sábado, 20 de abril de 2013

As primeiras mestras

Com certeza, frequentar sala de aula hoje é algo totalmente diferente do que nos finais dos anos 1950 e início de 1960. Meus primeiros professores foram no Grupo Escolar. Hoje existe Berçário, Jardim, já ouvi falar em pré-primário e aí vão outros títulos criados para significar nível de instrução. E nos anos que citei existiam o Grupo Escolar, o Ginásio, o Colégio e a Faculdade que Jundiaí não conhecia ainda. Saía do Colégio e o destino era frequentar a faculdade “de Campinas para lá” ou na Capital Paulista. Mas o Grupo Escolar Paulo Mendes Silva, as aulas aconteciam de segunda a sábado em três horários: das 8 às 11, das 11 às 14 e das 14 às 17 horas e não haviam classes mistas: eram Primeiro Ano Primário A, Masculino, o mesmo referente ao Feminino e assim por diante. Meninos e meninas só se encontravam na entrada da escola quando se formavam as filas ao toque da sineta ou na saída, quando as crianças se misturavam no pátio da escola ou na rua. E Paulo Mendes Silva, como disse aqui outro dia, era na rua General Carneiro, esquina com a Fernando Arens. E lá vinham as professoras: Primeiro Ano dona Benedita, segundo dona Odete, terceiro dona Gemma e quarto dona Priscila. Cada uma com sua característica, seu jeito especial de ensinar os alunos. Dona Benedita, por ser a primeira mestra de todos, era a mais paciente, menos exigente. Aquela que, se fosse preciso, sentava na carteira, colocava o aluno no colo, prá ensiná-lo a escrever corretamente. Se comparado com ela, dona Odete era o oposto: austera, rigorosa, que não permitia erros dos alunos e muito menos conversas em sala de aula. Mas sempre que possível, deixava a classe, colocava um aluno para marcar no quadro negro o nome dos conversadores e depois exigir de todos, silêncio na sala de aula. Dona Gemma era também especial, doce no jeito de ensinar e amiga de todos. Por ser sua classe fora do prédio da rua General Carneiro, mas numa sala na rua Moreira Cesar, imagino que se preocupasse mais em dar mais assistência aos alunos que sentiam isolados dos quase mil colegas que estavam a um quarteirão acima. Dona Priscila era uma dona Odete em tamanho menor. Pequena, mas brava como a outra e trabalhando com a mesma energia. Por serem alunos do quarto ano, sua exigência era ainda maior. Me lembro que à quartas-feiras havia aula de religião, na meia hora final. Quem não era católico deixava a sala e já podia ir para casa, mas os católicos eram obrigados a acompanhar a aula que era dada pelas próprias professoras. Como dona Priscila não era católica, se não viesse uma catequista, ela mesma continuava com a aula normal que vinha dando, geografia, história, matemática ou português. Numa quarta-feira, apareceu o padre Alberto, pároco da Vila Arens. Entrou na sala e só depois percebeu que a aula não era de religião. Dona Priscila deixou a classe e o padre continuou suas explicações religiosas. No dia seguinte, dona Priscila pediu desculpas aos alunos e sugeriu que quando não houvesse catequista, cada aluno falaria um pouco sobre religião. Foi difícil, mas os alunos gostaram da ideia. Bravas, rigorosas, brincalhonas, doces, sensíveis. Era assim que as professoras passavam conhecimento aos mais de 40 alunos da classe.

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