domingo, 2 de outubro de 2011

Crescer é bom?

Criança, quando é criança mesmo não tem jeito: não quer crescer. Crescer prá que? Prá ter que trabalhar, ganhar dinheiro, pagar aluguel, prestação do carro, mensalidade da escola do filho? Crescer pra que? Pra ter dor de cabeça em administrar o dinheiro que antes do final do mês acaba?
Criança mesmo, de verdade, não quer crescer! Mas se crescer, se virar adulto, e continuar com os pensamentos na infância, aí sim é felicidade em dobro! Isto porque se vive grandes momentos duas vezes: quando eles acontecem e, depois, na memória. É como se fosse uma reapresentação, repetindo, relembrando, rindo, sonhando. Quer coisa melhor nesta vida?
E tem coisas na nossa vida que só acontecem na infância! Aquela esfolada no joelho, aquela pipa perdida, aquela bola na vidraça do vizinho. Mas quebrar vidro da casa onde se mora... ihhhhhhhh. Aí vem confusão na certa. E isso já aconteceu na minha infância.
Quintal grande, espaço para um campo de futebol e lá estavam os craques da família: eu, Osmar, Antonio e Alberto, - Ademir já trabalhava para ajudar a pagar sua escola – jogando no campo de casa. Uma das traves era montada em frente à porta da cozinha, a outra no fim da rampa do portão. Bola rolando, toque daqui, toque dali e um chute mais forte faz a bola ir de encontro à vidraça do quarto de meu pai Alcindo e minha mãe Angelina.
Estilhaços voam para dentro do quarto. Um vulto aparece na porta mais assustado do que todos os craques. Dona Angelina fica agitada, nervosa! Os quatro irmãos jogadores apavorados. Mas é dona Angelina, como um verdadeiro anjo que resolve o problema: os craques tiram a medida, correm até o vidraceiro, compram o vidro, a massa e voltam para casa. Falta uma hora para seu Alcindo retornar do trabalho e o vidro precisa ser recolocado sem deixar vestígios!
Na volta do vidraceiro, dona Angelina já limpou os cacos que haviam se espalhado pelo quarto. Os quatro craques, agora transformados em vidraceiros, tentam corrigir o erro, pois ninguém quis assumir quem cometeu.
Alberto não tinha mais do que três anos, nem tinha noção do que estava acontecendo. Mas os outros três, com mais de dez, precisam aprender a lição!
E lá vão todos trabalhando: vidro colocado, um pequeno martelo para colocar os preguinhos no lugar certo e espalha-se a massa de vidraceiro para acabar com o problema. Uma faca velha serve de auxílio na colocação da massa e pronto! Serviço concluído. Agora só falta recolher a massa que caiu no chão, limpar tudo direitinho e voltar a brincar até o dia acabar.
Quando seu Alcindo chega, a conversa na cozinha, com dona Angelina, parece tranquila. Até parece que os jogadores-vidraceiros sabem que são o assunto do papo, mas ninguém põe a cara na porta...
Seu Alcindo, discretamente supervisiona a colocação do vidro. Os ”craques” se entreolham como que desconfiados de que foram dedurados.
E são chamados para uma conversa séria! Sem bronca. Apenas um aviso: a mesada do domingo seguinte está cortada para pagar o vidro quebrado. Ninguém reclama. Afinal, erro é erro e tem que ser assumido.
Mas no domingo, lá estava seu Alcindo com o trocadinho na mão, distribuindo aos filhos para comprar o que quisessem na feira. Nem que fosse para guardar e comprar vidro quebrado numa nova partida de futebol...

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