Conheci Aldo Cipolato em 1970. Tinha feito exame de seleção
com outros dois candidatos a uma vaga no escritório da Ferráspari, na Vila
Arens e fui aprovado! Assim, fui encaminhado a ele, que era chefe do setor,
para me passar os documentos necessários para registro e início de trabalho.
Trocamos duas palavras e marcamos o dia seguinte para entrega dos documentos e
detalhamento do trabalho. Mas no mesmo dia recebi convite para trabalhar como
revisor no Jornal da Cidade. Me senti tentado a ir para o jornal e, no outro
dia, me desculpei com ele pela mudança de trabalho. Me olhou, convidou a
sentar, perguntou minha idade e completou: “trabalhar em jornal é desgastante,
já fiz muito isso, mas é uma profissão sensacional. Sou jornalista e, imagino,
terá mais sucesso do que ficar aqui, datilografando cartas”, profetizou ele.
Pouco mais de um ano depois voltei a vê-lo. Tinha crescido
no trabalho, já era repórter e diagramador e ele apareceu na redação,
principalmente porque viu uma reportagem assinada por mim. Mas não veio só me
abraçar. Queria falar, cumprimentar, contar histórias de redação e me deixou um
texto seu. “Publique se achar interessante.” No dia seguinte estava na página 4
do Jornal da Cidade e às 8 horas em ponto o telefone toca na minha mesa e era
ele agradecendo. O fato se tornou corriqueiro. Ele vinha, sorria,
cumprimentava, perguntava sobre o jornal, sugeria uma pauta e entregava um
envelope. “Publique se achar interessante”, repetia ele. E a ligação também se
repetia no outro dia.
Cabelos brancos, voz forte e pausada, Cipolato não cansava
de me convidar para visitá-lo em sua casa, na rua Moreira César, Vila Arens.
Conversamos duas vezes no portão da mesma. A primeira, ele estava saindo, com
pressa. Me convidou para entrar, mas achei melhor não atrapalhar seu
compromisso. Trocamos duas palavras sobre os artigos. Na segunda vez, estava no
carro de reportagem, indo fazer matéria e ele estava chegando em sua casa. O
motorista parou, a pedido meu, o chamei de dentro do carro, cumprimentamos e
seguimos nossa rotina do dia.
O tempo, o destino, as situações nos afastam. Me mudei para
Campinas em 1980 e só voltei a Jundiaí em 1994. Não revi Cipolato, apesar de
saber que continuava morando na mesma casa. O dia a dia acaba tirando
oportunidades de encontrarmos pessoas e, quando entrei na Academia Jundiaiense
de Letras e vi a lista dos integrantes da mesma, me lembrei dele, pois fazia
parte da mesma. Mas não chegamos a nos ver. Ele não participava das reuniões
nesta época, estava adoentado e faleceu pouco tempo depois.
Agora, ao procurar seu nome nas coletâneas da Academia duas
coincidências: minha primeira participação foi a última dele. A segunda é que,
se vivo estivesse, neste dia 24 de maio faria cem anos. Mas o destino o tirou
de nossa presença. Ficaram os artigos, as lembranças e a casa na rua Moreira
César, hoje, não existe mais...
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