quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sei o que é felicidade!

Comentei aqui, uma vez, que uma das maiores diversões dos filhos de seu Alcindo, da qual eu era o terceiro de uma lista de seis, era comer os produtos da horta do seu Alcindo. Mas não poderia deixar de lembrar do pomar do seu Alcindo. Claro que falei dele, quando abordei o “Meu pé de goiaba vermelha”, mas não detalhei todas as árvores frutíferas que tínhamos no quintal. Um quintal de mil metros quadrados, onde, além da horta e pomar, sobrava espaço para um pequeno campo de futebol e um quarador, todo ele gramado que, quando não haviam roupas, servia para o “goleiro” do time, “voar” para defender as bolas, já que nosso campo normal era todo de terra.
E no pomar de seu Alcindo, tinha de tudo que se possa imaginar: goiaba vermelha, laranja lima, laranja pera, laranja baiana, caqui, jambo, abacate, manga coquinho, ameixa, pêssego, maçã, goiaba branca, banana, pera d’água e jabuticaba.
A alegria era saber que, durante o ano todo tínhamos alguma fruta para saborear. E quem mais gostava de subir nas árvores e fazer a “colheita” era eu. Com uma sacola subia na laranjeira e colhia as mais bonitas para o almoço, sempre com a aprovação de dona Angelina. Em tempo de manga, preferia escolher a mais bonita para mim, separava das demais e ninguém reclamava. Afinal, eu era o “responsável” pela colheita!
Pêra d’água nunca saboreamos. Nunca deu e jamais imaginei porque isso acontecia. Só mais adulto é que soube que eram necessários dois pés desta fruta para que ela produzisse normalmente. Um pé apenas da fruta não produz. Imaginei, então, que Deus deve ter planejado direitinho o paraíso com dois pés desta pêra. Pelo menos para Adão e Eva poderem saborear este fruto permitido!
Agora, a fruta que não poderia ser colocada em sacola era jabuticava. Esta, tinha que ser numa vasilha – eu pegava uma velha leiteira, guardada numa das prateleiras do barracão do quintal – e só descia do pé quando estava cheia.
Claro que jamais deixei de saborear esta fruta. Escolhia as melhores e as comia no pé. E não sabia porque jabuticaba me deixava feliz.
Um dia, e isso não faz muito tempo, li uma frase de Paulo Gaudêncio e que me fez entender esta história da jabuticaba. Ele disse que, um dia, num jogo de futebol, quando seu filho de cinco anos, correu para pegar a bola no jogo, já que era “gandula” e esqueceu deste “trabalho” quando deparou, pela primeira vez na vida, com um pé de jabuticaba. Jogou a bola no chão e começou a saborear a fruta. Foi aí que ele disse e me fez entender esta história: “felicidade é comer jabuticaba no pé!”
Curioso é que ele disse ainda que o garoto imaginava que jabuticaba era uma fruta que “dava na feira”. Aliás, ainda hoje conheço muita gente que não sabe como é a árvore de determinada fruta. Mas se comer jabuticaba no pé nos faz feliz, com certeza, sei  que é felicidade.

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