Conheci Ademir Fernandes na redação do Jornal da Cidade em
1970. Estava começando como revisor e ele já era repórter e editor de esportes,
além de viajar todo dia para São Paulo, onde trabalhava no Jornal da Tarde.
Alegre, didático, adorava trocadilhos e se divertia com o grande Palmeiras
daquele início de década. Jamais deu bronca em alguém por conta do serviço.
Fazia isso com humor e elegância que deixava o outro sem jeito de retrucar.
Num tempo que não havia internet, o radinho de pilha era uma
de suas fontes de informação. Era por este meio que acompanhava os jogos do
Paulista quando a partida era fora de Jundiaí. E naquele tempo, assim como o
Palmeiras, o time da cidade não chegava a decepcionar. Mas por conta dos jogos
serem à noite e meu trabalho ser à tarde, eram poucas as vezes que a gente se
encontrava. Acontecia com mais frequência nas segundas-feiras, quando ele fazia
um caderno de esportes, já que não havia edição do jornal nestes dias. E o
caderno circulava na terça com grandes destaques para o Paulista, o Amador da
cidade e os times que disputavam ou o Paulistão ou o Brasileiro.
Um envelope amarelo era seu companheiro de todas as horas.
Chegava à redação com ele, ia para São Paulo e voltava no dia seguinte ao
jornal sempre com ele nas mãos. Dentro dele, informações, assuntos ligados à
sua área de trabalho. Nos separamos quando o trabalho cresceu em São Paulo, me
mudei para Campinas e voltamos a nos ver mais de 20 anos depois, já na segunda
metade de 1990. Claro que o envelope era outro, mas a cor era exatamente a
mesma. E agora já havia internet, arquivos no computador, mas sua fonte estava
ali, naquele envelope.
Já tinha os filhos crescidos e tanto Ellen como Elton
seguiram os passos do pai e se tornaram jornalistas. E ele sempre “batalhou”
para que os mesmos sempre estivessem bem empregados. E como a vida nos prega
peças terríveis, Ademir partiu prematuramente já há 15 anos. Havia uma vontade
de trabalhar incrível neste homem que jamais rejeitou uma pauta a mais em sua
rotina. Tinha ainda uma vontade grande de ajudar os outros. Era comum vê-lo
levar jornalistas de Jundiaí para trabalhar em São Paulo e quando sabia que
algum deles estava desempregado, negociava com os colegas de profissão para
contratar quem quer que seja. Sua partida deixou uma lacuna grande na imprensa
da cidade e na Capital, mas deixou a certeza de que devemos batalhar sempre,
até o fim, em busca de nossos objetivos. Ademir era assim: competente, alegre,
um bom amigo, destes que, se for preciso tiram a blusa e entregam ao outro para
que este não sinta frio.
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