segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Os chapéus que meu pai usava

Preto ou marrom! E todo dia, toda hora, todo local. Era assim meu pai: sempre de chapéu na cabeça! Isso sempre aconteceu: sempre o vi assim, seja na década de 1950, 60, 70, 80... Chegou à década de 90, mas não avançou muito nela. E havia um chapéu para cada ocasião: um que o levava ao trabalho diário, na Estação da Santos-Jundiaí, outro para passeios, visitas a parentes e amigos ou missa dominical e um terceiro para usar em casa. Quando se aposentou, o que usava para ir ao trabalho, ficava para saídas rápidas, como ir à padaria, supermercado, farmácia ou uma “corridinha” da vila Progresso até o centro da cidade a pé... Quando ganhava um novo – e era sempre no Dia dos Pais (quer presente mais fácil para se comprar?), o mais velho era jogado fora, pois já estava muito usado e os outros desciam um degrau. E não tinha como: era só pensar em dar um passo fora de casa que suas pernas o levavam ao cabide para escolher o chapéu para aquele momento novo. Até para aguar plantas ele usava o chapéu. E neste uso constante de chapéu tinha um momento diferente, inesquecível! Era o dia de colocar ovos para serem chocados. Neste dia ele não estava com o chapéu na cabeça, mas o levava nas mãos: carregado de ovos! Era assim mesmo: os ovos tinham que ir para o ninho levados no chapéu! E meu pai separava todos: escolhia os mais bonitos, aqueles que tinha certeza que não iam falhar, contava 12 ou 15, dependendo dos tamanhos e do espaço preparado no ninho dentro do viveiro, colocava dentro do chapéu e ia até o galinheiro! A ação era feita com cuidado, pois os ovos não podiam se quebrar. A galinha choca já estava no viveiro e os ovos eram, então, colocados, um a um no local. Ninho pronto, galinha choca já iniciando seu trabalho e o chapéu que foi ao fundo do quintal na mão voltava para dentro da casa na cabeça. Na certeza de que, dali a 21 dias os pintinhos quebrariam as cascas para terem vida. E meu pai sorria diante de mais uma conquista. Graças à colaboração do chapéu! Aquele mesmo: de usar em casa!

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