quarta-feira, 13 de maio de 2015

PERSONAGENS (10) Os artigos de Aldo Cipolato

Conheci Aldo Cipolato em 1970. Tinha feito exame de seleção com outros dois candidatos a uma vaga no escritório da Ferráspari, na Vila Arens e fui aprovado! Assim, fui encaminhado a ele, que era chefe do setor, para me passar os documentos necessários para registro e início de trabalho. Trocamos duas palavras e marcamos o dia seguinte para entrega dos documentos e detalhamento do trabalho. Mas no mesmo dia recebi convite para trabalhar como revisor no Jornal da Cidade. Me senti tentado a ir para o jornal e, no outro dia, me desculpei com ele pela mudança de trabalho. Me olhou, convidou a sentar, perguntou minha idade e completou: “trabalhar em jornal é desgastante, já fiz muito isso, mas é uma profissão sensacional. Sou jornalista e, imagino, terá mais sucesso do que ficar aqui, datilografando cartas”, profetizou ele.
Pouco mais de um ano depois voltei a vê-lo. Tinha crescido no trabalho, já era repórter e diagramador e ele apareceu na redação, principalmente porque viu uma reportagem assinada por mim. Mas não veio só me abraçar. Queria falar, cumprimentar, contar histórias de redação e me deixou um texto seu. “Publique se achar interessante.” No dia seguinte estava na página 4 do Jornal da Cidade e às 8 horas em ponto o telefone toca na minha mesa e era ele agradecendo. O fato se tornou corriqueiro. Ele vinha, sorria, cumprimentava, perguntava sobre o jornal, sugeria uma pauta e entregava um envelope. “Publique se achar interessante”, repetia ele. E a ligação também se repetia no outro dia.
Cabelos brancos, voz forte e pausada, Cipolato não cansava de me convidar para visitá-lo em sua casa, na rua Moreira César, Vila Arens. Conversamos duas vezes no portão da mesma. A primeira, ele estava saindo, com pressa. Me convidou para entrar, mas achei melhor não atrapalhar seu compromisso. Trocamos duas palavras sobre os artigos. Na segunda vez, estava no carro de reportagem, indo fazer matéria e ele estava chegando em sua casa. O motorista parou, a pedido meu, o chamei de dentro do carro, cumprimentamos e seguimos nossa rotina do dia.
O tempo, o destino, as situações nos afastam. Me mudei para Campinas em 1980 e só voltei a Jundiaí em 1994. Não revi Cipolato, apesar de saber que continuava morando na mesma casa. O dia a dia acaba tirando oportunidades de encontrarmos pessoas e, quando entrei na Academia Jundiaiense de Letras e vi a lista dos integrantes da mesma, me lembrei dele, pois fazia parte da mesma. Mas não chegamos a nos ver. Ele não participava das reuniões nesta época, estava adoentado e faleceu pouco tempo depois.

Agora, ao procurar seu nome nas coletâneas da Academia duas coincidências: minha primeira participação foi a última dele. A segunda é que, se vivo estivesse, neste dia 24 de maio faria cem anos. Mas o destino o tirou de nossa presença. Ficaram os artigos, as lembranças e a casa na rua Moreira César,  hoje, não existe mais...

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