sábado, 23 de agosto de 2014

Terezinha

Meus olhos só cruzaram com os seus nos meus sonhos! Jamais a vi, jamais ouvi sua voz ou senti o seu perfume. Não consigo imaginar a cor de seus cabelos ou de seus olhos, mas percebo e sinto seu sorriso! Você chegou muito cedo, chegou antes da hora e, como um cometa passou... Se chegou muito cedo, partiu sem dizer adeus e nem esperou a chegada dos outros irmãos que viriam depois! Foi em setembro, foi há 70 anos. Imagino que a gente deveria estar se preparando para, ao redor de uma mesa,te ver cortando o bolo, seus filhos, seus netos ao redor, cantando o “parabéns”, mas.... Mas você partiu sem dizer uma palavra, afinal, 20 dias de vida não comportaram tempo para brincar, correr, rir, cantar, sonhar... Sua vida passageira deixou marcas em papai e mamãe. Afinal, era a primeira filha do casal. E uma passagem tão rápida, imagino que tenha deixado dores. Meus olhos só cruzaram com os seus nos meus sonhos. As primeiras vezes, na minha infância! Correndo pelo quintal, rindo, brincando, cantando e sua mão protetora a me conter, a me segurar de alguma queda. Queda de criança que tropeça no nada e se esparrama no chão. Mas sua mão estava sempre ali me protegendo. Meus olhos, se cruzaram com os seus nos meus sonhos de criança, voltaram a marcar presença nos últimos tempos. Não posso dizer que foram sonhos de saudade. Não se sente saudade de quem nunca se viu, mas sinto isso, sinto saudade dos sonhos de criança porque você estava neles! Sei que seus 20 dias por aqui foram recheados de saudade nos corações de papai e mamãe. Eles sempre falaram de você e sei que você sempre soube disso. Afinal, quem está aí olhando e vigiando todos nós? Primeiro você, depois mamãe e, em seguida papai. Engraçado eu dizer papai e mamãe, não apenas pai e mãe. Afinal, nos meus mais de 60 anos de idade, fica meio estranho dizer papai… mamãe… Mas… como me referir a eles falando com você? Com seus 20 dias vividos apenas? Sabe que tenho saudade dos tempos em que corria até a goiabeira, lá no fundo do quintal – e você conhece todas as minhas histórias de goiabeira não? – só para saborear a fruta, mas imaginar uma divisão contigo, de igual para igual? Mas eu sorria quando imaginava você me dizendo “come tudo, come minha parte, você gosta mais de goiaba do que eu…” E eu me divertia com o sabor da fruta e tentando imaginar seu olhar. Sei que se lembra das vezes que eu chorava lá na árvore, porque queria ver seus olhos, tocar sua mão, pedir que me carregasse no colo como – imagino – meus irmãos mais velhos gostaram de fazer quando eu era bem pequenininho. Talvez com a sua idade… Terezinha: mamãe sempre foi devota desta santa que está aí ao seu lado e que te fez anja protetora destes que vieram depois de você por aqui. Diga pra ela que hoje, pela manhã, quando passava pelo jardim, encontrei uma rosa que ontem não era nem botão e que floriu assim… na rapidez de sua existência… Diga pra ela que senti seu perfume, mesmo sem nunca ter abraçado você… Diga pra ela que o vermelho da cor desta rosa não é de sangue, nem de dor, mas de uma saudade gostosa de sentir, principalmente quando o coração bate no compasso de seu sorrir. Terezinha: deixa um abraço aí pros velhos. Claro que sei que eles estão vendo tudo e sabendo tudo daí de cima, mas diz que a saudade aqui embaixo faz brotar lágrimas nos olhos, mas que a gente vai se ajeitando por aqui. Sempre que possível, um mais perto do outro, outro mais perto do um. Só pra juntos somarmos aquilo que fomos e que buscamos ser.

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