sábado, 13 de setembro de 2014

Meu pai era assim...

Alto, forte, cabelos pretos a vida toda, sem nunca ter usado produtos para manter a cor, olhos verdes, um sorriso constante nos lábios. Era difícil ouvir sua voz. Suas broncas ocorriam apenas com um olhar. Sabíamos o que meu pai dizia ou queria com um olhar apenas. Era assim quando jogávamos bola no quinta e era hora do banho. Ele saia na porta da cozinha, olhava para todos os filhos e entrava. Não precisava falar, o jogo acabava e formava-se fila para o banho. Até porque, ele esperava todos tomarem banho para depois ser sua vez. Em dias de jogo do Palmeiras, time do coração seu e que transferiu como herança aos filhos, não precisávamos ouvir o jogo. Ele fazia isso por todos. Sentado ao lado do rádio que funcionava com válvulas, acompanhava o jogo. Chegávamos à porta da cozinha para saber o resultado e isso a gente via no seu olhar. Se havia um sorriso, era certeza de que o Palmeiras ganhava, mas se estava com olhar “amarrado”, a derrota era certa! Era preciso coragem para perguntar o resultado se a reação dele era a segunda. Ele resmungava, a gente não entendia e nem insistia na pergunta, porque ali não haveria resposta... Era assim o domingo de jogo. Suas atitudes eram transferidas para os filhos, ríamos, brincávamos, mas até a forma de ouvir uma partida de futebol, a gente acabou herdando. Mas – e como em tudo há sempre um mas – jamais ouvi meu pai dizer um palavrão ou “nome feio” como a gente aprendera na época! Como disse, era difícil ouvir sua voz, mas se ele xingava, o fazia baixinho, para não ser ouvido. Mas o que ele murmurava, muita vezes, a gente conseguia entender: “Bola murcha” ou “Quinta coluna!” eram os “nomes feios” preferidos dele. Como se isso fosse nome feio! A gente não entendia muito o significado, mas sabíamos que o primeiro ele dizia quando o Palmeiras perdia e o “elogio” era para os jogadores. O segundo, a gente imaginava que fosse para políticos, mas nunca chegamos a perguntar o significado. Era bom vê-lo nas manhãs de domingo antes de sairmos para a missa. Ele colocava a mão no bolso e apanhava algumas notas de cruzeiro e distribuía aos filhos, na quantidade igual para cada um, não importando quem fosse mais velho. E sorria ao ver os filhos agradecerem, colocarem o dinheiro no bolso e ver todos saindo rumo à igreja e dizerem, um de cada vez, “Bença mãe, bença pai!”, exatamente deste jeito. Ele sorria apenas e todos ouvíamos apenas nossa mãe dizer “Deus te abençoe!” Olhávamos um para o outro e saíamos na certeza de que dentro de seu coração, ele havia feito eco às palavras de minha mãe!

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