sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O garoto

Quando o menino atravessou a rua e veio me oferecer balas de goma por R$ 1, e, por causa da minha pressa – ou desculpa? – disse a ele que tinha Diabetes e que não poderia fazer uso do produto. Ele reduziu o passo, foi ficando para trás, mas ao invés de acelerar, parei! Me votei para ele, mas o movimento intenso de pessoas, fez com que ele desaparecesse. Não sei se por encanto ou por desencanto, mas ele estava longe da visão dos meus olhos. Senti remorso por não ajudá-lo naquele instante. Quando a consciência pesou, o busquei com os olhos, mas não imaginava que o desaparecimento fosse tão rápido. Voltei até a esquina, procurando lentamente por ele. Senti o gosto da bala de goma amargando minha boca. Decidi retomar o caminho quando uma voz me deteve “tio!” Me voltei rapidamente e ali estava ele, me olhando e sorrindo. - Quantos anos você tem? - Cinco! - Você só tem bala de goma para vender? - Agora não tenho mais. Consegui vender todas. - Mas ainda é cedo, já parou por hoje? - Não tio, vou buscar mais. - E por que me chamou? - Ia pedir desculpas, não sabia que o senhor era doente. Não consegui continuar o diálogo. Senti um nó na garganta. - Tchau! – Disse ele sorrindo. Consegui encostar minha mão em suas costas. Ele parou, me olhou, tomei-o pela mão e o levei a uma padaria. Não perguntei o que ele queria. Seus olhos brilhavam. “Escolha”, disse eu e o vi se deliciar com lanches e doces. Paguei a conta e saímos para a rua. “Tio, preciso ir, vou comprar um lanche pra meu irmão mais velho que está na escola. Obrigado pela comida. Acho que estava com fome”. Seu corpo escapou de minhas mãos. Não tive nem como dizer que comprava para ele também. Já do outro lado da rua movimentada, ele me acenou. Se misturou na multidão e desapareceu, sem me dar chance de agradecer pelo bem que me fizera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário