domingo, 4 de dezembro de 2011

Natal é família unida

Estava cansado demais aquele dia para continuar a trabalhar. A noite já ia longe, sabia disso, mesmo sem ter relógio, pois a estrela Dalva já estava presente, como que anunciando uma nova manhã. Precisava descansar, dormir, pois o novo dia lhe traria mais trabalho e novas agonias, já que era véspera de Natal. Estava afastado da família já fazia anos, pois tentava ganhar um dinheiro extra para reunir-se novamente com todos. Tentara isso muitas vezes, mas as crises na economia do país acabavam chegando sempre na hora de tentar resolver seu problema. Chorava sempre de saudade dos filhos, da esposa que não via já não tinha mais noção de quanto tempo. Imaginava que os filhos já estivessem grandes, pois percebia seus cabelos cada vez mais brancos e o corpo mais e mais cansado.
Escrevia sempre para eles, recebia fotos, mas nada como o contato direto pele-a-pele. Sonhava com a família novamente unida. Não sabia quando isso ia acontecer, mas imaginava que não poderia demorar, pois a vida é tão curta e não vale tanto a pena a distância, a saudade, a tristeza, a dor de uma ausência.
Já tinha na mente que seria a última vez que isso aconteceria. Que, mesmo sem ter dinheiro suficiente, retornaria ao convívio da família ou traria todos para junto de si. A distância tinha que terminar...
Depois de algumas horas de sono retornou ao trabalho. O sol, como sempre, batia forte em seu corpo, aumentando ainda mais o cansaço. Mas a disposição era muita, a decisão de mudar de vida lhe dava mais ânimo de ir em frente. Sabia que não teria muito tempo de recolher material reciclável, de vender, arrecadar dinheiro e trazer sua família de volta. O movimento na cidade crescia cada vez mais, as buzinas de carro, a alegria nos olhos das pessoas, lhe davam ânimo maior. Fechou seu dia de trabalho mais cedo, apesar do propósito de conquistar mais dinheiro para o futuro. E correu para telefonar para a família. A saudade era muito grande e queria, mesmo que mais cedo, desejar a todos um feliz Natal e garantir que este seria o último que estaria separado de todos.
Quando a vizinha atendeu o telefone e avisou que seus parentes não estavam, o desânimo bateu forte em seu coração. Quis chorar, mas sentiu que não tinha lágrimas naquele instante. Teve vontade de gritar, mas a voz saiu rouca e sem força. Quis correr para casa, mas sentiu as pernas enfraquecerem. Sentiu um suor frio escorrer pelo rosto e a vista embaralhar e teve medo. Imaginou que nem viveria o Natal que estava tão próximo. Sentou-se no banco da praça para refazer as forças e acabou caindo no sono. Quando acordou a noite já estava presente, mas não pensou em lágrimas, em gritos e muito menos em corrida. Queria apenas chegar em casa e comer alguma coisa para se recuperar do desgaste daquele dia.
Caminhou alguns passos, encontrou um outro orelhão e fez nova ligação, a cobrar, para a vizinha. A resposta foi a mesma da outra vez: ninguém em casa! Resolveu deixar a ligação para o dia seguinte, para a manhã de Natal, antes do almoço... Seria um bom horário para cumprimentar a todos, para ouvir vozes saudosas, para chorar junto com todos.
Na curva da esquina, lá embaixo, do outro lado dos barracos, onde costumava parar para olhar o local onde morava, sentiu as pernas tremerem. Havia luz em seu barraco e imaginou que tivesse saído cedo e esquecido de apagá-la. Pensou numa conta maior naquele mês e uma dificuldade muito grande de viajar depois. Quis correr, mas se sentiu frágil para isso. Sentiu as pernas tremerem. Não sabia se de medo ou de que?
Dois passos antes da porta percebeu que ela se abrir lentamente. O medo aumentou, pois imaginou um ladrão, mas sorriu ao pensar que este não passaria por um barraco vazio. Deu um passo à frente, esticou o braço e empurrou devagar a porta, para ver, lenta e suavemente... sua mulher e seus três filhos, já crescidos, ao redor de uma mesa, esperando por ele.
O batimento do coração acelerou, a voz se misturou com um soluço em lágrimas e seus braços voaram para os corpos pequenos e franzinos das pessoas que ele tanto amava. Não interessava saber como a família conseguira dinheiro para estar ali com ele. E soube que todos trabalharam forte aquele ano para conseguir mais dinheiro e todos passarem o Natal juntos. Lamentou sua falta de sorte em não ter conseguido ganhar o suficiente, mas percebeu que o dinheiro de todos serviu para unir a família de novo. E chorou com todos, lágrimas de uma promessa de nunca mais separar as pessoas que mais se amam.
E para que a separação se esta vida voa como o pássaro em busca de outro lugar para repousar? E a família comemorou o primeiro de muitos natais juntos. Natal de felicidade. Natal de nascimento de esperança de uma vida melhor. Juntos, e com Deus no coração!

2 comentários:

  1. E para que a separação se esta vida voa como o pássaro em busca de outro lugar para repousar?
    Nossa professor! Que bacana, hein!? História emocionante. Fez lembrar do caso do Steve Jobs, que ficou anos sem passar Natal e Ano Novo com a família. Ele ainda conseguiu dinheiro, mas, como a vida dele teve fim, não é? E o que valeu a pena? A contribuição à sociedade? É, é um ponto, mas e os valores das pessoas próximas, como será que ele avaliava e era avaliado? Bela reflexão para o final do ano!

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  2. Família é fundamental na vida de qualquer um

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