segunda-feira, 14 de maio de 2012

O caminhão da economia

O tempo passa depressa, mas tem coisa que não muda muito. Ainda hoje vemos caminhões ou peruas vendendo frutas e verduras na periferia da cidade, apesar do crescimento dos supermercados e da feira livre chegando a todas as regiões. Mas Vila Progresso, na década de 1950, tinha algumas coisas inesquecíveis: tinha o bananeiro, que passava duas vezes por semana, em sua carroça puxada por um obediente cavalo. E feira, na região, só acontecia nos domingos e haviam poucas mercearias por perto. Tinha também o peixeiro, seu Magatão, que passava sempre no final da manhã, mas que trabalhava com encomendas, já que o transporte dos peixes era feito numa sacola e não tinha muito jeito de conservar, simplesmente porque ele fazia seu trabalho numa bicicleta. Uma pequena balança servia para pesar o produto que era embalado num pedaço de jornal e lavado e limpo com cuidado em casa. Até hoje não se sabe porque, as crianças do bairro tinham medo deste homem sério e trabalhador que ganhava a vida vendendo peixes. Mas o que mais chamava a atenção da garotada e das donas de casa era o “Caminhão da economia”. Toda quinta-feira, por volta das dez horas da manhã, ele fazia a curva, descendo a rua Maestro Bovolenta e entrava na avenida São Paulo, passando defronte a minha casa e com o alto-falante a todo vapor e seu motorista cantando: “Dona Antonia vai chamar dona Maria... chegou, chegou o caminhão da economia...” Numa só frase, o sucesso estava garantido: donas de casa saiam com suas sacolas, rodeavam o motorista que descia rapidamente para atender a todas e, com seu sorriso banguelo nos lábios, ia pesando os tomates, contando as bananas para completar uma dúzia, separando os pés de alface. E a garotada rodeava o caminhão. Não com o desejo de ganhar alguma fruta, mas a vontade era esperar todas as mulheres receberem suas compras, pagarem as suas contas e o motorista entrar na cabine, ligar o microfone e esticá-lo para os garotos que se acotovelavam na porta para repetir a frase musical de maior sucesso no bairro em todas as décadas: “Dona Antonia vai chamar dona Maria... chegou, chegou o caminhão da economia...” E lá ia o homem que nunca tivemos a coragem de perguntar o nome, desaparecendo no final da rua, lá do lado da sede do Primavera, ainda em construção. Voltávamos para casa, repetindo a frase e rindo de alegria de ter “cantado” no microfone. E o desejo, agora, era esperar a semana passar rapidinho para novamente, na quinta-feira seguinte repetir a velha canção. Triste mesmo era quando o dia chegava ele não aparecia. Pior que isso, porém, era quando o horário de escola coincidia com a visita do “caminhão”. Aí não tinha jeito: era esperar as férias escolares para poder “saborear” a velha canção.

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