei até o quarto ano”, costumava dizer. Seu primeiro trabalho foi ser barbeiro, mas a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí o chamou e foi ser guarda trem. Mas suas histórias de infância jamais serão esquecidas e se o título deste texto fosse “Peralcides”, podem ter certeza de que era isso mesmo: “Peraltices de Alcides”, tantas foram as artes que fazia. “Bater o pé da aula” era comum no seu tempo, assim como no tempo de todos nós. Mas as peraltices eram muitas quando ele e os amigos decidiam faltar da escola. Coisa de criança nem sempre é feita com maldade... mas para os envolvidos, “era maldade pura”, no modo de agir e pensar. E o grupo de amigos que decidia faltar à aula não tinha duas ou três pessoas. Eram oito, nove, dez. A classe, neste dia, ficava praticamente vazia. Morador da rua Regente Feijó, na Vila Arens, passou a infância neste bairro. Aliás, casou e viveu no bairro até mais de 60 anos e seu lazer favorito, quando pequeno era nadar! Junto com os amigos lá ia ele em busca da lagoa, perto da Vulcabrás que, imagino, nem existia na década de 1930. Perto da escola, já passava em algumas casas do bairro, roubava frutas das árvores e saía correndo, pois percebia a presença de alguém no local. E iam rindo da conquista. Não foram poucas as vezes que foi flagrado pela dona da casa na árvore colhendo frutas. Os amigos já tinham conseguido fugir, mas ele – sempre ele – ficava para trás. Não por ser o menor da turma, mas por querer mais... Apanhava da professora por faltar à aula e, depois, a mãe lhe puxava a orelha, pois ficava sabendo do fato. Certa vez o apagador “voou” da mão da professora, lhe atingindo a cabeça, assustando a todos, pois provocou um ferimento, chegando a sangrar. E outras vezes, ao invés de fruta, a ação a ser desenvolvida era outra: invadir o galinheiro e roubar ovos... E aí, o grupo atravessava a linha – e talvez isso o fez gostar tanto de trens... – e se dirigia para a lagoa. Mas quem acha que a ação terminava com o banho apenas, está enganado. No caminho para o local do banho o grupo encontrava latas – a maioria de banha, produto muito comum na época – e ali eram colocados os ovos. O grupo abastecia a lata com água, improvisava uma fogueira e colocavam os ovos para cozinhar. Enquanto isso, o grupo se divertia na lagoa. Banho tomado, rumo da casa... Mas antes, todos sentados ao redor da fogueira, comiam os ovos cozidos. Ao chegar em casa, sua mãe, ao perceber os cabelos despenteados e molhados lhe dava outra surra. Mas como ele dizia, apanhar da mãe não doía, o importante eram as conquistas daquele dia. (história vivida por Alcides Crivelaro “in memorian”. Homenagem especial na estreia do projeto)

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