Conheci Fernando Dias quando era editor-chefe do Jornal de
Jundiaí e ele repórter policial do Jornal da Cidade. Tínhamos praticamente
a mesma idade, os dois já cinquentões, mas já ouvira falar dele muitas vezes.
Conhecia seu trabalho, mas nunca o vira pessoalmente. Só vim a conhecê-lo, a
cumprimentá-lo, quando a direção do JJ decidiu que deveríamos contratá-lo e
assim ele ocuparia, também, os microfones da rádio Difusora. Não tinha muito o
que orientá-lo, afinal, ele sabia tudo sobre o seu trabalho e sobre jornal.
Assim, ficou fácil trabalhar com ele.
Falávamos-nos todos os dias, muitas vezes me ligava em casa
para relatar um crime ou uma prisão ou – principalmente – um assunto que era
exclusivo nosso. Ou dele! Sim, afinal, ele “brigava” pela informação. Sentia
que ele queria publicar tudo sozinho, mas lhe dava toda força necessária para
que o jornal onde trabalhávamos continuasse a ir bem nas vendas. Certa vez já
estava em casa, por volta da meia-noite, quando me ligou para informar sobre um
crime. Voltei à redação, demos manchete sobre o caso – que só nós tínhamos – e
no dia seguinte transferi a ele os elogios da direção.
Mas Fernando Dias tinha um problema sério: a Diabetes não o
deixava em paz e ele não conseguia lutar contra ela. Aliás, aceitava-a com a
maior tranquilidade. Tanto que começou a ficar difícil a passagem dele pela
redação: foi operado dos dois calcanhares, fazendo com seus passos fossem
transformados numa caminhada de cadeira de rodas. Depois, veio a cirurgia que
lhe amputou parte de uma das pernas, mas isto não o impedia de dirigir e de ir
em busca da informação. Fernando era assim: apaixonado pela notícia!
Quando deixei o jornal, em 2007, enviei um e-mail a toda a
redação me despedindo e agradecendo o apoio durante o tempo em que fiquei à
frente da equipe. Mas esqueci que, como não ficava no jornal, Fernando não
recebeu tal e-mail. Surpreendi-me dias depois quando vejo na caixa de mensagens
de meu e-mail, um texto dele e era Fernando quem agradecia o apoio. Liguei para
ele, falamos sobre o futuro do jornal e de cada um de nós. Sugeri que
diminuísse o cigarro e como resposta ouvi um sorriso e um “até breve!”
Fernando não conseguiu enfrentar por muito tempo a doença.
No inverno de 2010, exatos três anos de minha saída do jornal, ele o fez
também. Mas de uma forma mais triste, já que a Diabetes o venceu. O jornalismo
da cidade perdeu, naquele ano, um dos nomes mais importantes desta área na
cidade. E se durante muitos anos fez e divulgou notícias, neste dia, Fernando
Dias foi a notícia, a manchete do jornal.
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