sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Calor!

O relógio marcava 18 horas e o sol já tinha se despedido. O inverno vivia seus melhores dias, com temperatura baixa e um vento que gelava até a alma. Tentou imaginar uma fórmula para que sua mão não ficasse congelada. O vento, se não gelava a alma, cortava os lábios. Nunca tinha sentido um frio tão forte como este. O movimento de pessoas era pequeno nas calçadas, mas as ruas estavam cheias de carros. Todo mundo dando jeito de não encarar o vento. Na primeira esquina que parou para tentar chegar ao ponto de ônibus do outro lado, se assustou: uma menina com não mais que 9 anos, levava pelas mãos seu irmão que tinha pouco mais do que a metade de sua idade. O susto não foi simplesmente por vê-los. O susto é que ambos estavam sem blusa indo não se sabe prá onde. Apesar do frio, sentiu seu corpo pegar fogo. Ficou sem ação com a imagem que via. O ônibus sinalizou lá na curva. O semáforo fechou para que os pedestres pudessem atravessar. Era a “deixa” para não perder a condução. Perdeu! Não sabe porque, mas tirou a jaqueta que usava e se antecipou às pessoas que caminhavam à sua frente, rindo não se sabe do que. “Menina!” se esforçou, gritando para ela. Parece que ela esperava isso de alguém! O menino tinha os lábios roxos de frio, seu corpo tremia todo. Jogou a jaqueta nas costas da menina que a estendeu para o irmão. Cada um, com uma mão, puxou as pontas,e abotoando o primeiro botão, reduzindo o frio. O menino sorriu, como que agradecendo. “Te devolvo amanhã”, disse a menina. O homem perdeu a fala. Sentiu que a jaqueta os aquecia e se afastaram. Se despediu da jaqueta, seguro de que ela os aqueceria durante todo o inverno. Ignorou a frase da menina. “Ainda bem que você tinha outra blusa”, disse sua mulher, já em casa, quando relatou a ela o que acontecera. Na manhã seguinte, ao abrir a porta, saindo para o trabalho, uma surpresa: no portão, a menina loira o esperava com a jaqueta na mão e uma blusa amassada aquecia seu corpo. O pequeno irmão também estava agasalhado. “Como achou minha casa”, perguntou surpreso, de posse, de novo de sua jaqueta. “Segui o calor de seu coração!”, completou a menina, subindo a avenida e seu irmão acenando, olhando para trás.

Um comentário:

  1. Lindo, pois o que vale é o calor do coração, te amo sua sempre Rita Zipo

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