sábado, 16 de agosto de 2014

As ondas curtas do rádio

Final da década de 1950, início da seguinte, ouvir rádio em ondas curtas era difícil. Primeiro porque o som era baixo e no vai e vem das ondas do rádio, não se ouvia o que se falava e difícil era tentar imaginar as palavras do locutor ou de quem quer que seja. Só sei que no momento mais importante, o som ia embora e quando voltava... o assunto já era outro. Ouvir futebol por ali era sofrer e chorar, principalmente porque quando o som voltava o gol já tinha saído... Mas a rádio preferida, em ondas curtas, para se ouvir, era a Aparecida. E quem mais ouvia era minha mãe até porque nesta época, meu pai ainda trabalhava na Estrada de Ferro. E a missão começava dez minutos antes do horário: sintonizar a rádio e rezar para o som permanecer limpo e claro. Claro que naquele tempo o rádio era a válvula... E como queimava a válvula do rádio... Quando estava perto do meio-dia, minha mãe já lembrava de que a rádio tinha de ser sintonizada. O programa era “Os ponteiros apontam para o infinito” com o padre Vitor Coelho de Almeida. Era um programa de oração de um padre que hoje tem processo de beatificação. Não mais do que quinze minutos de programa e depois era esperar 14 horas para ouvir “Marreta na bigorna” com Padre Rubem Galvão. A gente chamava de “padre bravo”, pois ele sempre tinha alguma coisa para criticar. Até por conta do nome do programa! Padre Vitor voltava às 15 horas, com “Consagração à Nossa Senhora Aparecida!” A rádio ainda tinha “Clube dos sócios” e uma rádio novela que não me recordo o nome, mas era baseada numa música. Sempre no dia 12 de outubro, o horário previsto para se ligar o rádio era de manhã, pois era importante, ao meio-dia, estar sintonizado para não perder a benção especial do Dia da Padroeira. Lá fora os rojões festejavam a data e padre Vitor, emocionado gritava “Viva Nossa Senhora Aparecida!”, “Viva a Padroeira do Brasil!”. Em casa, olhávamos um para outro e completávamos: “Viva!” E sempre, toda vez que a rádio estava sintonizada, era importante silêncio na sala! Às vezes o som sumia e vinha voltando bem baixinho e o silêncio ajudava a prestar atenção naquilo que o padre dizia. Hoje, pra sintonizar qualquer emissora de rádio, basta ter internet, entrar no site e ouvir o que deseja. Mas não há mais as orações de Padre Vitor nem as broncas do Padre Galvão!

Um comentário:

  1. Imaginei o sofrimento que era ouvir radio naquela época, rs...
    Mas, todos os momentos eram importantes, e mesmo assim, faziam o possível para sintonizar. Eu guardaria esse radio como lembrança, ate porque eu adoro coisas antigas.

    Um super abraço Nelson

    Lyu Somah
    lyusomah.blogspot.com.br

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