terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pai: por que existe saudade?

Dias como o de hoje acontecem apenas para nos fazer sentir saudade. E saudade é palavra que dói, pois nos traz à mente presença de alguém que não está aqui e, como neste caso, não volta mais. E se saudade dói no peito e nos faz sofrer e chorar, é claro que é isso que ocorre aqui, dentro do meu coração e nos meus olhos. E é uma saudade recheada de bons e doces momentos, de emoções que ficaram marcadas para sempre.
Lembranças de uma viagem de trem até a Estação da Luz, só para comer um sanduíche, ou de um passeio até o pico do Jaraguá, só para ver São Paulo lá do alto... Sabe aquela recordação que você quer sorrir pois foi vivida com alegria, mas (ah! este triste mas...) percebe que as lágrimas se dão as mãos e correm pelo rosto, sem ter como impedir? Coisas de saudade, coisas que não acontecem mais, pois meu pai e minha mãe não estão mais por aqui e também porque nós – os filhos – crescemos, formamos outras famílias e acabamos nos distanciando, com encontros remotos, mas sempre recheados de recordações dos velhos tempos.
E foram muitas as recordações de uma família reunida, com almoços de Natal ou alguma outra comemoração, como a missa de Bodas de Prata de seu Alcindo e dona Angelina. Me lembro que gostava de ouvir dona Angelina cantando, sempre baixinho “pra ninguém ouvir”, mas me lembro de seu Alcindo que, se pouco falava, registrava em seu olhar as palavras que sua boca preferiam não dizer. Mas gostava, e muito de uma boa conversa, de falar de futebol, desde que o assunto fosse o Palmeiras, e de política, sempre prá reclamar das promessas não cumpridas.
Mas o que eu gostava mesmo era levar a marmita com o almoço de meu pai até a estação ferroviária, onde trabalhava. Entregava a mesma para ele que, sorrindo agradecia e voltava ao trabalho, para esperar a hora de poder saborear o que dona Angelina preparara com muito carinho. E o gostoso era esperar sua volta: meus irmãos e eu competíamos na “briga” para apanhar a marmita da mão de meu pai e saborear o que ele não comera, só para deixar para os filhos. Mas quem pegava a marmita já sabia: tinha que dividir o que ali estava com todos. E, mesmo que fosse, meia colher, era uma verdadeira refeição. Pois fora deixada, e sabíamos disso, com carinho por ele.
Hoje, não há mais marmita, a estação está vazia, o último apito do trem já soou na curva, lá na frente, e o barulho acelerado da máquina acompanha a batida do coração que bate ao compasso do movimento das lágrimas que avermelham o olho e correm para transmitir um gosto amargo no canto dos lábios.
Hoje, o velho rádio de pilha não transmite mais os jogos do grande Palmeiras que tinha Oberdan, que tinha Valdir, que tinha os Djalmas, o Julinho, o Ademir da Guia. Hoje, o velho rádio respeita o silêncio imposto por um homem sério, forte, saudável e que se foi de repente, sem tempo de se despedir, só para não dar trabalho para os filhos. Mas deixou uma saudade grande, uma saudade forte, uma saudade que só não é maior, porque a gente sabe que um dia vamos nos encontrar só pra relembrar tudo isso outra vez.

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