segunda-feira, 5 de maio de 2014

As pescarias noturnas de Marlon (No meu tempo de criança XXXI)

Era divertido pescar. Pelo menos era isso que Marlon achava, apesar de ser um pretexto para ficar próximo ao rio e à natureza. Além, claro, de atirar pedras n’água. Tudo começou em um camping, onde seus pais os levava para passear nos finais de semana. Com eles, passeavam sempre um casal de tios que por sinal se misturam bem entre as historias. O Camping era o “El Sombrero” em Bragança Paulista. Os acampamentos da família começaram com a barraca Capri para 5 pessoas com avancê de estilo canadense. Depois, evoluiu para uma carreta barraca que era mais prática. Anos mais tarde, foi a conquista de possuir um pequeno lote para construir um chalé de alvenaria. Marlon lembra ainda hoje das tardes investidas para montar os inúmeros encaixes das armações. Esticar a lona, observar o melhor local pensando no escoamento da água, caso chovesse. Incidência do sol. Próximo ao vestiário porque naquela época naturalmente eles eram coletivos. O Camping era perfeito: piscina, campo de futebol, espaço para correr e brincar descalço de pega-pega ou esconde-esconde, parquinho trivial: balança, gira-gira, macaco. Mas havia uma atividade que particularmente atraiu Marlon: pescar. Junto com o tio saia à tardinha para encontrar um local e montar as tralhas para permanecer pescando até cansar. E as tralhas eram formadas por minhocas, miúdos de frango, varas, lampião de carboreto, banquinhos e alimentação, formada principalmente por frutas, pão, frios e água. E o carboreto do lampião tinha um sentido especial: Segundo seu tio e seu avô, o cheiro do carboreto espantava os bichos e Marlon acreditava que isso significava proteção. E era ali, ao seu lado, em meio à expectativa de um peixe ser fisgado, num cenário onde só se conseguia enxergar os contornos das árvores e o brilho da lua refletindo rio Jaguari, ele ouve um barulho alto de algo caindo sobre as águas. O que poderia ser? Procura o lampião que estava apagado, o fósforo sumira e a busca da lanterna que seu tio achava desnecessária! Ele nascera em Ipeúna, interior de São Paulo e adaptado ao espaço rural, enquanto Marlon vivia acostumado à luz artificial. Afinal, a vida é um querer ver coisas, enxergar tudo, ter a certeza do que existe. Talvez os olhos verdes claros do tio substituíssem qualquer lanterna. A busca por uma luz lhe pareceu uma eternidade, mas já com a lanterna na mão, clareou o rio, ainda com mais medo. Enfim, a descoberta, muitas vezes é mais assustadora do que qualquer coisa, pois o ser humano é criado a uma falsa segurança. E o barulho instigante e que proporciona pânico foi embora da mesma forma que surgiu. Ao iluminar o rio, o pequeno Marlon percebeu as águas calmas do rio descendo suavemente. Sua mente imaginou uma capivara, uma cobra, um animal terrestre qualquer, pois o barulho lhe pareceu um mergulho. Estranho tudo isso! Mas ali estavam as águas calmas do rio Jaguari. Tempo bom, enquanto existiu! Tempo bom mesmo agora como flashes de memórias. Para ele, o que é mais maravilhoso é lembrar-se de sua ingenuidade e alegria. (Uma história de Marlon Beisiegel. Texto: Nelson Manzatto)

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